História Oral e Educação: Tecendo Vínculos Pedagógicos
Por: Bruna Lamego • 22/11/2019 • Resenha • 1.168 Palavras (5 Páginas) • 326 Visualizações
As autoras, Inês Teixeira e Vanda Praxedes, no texto “História Oral e Educação: tecendo vínculos pedagógicos” de 2007, procuram estabelecer as aproximações entre esses dois campos, entre lembrar e aprender. Iniciam demonstrando os fundamentos da História Oral e seus usos comumente associados a metodologia, técnica e fonte, sendo a base a oralidade, já esclarecendo que apesar de serem de fato meios verdadeiros, os veêm como restritivos assumindo sua maior potencialidade como processo educativo.
Percorrendo os fundamentos da História Oral
A metodologia passa por reconhecer toda a esfera complexa que envolve um ser, que contêm memória, cultura e história. “São sujeitos de reflexidade, que interpretam, que significam, ressignificam e dão sentido ao mundo, às suas vidas e às suas experiências. Como seres de vida ativa, criadores e criaturas das circunstâncias em que se inserem, inscritos em temporalidades, inseridos em territorialidades e em redes de sociabilidade, esses sujeitos sociais têm e sabem o que dizer sobre si mesmos e sobre o mundo.[...] Tanto podem revelar quanto esconder ou dissimular, conforme seus interesses e conveniências.” A técnica, como o próprio nome entrega, compreende a preparação e realização da entrevista, sua transcrição, interpretação e análise, além da classificação e catalogação do material escolhido, o arquivamento e conservação, e ainda a sua restituição ao público, à sociedade. E a partir desses dois aspectos, o pesquisador cria uma fonte, gera um documento.
Apostando serem essas definições de História Oral insuficientes para caracterizá-la por inteiro, aponta para suas particularidades negligenciadas. A primeira é o questionamento do conhecimento científico e sua pretensa verdade científica. Na História Oral inexistiria uma verdade única, assumindo a multiplicidade das interpretações e significações históricas. A segunda é que está centrada nos sujeitos, nos indivíduos, em suas narrativas do vivido, da experiência da história, buscando suas interpretações e seus conhecimentos. Por isso a memória é um de seus pilares. Admite assim, relatos que ultrapassam o discurso instituído, os textos oficiais, os ditos científicos. “Ela traz à cena não apenas os excluídos da História, mas os mais variados tempos e territórios do cotidiano, da experiência e da aventura humana, considerados menores, falsos e irrelevantes, quando muito folclóricos. [...] Rompendo fronteiras ela inaugura caminhos, modalidades, temáticas e formas de pesquisa, abrindo-se ao tempo, aos sujeitos, aos lugares e a outros olhares.” Percebe os sujeitos históricos através de suas subjetividades, identificando-as como parte de seu discurso, “se preocupa e dialoga com tudo o que é densa e intensamente humano” e não enxerga tal aspecto como negativo à pesquisa científica, mas a considera um elemento precioso que compõe a vida, analisando-a conjuntamente com a dinâmica social e cultural que a perpassa, estando indissociavelmente ligadas. A terceira particularidade negligenciada da História Oral seria o encontro sócio-antropológico entre sujeito e pesquisador, que falam e ouvem, e sentem, pensam, unindo ciência e afeto, razão e emoção. Desse encontro, cabe ao bom pesquisador sondar de forma sensível as histórias dos sujeitos que “confiam suas lembranças, seus sentimentos, seus pensamentos, suas dificuldades, seus desejos, seus sonhos e quimeras.”. O quarto aspecto é a quebra de antinomias da tradição do pensamento nas Ciências Sociais, como: indivíduo/sociedade, objetividade/subjetividade, parte/todo, institucional/informal; já que nas pesquisas de História Oral combina-se diversas fontes: entrevistas, observações de campo, documentos; levando em consideração pontos qualitativos e quantitativos. Assim como razão e emoção, dito anteriormente, tentando religar o que foi separado.
Além disso, as autoras destacam que a História Oral pode ser trabalhada nos mais diferentes campos disciplinares e no estudo de temáticas de várias áreas do conhecimento adicionando também os lugares fora da academia. “Em sua errância e fluidez, ela pode estar sendo feita pelas mais diferentes pessoas e grupos e pode estar em diferentes tipos de “suporte”. A História Oral não está só nos livros, nos periódicos científicos ou nos relatórios de pesquisa. [...] Recorrendo à expressão de Lyra Filho, diríamos que a História Oral pode ser “achada na rua”.”
Reforçam assim a ideia de que todos somos capazes de relatar, interrogar e registrar os enredos de nossas próprias vidas e de nosso grupo de pertencimento, relacionando o individual e o coletivo, fazendo uso de tal metodologia que toma como fundamental a escuta atenta que acolhe a narrativa oferecida e interroga sem invadir. Sustentam ainda que o trabalho com tal vertente metodológica, apesar de histórica, lida não apenas com questões passadas mas também com o presente, representando uma história viva.
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