Fichamento de História Contemporização
Por: Guilherme Lopes • 30/3/2015 • Trabalho acadêmico • 1.888 Palavras (8 Páginas) • 345 Visualizações
Fichamento de História Medieval
DEUS
A noção que se resume toda a concepção de mundo dos homens da idade média, é a de Deus. Ele é considerado o todo-poderoso, o onipresente. Para o historiador, Deus é produto da história de uma época, uma tradição cultural que está sujeita à transformações no espaço e no tempo.
As características que a cristandade atribuiu a Deus são resultado de um trabalho que começou bem antes do nascimento do cristianismo e prosseguiu ao longo da idade média. A origem da palavra Deus, vem da palavra latina deus, que quer dizer “o luminoso”, o “celeste” e se opõe à natureza “terrestre” do homem. Por volta do século XIII, os hebreus consideravam Iavé apenas como o único Deus de Israel, mas aos poucos, essa concepção dos hebreus evolui, fazem de Iavé o único e legítimo Deus de todos os homens, qualificando os outros deuses de “falsos deuses” e assimilando o culto que lhes era rendido à idolatria. O cristianismo endurecerá o seu discurso quando faz desses “falsos deuses” demônios.
A concepção de Jesus para os cristãos, é de que Jesus realiza a promessa profética vinda do Messias, pondo fim à espera. Ele não é apenas o enviado de Deus, é o próprio Deus representado pelo seu filho. O que o cristianismo afirmou radicalmente foi o paradoxo de um Deus uno por essência e ao mesmo tempo trino pelas pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo; e do outra lado, a mudança de toda uma idéia de que Deus, na pessoa de seu filho, se fez homem.
Outra novidade paradoxal do cristianismo é a Encarnação. Essa novidade explica a ambigüidade da igreja em relação aos judeus durante todo o período medieval. Os Judeus veneram Torá, que é o antigo testamento dos cristãos. Mas segundo os cristãos, os judeus não podem entendê-la corretamente, pois ignoram o Novo Testamento, que testemunha o cumprimento da promessa de Deus. Os judeus adoram o meu Deus dos cristãos, mas não reconhecem o Messias.
Deus na sociedade
A denominação mais freqüente de Deus é dominus, “Senhor”, e é por meio deste termo que os cristãos no período medieval dirigiam-se à divindade em suas preces, invocações e em múltiplas ocasiões da vida cotidiana. De início, o dominus da Antigüidade tardia, o papa se dizia “servo dos servos de Deus”. A partir da época Carolíngia, Deus, o senhor por excelência, será pensado com os traços do soberano medieval, o imperador ou o rei, e ambos são sagrados pela igreja. Fica evidente a justaposição de suas imagens que reforça o simbolismo real de um e o simbolismo divino do outro. No mundo Carolíngio de depois no mundo feudal, Cristo é visto como o vitorioso chefe de armas, que triunfa sobre o mal e as milícias do demônio. Ele também é considerado o imperador do mundo, assumindo as funções reais, que exercerá no juízo final, sobre todos os homens, incluindo os reis e chefes da igreja.
Durante a sociedade cristã medieval, a soberania sagrada era pensada de duas maneiras, que estavam estreitamente ligadas: o espiritual (presença forte com os bispos, chefes espirituais) e temporal (imperador e rei, que embora eram sagrados). No fim da idade média, o papa assumiu os traços do senhor divino, sendo figurado como um ancião de barbas e encanecido, com a mão direita benzendo e com a esquerda sustentando o globo imperial, e a cabeça sendo coroada pela tiara pontifical cujo três círculos representavam a trindade e a dominação do universo.
A prática do “juízo de Deus” durante a idade média, conheceu um processo histórico comparável. Durante esse período, o papel do juiz não era de pronunciar o direito e sim, de ser arbitrário entre as partes em conflito. O juiz poderia recorrer à onisciência e a onipotência de Deus, através dos rituais do ordálio e do duelo judicial. Um século mais tarde, o Estado Moderno dispensa o recurso do Deus julgador. Os clérigos criticavam a ambigüidade dos sinais, pois são sempre os homens que devem interpretá-los e podem equivocar-se ou forçar o sentindo do julgamento de Deus.
No mesmo período, houve uma outra razão para essas mudanças. Durante uma divisão de tarefas entre as pessoas da trindade, foi permitido que Cristo se tornasse cada vez mais familiar aos homens. Mas não para substituir os juízes terrestres, e sim para julgá-los não aqui, mas após a sua morte, no fim dos tempos. Espera-se que a misericórdia de Deus abrande o rigor da justiça.
A “ciência de Deus”: A Teologia
O discurso da teologia é de que Deus não pode ser considerado apenas como um objeto de estudo, mas também como um objeto de discurso racional. Durante o concílio de Nicéia (325), o arianismo é condenado, por definir cristo como sendo da mesma substância do pai. Já o Concílio de Éfeso, atribui a Maria o título de “Mãe de Deus”, por dizer que seu filho é ao mesmo tempo Deus e Homem. O Concílio da Calcedônia (451) condena os monofisistas que pretendem reconhecer a natureza humana no Cristo pregado na cruz. No século XII, Santo Agostinho se opõe aos pelagianos por acreditar que o papel fundamental da graça divina é dar ao homem a possibilidade de obter pelos seus méritos, o direito e a salvação.
O desacordo teológico com Bizâncio, a questão de saber se o Espírito procede do Pai e do Filho, como pretende a igreja romana e somente o Pai, como pretende Bizâncio, estimularam e permitiram afirmar a teologia cristã. No século XII, Abelardo escreve um “tratado de teologia sobre a unidade e a trindade divina”. Para Abelardo, Santo Agostinho é “a autoridade de todos os teólogos”, como um patrono de uma nova corporação. Já Hugo de Saint – Victor dá uma definição etimológica sobre a “teologia”: um discurso (logos) sobre Deus (theos). Já Anselmo busca um argumento único que seja suficiente para estabelecer que Deus é o sumo bem, não necessitando de mais nada, só quer sobre a natureza humana. Mas Anselmo será criticado por São Tomás de Aquino e depois por teólogos nominalistas que se recusam a induzir da linguagem a realidade dos seres que ela designa.
A verdadeira ruptura acontece em meados do século XIII, em primeiro lugar com São Tomás de Aquino. Ele aplica o discurso sobre Deus e o pensamento de Aristóteles, assim, a teologia começa a ser pensada como “ciência”, com um discurso racional e utilizando instrumentos da lógica argumentativa. É sobretudo de o espírito criado e finito não poder passar a idéia ao ser, que São Tomás de Aquino critica o argumento antológico de Anselmo.
Em 1270, o bispo de Paris, contesta uma série de proposições defendidas pelos “arrevoístas”. Eles negavam que a providência divina governe as ações humanas e que Deus conheça outra coisa que a si próprio. A crise do arrevoísmo mostra pela primeira vez que a crença de Deus é contestada e com argumentos racionais.Ela mostra também como a natureza é uma aposta cultural de primeira importância, deixando de ser necessariamente pensada como obra do criador, adquirindo uma autonomia que é celebrada.
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