As Escolhas e Consequências de Calabar
Por: Thayan Correia • 24/1/2019 • Artigo • 1.919 Palavras (8 Páginas) • 149 Visualizações
NEM TRAIDOR, NEM HERÓI!
As escolhas e consequências de Calabar
Thayan Correia da Silva[1]
RESUMO: Traidor ou herói? Essa incógnita presente na história de Domingos Fernandes Calabar, tal questionamento que tem se alastrado por muito tempo é o foco desta pesquisa, elabora para a disciplina de História de Alagoas, no curso de ciências sociais no ICS da UFAL. Assim, conceitos da história e da memória amparam a pesquisa bibliográfica. Abordaremos uma temática específica a partir dos relatos presente no documentário “Calabar (2007) - História de Alagoas” e do texto “"POR QUE, CALABAR?" O motivo da traição” (Schalkijk), para analisarmos as imagens e a memórias produzidas.
Palavras-Chave: Alagoas, Invasão, Holandeses, Conflito, Traição.
Por muito tempo se pensou em uma história de grandes personagens e a instituição de heróis, uma “História social de elites” (HEINZ, 2011), fixada em personagens e atos excepcionais. Além dos heróis criados, existe também os vilões e traidores. Nosso personagem Calabar está inserido nesse pensamento de construção de uma imagem heroica e traidora ao mesmo tempo. Mas será que ele foi um traidor, ou foi um herói? Discutiremos isso aqui.
CONTEXTUALIZANDO: situação histórica
Calabar viveu no início do século XVII. Durante esse período o Brasil estava sob o domínio espanhol, com a União Ibérica (1580-1640). Tal situação se deu em detrimento da morte do rei de Portugal, Dom Sebastião, em 1578, que faleceu sem deixar herdeiros. Sendo seu tio-avô, o cardeal Dom Henrique, o último rei da dinastia de Avis, e esse governou por apenas dois anos, faleceu em 1580.
Apoiado por D. Manuel I, Duque de Alba, Felipe II da Espanha, neto de D. Manuel, aspirava o trono de Portugal e ao derrotar as forças de Prior do Crato, outro pretendente ao trono, que tinha apoio de grande parte dos portugueses, sua reivindicação foi aceita pelos nobres portugueses, mas com algumas condições, como o respeito aos costumes portugueses e a manutenção de funcionários portugueses na administração de Portugal e de seus domínios ultramarinos.
Tornando o império espanhol um dos maiores já vistos, mas administrar tanto território não foi uma questão fácil. Tal situação fez com que as colônias portuguesas se tornassem alvos dos inimigos espanhóis. Ataques por partes dos ingleses e franceses e holandeses ao Brasil foram intensificados.
Em 1612, os franceses, através do Daniel de La Touche, fundão a cidadela de São Luís, na tentativa de conquistar parte do território americano para criar a França Equinocial, e participar da crescente economia açucareira. Mas isso não durou muito pois em 1615 foram expulsos por forças portuguesas e espanholas, e o Forte de São Luís deu origem a São Luís do Maranhão.
Em 1621, os holandeses fundaram a Companhia das Índias Ocidentais, uma empresa de capital misto (público e privado), que visava principalmente a exploração comercial da América, e dão início a invasão ao território brasileiro, mais especificamente o Nordeste. De 1624 a 1630 houveram algumas tentativas de tomada de controles de cidades importantes como Salvador, onde houve sucesso, mas por um curto período de um ano, e em 1630, uma nova investida fez com que os holandeses assumissem o controle do litoral de Pernambuco, e depois grande parte do Nordeste, durando até 1654, 14 anos depois do fim da União Ibérica, ocorrido em 1º de dezembro de 1640, quando os portugueses romperam com o domínio espanhol e aclamaram o Duque de Bragança, D. João IV, como sendo o novo rei de Portugal.
Durante os anos de 1637 e 1644, Pernambuco foi governado por Maurício de Nassau, que restabeleceu a produção açucareira, promoveu o desenvolvimento urbano e permitiu a liberdade política e religiosa, o que fez com que muitas pessoas os apoiassem como no caso dos judeus, perseguidos pela inquisição católica.
Durante o período da dominação holandesa, a época mais prospera foi durante o governo de Nassau, que procurou estabelecer uma boa administração e um bom relacionamento com os senhores de engenho da região, oferecendo aos proprietários de engenho recursos financeiros, para serem utilizados na compra de escravos e de maquinário. Além disso criou as Câmaras dos Escabinos, órgãos de representação municipal, que permitiu a participação política da população nas decisões de interesse local.
Mas com o fim da União Ibérica em 1640; o novo rei português, queria recuperar o território brasileiro que estava sob domínio holandês, e em 1644 com a saída de Nassau do governo, e as novas medidas impopulares adotadas pela Holanda, como o aumento de impostos, fez com que os aliados, principalmente os senhores de engenhos ficassem descontentes.
Tal descontentamento fez com que houvesse várias insurgências populares, travando assim batalhas para retomada do poder e a expulsão dos holandeses, batalhas como as dos Guararapes e Campina de Taborda. Em 1645 teve início a chamada Insurreição Pernambucana, uma rebelião popular liderada pelo paraibano André Vidal de Negreiros, pelo senhor de engenho João Fernandes Vieira, pelo índio Felipe Camarão e pelo negro Henrique Dias. Em 1654 os holandeses são expulsos do Brasil, após muitas batalhas, sendo assinado o Tratado de Taborda, em Recife, onde o pagamento de uma indenização aos holandeses asseguraria o fim à ocupação.
VOLTANDO AO FOCO: quem era e onde estava Calabar?
Domingos Fernandes Calabar, era um típico brasileiro, mestiço, filho de pai português e de mãe indígena, com formação religiosa, através de padres jesuítas. Pouco se sabe a respeito desse personagem, sua data de nascimento é uma incógnita, alguns relatos dizem que ele nasceu em 1600, em uma família humilde na cidade de Porto Calvo, na então Capitania de Pernambuco, área que hoje corresponde ao atual estado de Alagoas.
Apesar de suas origens, trilhou seu caminho até virar senhor de engenho, atribui-se tal feito a ganhos conquistados através de contrabando e falcatruas. Mas não se sabe ao certo se de fato ele era contrabandista, tal consideração se deu em detrimento dos relatos do frei Manuel Calado do Salvador, vigário da paróquia de Porto Calvo, confessor de Calabar antes da sua execução.
[...] Calado afirmou que Calabar era um contrabandista, que inclusive teria cometido grandes furtos e vários crimes atrozes na paróquia de Porto Calvo e, temendo a justiça, fugiu com Bárbara para o campo do inimigo. As Memórias de Duarte Coelho, escritas em 1654, acompanham Calado nessa opinião. Vários historiadores, como Varnhagen e outros, mantêm esse veredito. Mas o cônego Pinheiro lembra que “os mais graves cronistas como Brito Freyre (1675), e frei José da Santa Teresa (1698), não falam nesses crimes atrozes atribuídos pelo Valeroso Lucideno e seu Castrioto Lusitano compilador.” Quanto às Memórias do donatário Duarte de Albuquerque Coelho, temos de observar que o autor (cujo irmão Matias, cognominado o “terríbil,” era o general da resistência portuguesa), escrevendo sobre a traição de 1632, não mencionou motivo algum, somente se admirou de que um homem tão corajoso, que ficou ferido duas vezes na defesa da sua terra, não sentisse ódio dos invasores. (SCHALKWIJK, 2000, p.4)
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