Guerra de canudos: um novo olhar sobre a luta sertaneja e o messianismo religioso
Por: Valéria Ferreira • 10/9/2016 • Projeto de pesquisa • 1.297 Palavras (6 Páginas) • 476 Visualizações
Guerra de Canudos: um novo olhar sobre a Luta Sertaneja e Messianismo Religioso.
1.0: INTRODUÇÃO
Este Projeto consiste no estudo estrutural de uma guerra sangrenta, desenvolvida no arraial de Canudos, onde o sertão é palco da nacionalidade, associada à luta sertaneja pela terra e contra a opressão. Que nos leva a ter pontos de vista diferenciados, visto que há dois olhares: os dos vencidos e dos vencedores. Independente de estarem certos ou errados. Segundo Euclides da Cunha, Os Sertões 4ª edição 2001:
“Os Sertões tem equívocos como o de colocar a força motriz da história no esmagamento inevitável das raças fracas pelas raças fortes”.
Nessa perspectiva, torna-se evidente que o movimento sertanejo é destruído pelas armas do exército, uma trágica história dos conflitos de terra no Brasil. Os pensamentos contrários dos que almejavam somente lucros em cima dos “Pobres Sertanejos” fez com que essa luta sangrenta destruísse um arraial inteiro.
Este projeto pretende refletir sobre alguns aspectos dessa corrente interpretativa, bem como discutir as relações entre a força sertaneja e a religiosidade e politicas embutidas.
Desta forma, ao analisarmos Canudo e todos os chamados Movimentos Messiânicos¹ brasileiros como uma expressão segura da luta de classes entre sertanejos e militares, podemos destacar uma acentuada politização no que diz respeito ao papel que o próprio sertanejo tem em relação a sua cultura de poder, esse papel é determinante da religião como base segura para a compreensão da formação do arraial e da impressionante resistência sertaneja.
¹O messianismo implica na vinda ou no retorno de um ser divino enviado por uma Divindade, que virá libertar a Humanidade. O termo ‘messias’ vem do hebraico mashish e do grego christós. Ele é uma entidade com poderes e tarefas que deve mobilizar a favor de um grupo ou de um povo subjugado.
As análises que procuram ver Canudos e todos os chamados movimentos messiânicos brasileiros como expressões seguras da luta de classes no campo conferiram aos sertanejos uma politização acentuada e uma consciência razoável de seus projetos. No caso da destruição do arraial, a ausência de qualquer “papel” que indicasse algum tipo de plano conspiratório, fosse ele monarquista ou progressista, não impediu o surgimento de inúmeras interpretações que ora apostassem em um lado, ora noutro, surgindo ainda uma terceira vertente que se ateve ao papel determinante da religião como base segura para a compreensão da formação do arraial e da impressionante resistência sertaneja.
Desta forma, o objetivo desse estudo é mostrar que a força sertaneja está acima de qualquer força militar, como disse Euclides da Cunha “O sertanejo é antes de tudo um Forte”. Sendo assim pode-se dizer que não houve anomia² ou mera resistência às transformações econômicas, ao ‘progresso’, mas uma rebelião aberta e a esperança coletiva de construir um mundo novo, um mundo que fizesse sentido.
Em que Canudos é apontado como uma análise a luta popular, indiscutivelmente, imortalizou a saga conselheirista, dentro e fora do Brasil, proposta por Euclides da Cunha no clássico Os Sertões. A célebre afirmação euclidiana de que o sertanejo é antes de tudo um forte se combinou à condenação do cruzamento racial responsável por uma raça incompleta e selvagem que teve na figura de Antônio Conselheiro o grande feitor para as lutas sertanejas. Muitos elementos na cultura popular religiosa são analisados como integração da cultura de uma sociedade como os movimentos messiânicos.
² A anomia é um estado de falta de objetivos e regras e de perda de identidade, provocado pelas intensas transformações ocorrentes no mundo social moderno.
O sertanejo aqui destacado é o ponto forte dessa discursão, bem como sua grandiosidade em relação ao otimismo de luta. Os canudenses lutaram contra a república em nome de Deus e para a manutenção de uma ordem na qual aceitavam a sujeição, desde que dentro dos limites de seu universo cultural e no qual a religião era a referência fundamental. Religiosidade sertaneja, era fruto de um catolicismo popular vulgarizado através de personagens muito próximos e familiares, como foi o caso de Antônio Conselheiro, que agindo como um verdadeiro intermediário cultural, era o tradutor da palavra divina para um grupo de sertanejos em grande parte analfabetos. A força de suas pregações em um meio onde a cultura era predominantemente oral e o fato de suas falas serem entremeadas (entrelaçadas) por inúmeras citações em latim, certamente lhe conferia um poder que o distanciava positivamente, pois o tornava parte de uma cultura letrada e superior, de um lado, e o aproximava pela vivência prática e cotidiana do que pregava, por outro. Ao contrário dos párocos, o Conselheiro partilhava com seus adeptos um cotidiano de sofrimento e privações, forjando assim uma vivência religiosa muito concreta, palpável, diariamente renovada e alimentada e capaz, por isso, até mesmo de pegar em armas para defender seus
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