DESMISTIFICAÇÃO DA CONVERSÃO RELIGIOSA AO ISLÃ FORÇADA NOS PRIMEIROS SÉCULOS DA HÉGIRA
Por: Matheus Silva • 22/9/2018 • Artigo • 2.457 Palavras (10 Páginas) • 168 Visualizações
DESMISTIFICAÇÃO DA CONVERSÃO RELIGIOSA AO ISLÃ FORÇADA NOS PRIMEIROS SÉCULOS DA HÉGIRA
Matheus Vinícius Silva Campos[1]
Leicy Francisca da Silva²
UEG - Universidade Estadual de Goiás
Resumo
Em tratar-se do assunto da Expansão Religiosa do Islã devemos primeiramente desassociar a imagem do guerreiro árabe de espada em punho como se este fosse um missionário. Ao longo deste artigo será feita uma análise de como se deu a expansão da religião islâmica nos primeiros séculos da hégira sem o uso da força bruta que tanto perdura no imaginário popular.
Palavras-chave: Expansão; Islamismo; Hégira.
Abstract
In dealing with the subject of the Religious Expansion of Islam we must first disassociate the image of the Arab warrior from sword to hand as if he were a missionary. Throughout this article will be made an analysis of how the expansion of the Islamic Religion occurred in the first centuries of the Hegira without the use of the brute force that so much endures in the popular imaginary.
Keywords: Expansion; Islam; Hegira.
Introdução
Existe uma interpretação sobre a expansão da religião islâmica que a liga erroneamente com as conquistas árabes. As guerras árabes se davam por dominação territorial e controle político de determinada região, a conversão acontecia consequentemente. À espelho das demais religiões de cunho missionário o islã exigia de seus fiéis a pregação de suas doutrinas para a conversão dos “não-fiéis”, mas existe dentro da própria ideologia islâmica a cláusula que opõe-se a conversão forçada. Em História Geral da África – Vol. III, Mohammed El Fasi e Ivan Hrbek enfatizam que, por mais que a política teórica do Islã exija que sejam os muçulmanos a exercerem o poder de uma determinada região, ela não impõe aos sujeitos de um Estado muçulmano a conversão à religião islâmica.
Ao longo desse artigo será possível ver uma análise de como se deu a islamização de territórios africanos conquistados pelos árabes nos primeiros séculos da Hégira, que tinha como intuito a expansão da política árabe. Reprimidos pela força de seu exército e encantados com a cultura, os povos conquistados, em sua maioria, buscavam adentrar-se nessa nova sociedade advinda do oriente, sendo assim, colocavam-se dispostos a deixar para trás outras religiões e aderirem ao islã.
1 – As intenções da política árabe e o sucesso das conquistas numa visão não religiosa
A cultura árabe construída ao lado da religião islâmica tem Meca como sua capital, sendo esta uma importante rota comercial que possibilitou e facilitou o enriquecimento desse povo. Os sucessores de Maomé, embora não chegassem a um acordo completo da divisão de poderes, partem para a missão de um expansionismo contínuo.
Embora embasados pelo Corão e a ideologia de dominação política do Islã, não existia nos conquistadores árabes a obsessão da conversão mútua de seus conquistados. As conquistas não foram motivadas por cunhos religiosos, tampouco sustentados pela conversão dos povos dominados. Segundo a tese defendida por Suellen Borges de Lannes, fatores decisivos em conjunto como o econômico, social, políticos e militar influenciaram diretamente para o sucesso da expansão islâmica. Desse pretexto, vale atentar-se para a ausência dos fatores religiosos que não determinaram diretamente para o sucesso do expansionismo.
2 – O processo de islamização na África do Norte
Desde o século inicial da Hégira os islâmicos propõem-se a espalhar sua política para seus vizinhos africanos. Aproveitando-se de um momento de crise entre as religiões cristãs e a perca de força da dominação romana no Egito e Magreb, os muçulmanos tomam frente de batalha e partem em busca de dominar esses territórios.
2.1 – A islamização no Egito
Os conquistadores islâmicos encontraram no Egito uma situação favorável para a conquista e consequentemente a conversão:
O Egito – então província bizantina – foi a primeira região da África invadida pelos árabes. A conquista foi rápida, pois as guarnições bizantinas eram pouco numerosas e a população copta não opôs nenhuma resistência, apresentando ao contrário uma boa acolhida àqueles que vinham libertá-la do julgo bizantino. Com feito, além da taxação muito pesada e de outras formas de exploração às quais eles estavam submetidos, os coptas eram perseguidos pela igreja ortodoxa oficial bizantina em razão do seu monofisismo. Estas perseguições agravaram-se, às vésperas da conquista árabe, com medidas repressivas dirigidas contra a cultura e o clero coptas.
(EL FASI, Mohammed, 2010; p. 73)
Nesse cenário, aos montes são os coptas que deixam sua religião e procuram se converter ao islamismo, encantados com a mensagem simples e clara da religião, muito diferente da complexidade das discussões levantadas pelos ortodoxos. A conversão em massa se sucedeu ainda por vários séculos seguintes e podem-se citar muitos fatores influentes: “A islamização do Egito é, portanto um processo assaz complexo no qual intervieram numerosos fatores: conversões religiosas sinceras, busca de vantagens ficais e sociais, temor de perseguições, decadência da Igreja Copta, imigrações muçulmanas.” (EL FASI, Mohammed, 2010; p. 74).
2.2 – A islamização no Magreb
O cenário favorável para a conquista tanto territorial, quanto em religião encontrada no Egito não se repete na região do Magreb, sendo que esta oferece resistência em ambos os sentidos. Mais consolidados que os egípcios na religião cristã, os habitantes romanizados da região não se atentaram muito em trocar suas crenças, ao passo que os berberes do interior já relutavam em aceitar tal cristianismo e também não encontraram muito conforto na dominação islâmica:
O cristianismo era pouco difundido junto aos berberes. Somente os habitantes da faixa litorânea, aqueles chamados pelos árabes al-afarika, conservaram esta religião. Os afarika eram um povo marginal, composto de uma mistura de berberes e cartagineses romanizados, de romanos e gregos. Comparados aos poderosos grupos berberes do interior do país, eles não formavam senão uma pequena minoria. (MONÈS, Hussain; 2010; p. 273)
Porém, mesmo com tais dificuldades e resistência por parte dos povos berberes e os cristões romanizados não houve uma obrigação da conversão por meio da força bruta:
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