INDÚSTRIA E MOVIMENTO OPERÁRIO NA PRIMEIRA REPÚBLICA
Por: PCGO • 20/8/2018 • Dissertação • 3.721 Palavras (15 Páginas) • 479 Visualizações
1º TEXTO
O debate historiográfico sobre o processo de industrialização na Primeira República tem como base o texto de Flavio Saes, a partir da análise de vários autores importantes do cenário brasileiro. Percebe-se que esse debate além das questões de cunho econômico nos remete, também, a questões ideológicas, principalmente no tocante a participação do Estado na economia. Esse tema não se encerrou naquele período, estendendo-se aos anos 60 e 70, e diria eu que prossegue até os nossos dias.
Como ponto de partida dessa discussão historiográfica o artigo nos apresenta a análise do economista Celso Furtado sobre o processo de crescimento industrial a partir dos anos 30, principalmente no que ele classifica como “deslocamento do centro dinâmico”, quando a nossa economia volta-se para o mercado interno em oposição a antiga visão agroexportadora. Para Furtado dois motivos levam a essa transformação do eixo econômico, primeiro a crise mundial de 1929 que prossegue nos anos 30 e, o segundo motivo, seria o conjunto de medidas que o governo utiliza para enfrentá-la.
Nesse sentido Vargas adota medidas de cunho intervencionista na economia, socorrendo o setor cafeeiro, atingido seriamente pela importante redução do preço do café no mercado internacional. Para isso o governo passou a comprar os estoques excedentes da produção e destruir a parte sem mercado dos estoques. Com a adoção dessas medidas evitou-se o declínio da renda interna, a produção do café não seria afetada, os empregos assegurados, mantendo-se, também, a demanda interna. Em conjunto com essas ações outro aspecto econômico se processava, com a queda das exportações de café a balança comercial brasileira entrou em declínio, gerando uma diminuição na entrada de divisas para o Brasil e, a consequente desvalorização da moeda nacional. O resultado final desses acontecimentos afetaria diretamente a demanda interna, anteriormente suprida pela compra de importados, e que agora, diante dessa dificuldade, teria como elemento de substituição a produção interna, que assim ganharia um desenvolvimento muito importante. O que Flávio Saes, a partir da análise de Furtado, assim sintetiza:
Aí estão presentes alguns dos elementos que, em formulações mais gerais, constituem a tese da industrialização por substituições de importações. A par da interpretação do crescimento industrial dos anos 30, havia, implicítas na análise, certas conclusões de ordem mais geral: em primeiro lugar, teria sido durante a crise econômica mundial dos anos 30, marcada pela ruptura das relações econômicas do Brasil com o exterior (exportações, importações, movimento de capital), que a economia brasileira encontrou os meios para industrializar-se; em segundo lugar, que a intervernção do Estado (via política de defesa do café, política cambial, etc.) teria sido a outra condição para garantir o sucesso da industrialização nos anos 30. Nessas duas conclusões estavam embutidas a negação de dois pilares da Teoria Econômica: A Teoriadas Vantagens Comparativas e o Liberalismo Econômico. (SAES, 1989, p.21-22).
Essas análises permitem concluir que o desenvolvimento dos povos latino-americanos deveria estar inserido neste processo, no qual a atividade agrário-exportadora não fosse mais a mola mestre do desenvolvimento, sendo substituída pela intervenção do Estado através do planejamento estratégico e desenvolvimento de uma indústria nacional. Esta tese, encaixa-se no pensamento dominante da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe) que vai de encontro às teorias liberais de não intervenção do Estado na Economia.
Nesse ponto surge a primeira discordância, Carlos M. Peláez, de viés liberal, em confronto com as conclusões de Furtado, que tinham características predominantemente intervencionistas, para tanto Peláez critica fortemente a “Teorida dos choques Adversos”, um dos fundamentos do pensamento de Furtado, com dois argumentos principais: o primeiro refere-se a política de defesa do café que para ele foram derivadas de empréstimos externos e pelo imposto sobre o café; já o segundo argumento sustentou-se em fatores externos como balanço de pagamentos, diretamente, e déficit orçamentário, indiretamente; assim o crescimento industrial brasileiro nos anos 30 estaria ligado a um ajuste nas contas internas e, principalmente, à fatores externos.
Nesse primeiro confronto historiográfico percebe-se duas tendências de análise sobre o processo de industrialização brasileira, que estarão permanentemente em confronto na discussão da indústria na Primeira República, no que SAES resume:
De um lado, seguindo os passos de Furtado (e da corrente da CEPAL), aqueles que entendem que a industrialização brasileira nasce da crise do setor exportador e graças a certo tipo de intervenção do Estado. De outro, os que enteendem ser a expansão das exportações o elemento impulsionador da indústria (identificando-se, nessa medida, com a análise de Peláez). (SAES, 1989, p.22).
Assim, durante as próximas décadas essa primeira discussão entre Furtado e Peláez ganharia novos protagonistas, recolocando o foco para o desenvolvimento industrial dos anos 30, mas com o núcleo central dos debates sendo mantido: foi a crise ou a expansão das exportações a responsável pelas condições do desenvolvimento industrial?
Simonsen, de maneira mais sólida, dá o pontapé inicial com seus estudos, que teve como base os dados censitários de 1920, que mostrou o crescimento da produção industrial entre 1914 e 1920, fato este que corroborava a idéia de que na Primeira Guerra Mundial a indústria teve uma expansão importante.
Já Warren Dean faz uma forte crítica a estes estudos, principalmente nas análises dos dados estatísticos, questionando o índice de preços utilizados e por ter como parâmetro o ano de 1914 como base inicial de sua pesquisa. Para Dean o impacto positivo para a economia naquele período foi causado pelo aumento das exportações de manufaturas, como carne congelada, açúcar refinado e tecidos, fato este, provavelmente, causado pela redução da produção na Europa em guerra. Ele também questionava o fator positivo da queda do valor do câmbio e sua influência sobre a indústria nacional, alegava, pois, que essa queda gerava, também, uma menor demanda interna e uma diminuição das importações de produtos essenciais para a indústria.
A partir desses embates iniciais, Furtado x Peláez e Simonsen x Dean, o autor faz uma importante observação:
Estavam definidas, desse modo, as duas grandes linhas interpretativas da industrialização na Primeira República: a “Teoria dos Choques Adversos” e a tese da “industrialização induzida pelas exportações”. A continuidade da polêmica tendeu a privilegiar a discussão mais minuciosa dos mecanismos econômicos de crescimento industrial, não explicitando as divergências ideológicas embutidas na controvérsia. (SAES, 1989, p.25).
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