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Leandro Ribeiro - História e Antropologia

Por:   •  16/2/2017  •  Trabalho acadêmico  •  1.519 Palavras (7 Páginas)  •  322 Visualizações

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Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro

Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro

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Universidade Federal Do Estado Do Rio De Janeiro

Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH

Licenciatura em História - EAD

Unirio/Cederj

AD1 – Primeira Avaliação à Distância – 2015.1

Disciplina:  HISTORIA E ANTROPOLOGIA

Coordenação: Neiva Vieira da Cunha

data limite para postagem na plataforma: 06/03/2015

Caro (a) aluno (a):

Esta é a sua primeira avaliação à distância (AD1). Ela constará da análise de um fato social recente, ocorrido na França no início do mês de janeiro de 2015, o atentado ao jornal Charlie Hebdo, tomando como referência os conceitos abordados nas quatro primeiras aulas de nossa disciplina. Selecionamos algumas matérias jornalísticas sobre o tema, que seguem abaixo. Elas deverão ser lidas e discutidas à luz dos conceitos de cultura, diversidade cultural, alteridade, etnocentrismo e relativismo cultural. A idéia é refletir, de uma perspectiva antropológica, sobre os desafios e questões que se colocam para as sociedades contemporâneas. A avaliação deverá ter de duas (mínimo) a quatro (máximo) páginas.

Bom trabalho!

http://www.cartacapital.com.br/blogs/intervozes/o-atentado-contra-o-charlie-hebdo-e-a-regulacao-da-midia-na-franca-e-no-brasil-3015.html

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/01/tiroteio-deixa-vitimas-em-paris.html

http://desacato.info/mundo/islamofobia-virou-ideologia-rotineira-na-franca-analisa-autor-de-livro-sobre-muculmanos/

http://www.publico.pt/mundo/noticia/o-atentado-terrorista-ao-charlie-hebdo-e-os-valores-da-republica-francesa-1681713

“Não é preciso concordar com determinado posicionamento, mas se faz necessário defender o direito do outro em dizê-lo”.

(Voltaire)

   

   O mundo inteiro condenou o atentado contra a sede do Charlie Hebdo, inclusive grupos islâmicos, em diversas localidades. Na opinião de muitos, tentar achar justificativas para algo tão brutal seria o mesmo que tentar culpar a vítima pelo assalto, estupro ou assasinato. Outros, no entanto, dizem não terem obrigação alguma de concordar, respeitar ou compartilhar uma  idéia – seja ela política, religiosa ou social - e, se assim o fosse, teriam que concordar, respeitar ou compartilhar o nazismo, o fascismo, o racismo, etc.

   Muitas pessoas na internet se manifestaram contra esse ato bárbaro, porém deixando claro em suas opiniões que devemos respeitar o direito dos muçulmanos de não concordarem em ver o seu Profeta desenhado e – na opinião de muitos – ridicularizado, pois escarnecer o credo das pessoas é, para muitos, tão errado quanto se vingar de quem o faz.

   Islã é uma palavra árabe, originada de um radical que significa paz, solidez e segurança. Embora a palavra Islã às vezes seja usada em outros sentidos, ela basicamente é uma expressão religiosa que se refere ao estado da alma. Significa uma atitude interna de obediência inequívoca a Deus, podendo ser traduzida como rendição, submissão ou resignação – conforme a vontade de Deus foi comunicada ao profeta Maomé, em uma série de revelações divinas. A palavra muçulmano – praticante do islamismo – significa, literalmente, “os que se submetem”. Logo, se declarar muçulmano em plena consciência, não é somente um ato de identificação com um grupo religioso, mas também, uma afirmacão a um comprometimento sem reservas de obediência à vontade de Deus. Portanto, o Islã, por definição e na sua origem, é uma busca de totalidade da fé.

   Enquanto alguns se dizem pacíficos e repudiam o “direito de matar”, outros, mais extremistas, o defendem. Devemos lembrar que a maioria do povo alemão era pacífica e, mesmo assim, Hitler conseguiu seduzir e reunir um grupo que deu início ao maior massacre da História humana, resultando na morte de 46 milhões de pessoas. Russos e chineses, também pacíficos em sua maioria, não conseguiram impedir que uma minoria criasse o Partido Comunista, assumisse o poder e provocasse a morte de 130 milhões de cidadãos, dos dois países. Assim como a maioria dos muçulmanos, nos EUA, é pacífica – e bastaram 12 para derrubarem o World Trade center! Considerado como a síntese de tudo o que precisa ser combatido no mundo, essa grande falta de condescedência se mostra como um exemplo de intolerância bárbara, digno do repúdio humano a um fanatismo desvairado, que transforma a religião em arma de guerra, fazendo, com isso, com que o sagrado seja vencido pelo profano. Tudo em nome de Alah!

   O muçulmano, bem como todo praticante de qualquer religião no mundo, não precisa ser necessariamente um fundamentalista - mas certamente, em qualquer religião, pode-se encontrar fundamentalistas - assim como o fundamentalismo, ao contrário do que muitos pensam, não precisa ser sinônimo de terror. Um dos grandes problemas do fundamentalismo é que a presença estrangeira trouxe ao Islã uma fé, uma presença econômica e um domínio que agridem a religião. Mas é absolutamente errada, a ideia de que o mundo islâmico é fundamentalista. Tomar o mundo islâmico como fundamentalista, é produzir e compartilhar um preconceito tradicional, com base fortíssima na sociedade ocidental, mas que não encontra nenhum amparo no estudo histórico prático.

   Edward Sayd, escritor britânico, recentemente falecido, costumava questionar sobre a capacidade do Ocidente, de criar um estereótipo para o muçulmano. Segundo ele, existe uma tendência ocidental em venerar os feitos de apenas um lado da História e endemonizar os feitos do outro. Exemplo disso seria o filme 300, de Frank Miller, que reconta a história de um exército de espartanos – verdadeiros kamikases - que, mesmo sabendo da impossibilidade de vencer a guerra contra uma imensa legião de soldados persas, não titubeia e luta heroicamente, abraçando a morte com orgulho e devoção. Não teriam tido esta mesma certesa da morte e esse mesmo orgulho e devoção, os sequestradores que jogaram os aviões contra as Torres Gêmeas em Nova Iorque, durante o 11 de setembro? Afinal, em ambas as situações, lutavam por liberdade e sobrevivência, não é? Porque, então, um islâmico que mata – e se mata - pelo que acredita é um fanático fundamentalista, enquanto o rei Leônidas e seus 300 guerreiros são chamados de heróis? Há alguns anos, quando um jovem invadiu uma escola municipal em Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro, matando diversas crianças a tiros e sendo morto, em seguida, tal fato foi atribuído a um desequilíbrio mental – e isso acontece com frequência, nos EUA, vide o atentado em Oklahoma. John Lennon, John F. Kennedy e Mahatma Gandhi também foram mortos por “portadores de problemas neurológicos extremos”. Em cada caso, tratava-se de apenas um indivíduo, motivado por uma causa ou angústia, descartando-se, portanto, a hipótese de uma questão sociológica, correto? Não obstante, quando há notícias de violência no Oriente Médio, ou algo relacionado ao islamismo, nunca se trata do desequilíbrio de um indivíduo, mas sim, de um problema coletivo e civilizacional, uma questão social, cultural e religiosa. Dificilmente alguém poderia recordar os nomes dos homens que faziam parte do grupo responsável pelo ataque do 11 de setembro de 2001. A mídia sempre se referiu a eles como “terroristas muçulmanos” ou “extremistas islâmicos”. Quando o IRA explode um pub, matando gente em Londres, a expressão usada é “radicalismo político”, e não “terrorismo católico”. Quando alguém explode uma mesquita no Iraque, chamamos de “radicalismo religioso”. Ou seja, existe aí, um conceito pré-estabelecido, diante dos fatos.

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