Boris Fausto
Por: Raíssa Barreto • 3/8/2016 • Resenha • 1.496 Palavras (6 Páginas) • 642 Visualizações
Aluna: Raíssa Barreto dos Santos
Neste capítulo, Boris Fausto, doutor pela Universidade de São Paulo e pesquisar sênior na mesma, traz à luz, com êxito e de forma sucinta, o processo revolucionário de 1930. O autor evidencia os atores sociais, resume o contexto histórico da Primeira República a um setor agrário exportador, à falta de oposições de afronta entre classes e a dominação política do eixo Minas - São Paulo, questionando as circunstâncias em que se deu esse processo
No início do texto é discorrido o organismo social envolto durante a República Velha – a classe burguesa cafeeira –, o qual há o predomínio do setor agrário-exportador que devido a política de valorização entre as classes dominantes, governo e grupos financeiros, sujeitou a economia do produto ao capital externo. Contudo, essa dependência do capital externo tomaria novos rumos com a crise econômica de 1929.
No plano industrial, se tem um parque industrial fraco nos moldes da integração econômica nacional, que devido a economia cafeicultora e legitimação do Estado a ela, tinha uma produção descontinua e não regular. É relevante apontar que os interesses dos cafeicultores e industriais eram dissidentes. Essa dissidência, não produz uma oposição dos industriais contra os cafeicultores. Na realidade, o cenário da imparcialidade de investimento e apoio do Estado a industrialização e economia nacional, impedem a formação de uma classe burguesa industrial e de um programa político e econômico específico a essa classe, e que segundo o autor: a rigor, existiam atividades industriais, porém não se pode falar na existência de uma burguesia industrial (pp 232).
Nesse contexto, nasce a Aliança Liberal, que surge como uma oposição ao sistema político e econômico vigente. Sua composição é de grupos desvinculados dos interesses da burguesia cafeeira. A Aliança Liberal, não é um partido político, é mais um instrumento de pressão a ordem vigente e tem como foco principal do seu programa a reforma política. Ela representa o meio para se romper a política café com leite e é creditada desde a burguesia industrial até a classe assalariada. Contudo, o autor ressalta que ela não é um programa de oposições de classe e que carrega na sua essência uma acomodação e controle pelas oligarquias que controlavam o poder regional, como, por exemplo, a candidatura de Vargas dentro do acordo político da Aliança foi o maior instrumento de pressão ao governo.
Dentre os atores sociais que participaram do processo da Revolução de 1930 está o movimento tenentistas que tem uma característica imprecisa de caracterização como classe média. Essa interpretação de classe média do movimento tenentista vem sendo combatida, e dessa forma, Boris analisa a atuação do tenentismo como movimento de classe média e sua importância no processo revolucionário.
A Aliança Liberal, após a derrota nas urnas, se ergue nas vias revolucionárias após o assassinato de João Pessoa. É de ressalva que a oligarquia cafeeira descontente com a política econômica de Washington Luís, acabou se aliando aos setores oligárquicos oposicionistas e aos tenentes em torno da Aliança Liberal, união está que desembocaria na Revolução de 1930.
É importante ponderar as causas da revolução que, segundo o texto, é comentada como a dependência externa, a crise de 1929, disputa de grupos internacionais pelo controle da América Latina e a composição da insatisfação das classes marginalizadas política e economicamente.
Saliento sucintamente, a questão problemática do papel desempenhado pela classe operária. Segundo o autor, a classe operária aparece mais como um problema do que um personagem. É de certo que sim, pois a Revolução que girou em torno da Aliança Liberal, foi liderada pela burguesia e oligarquias, grupos dominantes do cenário político e econômico brasileiro e que no momento de aplicar as ideias do programa de governo, a classe operária se chocava com a classe burguesa e seus interesses permanentes. Entretanto, é apontado no texto que havia uma simpatia da classe operária com os revolucionários. Quanto a isso, também é de se crer que sim, pois a Revolução de 1930 era a alternativa de quebra do modelo oligárquico do eixo Minas – São Paulo e que no seu projeto político tinha como demanda a reforma política, o que compreensivelmente atrai a massa operária e reverbera um sentindo de esperança.
A aliança entre burgueses desvinculados do café, classe média e tenentes, refletem o atraso político do país. Não havia partido político forte que representasse os interesses da Aliança Liberal, muito menos havia condições de alinhar a voz e reivindicações das diferentes classes sociais que encontravam “abrigo” no seu programa político.
Após a posse de Vargas, iniciou-se disputas entre o tenentismo e os grupos políticos tradicionais para preencher os principais cargos políticos. Os tenentes ganharam as disputas, ocupando os cargos de interventores estaduais. A noção do contexto histórico de todo desenrolar desse processo, nos permite prever que as oligarquias não aceitariam o domínio tenentista. O caso mais radical se deu em São Paulo, onde foi exigido um interventor civil e paulista. São Paulo se rebelou, recebeu apoio de outros estados, mas o governo suprimiu o movimento. A vitória sobre São Paulo marca a eminência do tenentismo e em seguida o seu declínio.
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