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CORBIN, Alain. O indivíduo e sua marca relatório

Por:   •  11/11/2019  •  Resenha  •  1.114 Palavras (5 Páginas)  •  189 Visualizações

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O processo de individualização é um fenômeno presente no decorrer do século XIX. As mudanças em relação ao prenome que passa a ter extrema valorização ao que costumava, unido a diversos outros fatores, engendra a suave saída do coletivo para o pessoal. O aumento da alfabetização e da escolaridade também são fatores chave. Por exemplo, o constante aumento de pessoas capazes de assinar suas próprias certidões de casamento, bem como a inscrição de seus nomes em cadernos, enxovais e diversos outros objetos – incluindo itens da natureza, como pedras e árvores, demonstram a intensa transição que a sociedade de então está passando. Neste sentido, a urbanização dos grandes centros cumpre papel fundamental, coletivizando novas atitudes, como o uso de apelidos no meio artístico e boêmio, passa a abrir caminhos consideráveis naquilo que antes era impensado.

Outros fatores além dos tratamentos pessoais pelo prenome ou a capacidade de registrar a própria identidade com uma assinatura são somados na equação. Durante a segunda metade do século, ocorre um intenso aumento na expedição de cartões-postais, figurando a acumulação de símbolos do eu e sinais de possessão individual, ampliando o contato com a parentela e estimulando a coleção de lembranças pessoais. A agenda também se torna um item mais procurado, resultado também da crescente alfabetização já citada. A partir de então, inclusive, os animais domésticos passam a ter seus próprios nomes. O espelho, item encontrado exclusivamente em barbearias, voltadas somente ao público masculino, passam a ter maior acesso ao público amplo. É claro que haviam as superstições acerca dos objetos, como não poder olhar-se após alguém morrer, ou não olhar o corpo inteiro, mas somente o rosto. Por muito tempo, inclusive, mulheres eram proibidas pelo código de boas maneiras de se olharem no espelho nuas. A própria inserção deste item no meio social, bem

como seu uso mais cotidiano implicará numa sociedade que tem maior admiração pelo belo.

Outro item de ascensão após o Antigo Regime, apesar de já existente em classes aristocráticas e da alta burguesia é, definitivamente, o retrato. O item não só demonstra a popularização da possibilidade de ter si mesmo exposto a todo momento, mas se difunde num grande mercado. O espelho e o retrato são fenômenos que dão fôlego para o narcisismo neste período do final do século XIX. Mas o processo fotográfico foi veloz. Em poucos anos, se vendia fotografias em formato cartão (6 cm x 9 cm) por baixíssimos preços nas ruas. As pessoas então tornaram sua imagem individual ainda mais difundida, bem como houve a criação de álbuns familiares, os quais mudaram completamente as relações que se tinham com aquele que já se foi. Ver a foto de um ente querido já falecido, gerava novos processos psicológicos de perda, lembrança e ao mesmo tempo, de constante proximidade. Ainda unida a fotografia e a morte, surgem as primeiras lápides com dizeres e escritas aos que se foram.

Antes de tantas mudanças, a possibilidade de alguém se passar por outro – e de a polícia poder averiguar – era tarefa muito delicada. Bastasse saber seu nome e local de nascimento, apesar da difusão das fotografias, estas ainda são registros muito pessoais, tornando a possibilidade do engano latente. Para tentar identificar criminosos e reincidentes, eram utilizadas descrições físicas, incluindo objetos de uso, roupas, calçado e marcas. As dificuldades vão prevalecer até o fim do século, quando a grande ascensão fotográfica gerará para a polícia uma série de dados para serem utilizados no reconhecimento de criminosos. Após 1882, com a utilização do processo antropométrico, ou seja, que estuda as diversas dimensões das partes do corpo humano, se concluiu que com 5 ou 6 medidas do corpo de alguém, seria possível confirmar sua identidade. Este processo, unido às impressões digitais, uniram-se numa espécie de cartão antropométrico, não somente utilizado por criminosos, mas a partir de 1912, também obrigatório em algumas regiões para nômades e itinerantes.

Os conceitos em relação ao corpo humano também passam por uma série de mudanças, a medida que a

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