Memórias de Guerra: Caminhos e Roteiros da Força Expedicionária Brasileira
Por: olecramollem • 4/6/2016 • Artigo • 1.024 Palavras (5 Páginas) • 254 Visualizações
Memórias de Guerra: Caminhos e roteiros da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália
Marcelo de Mello Ribeiro
De fato, vivemos “tempos interessantes” , se por um lado o processo de mundialização ou como preferirem globalização, aponta para um Mundo sem fronteiras, massificado e até certo ponto superficial, verificamos em resposta a esse “estado de coisas” o aparecimento de resistências culturais, sejam através de grupos sociais organizados ou mesmo de instituições do poder público, ora evidenciando o passado e tradição desse Estado Nacional que teima em não desaparecer, ora defendendo a memória de povos que percebem no seu passado comum um valor, um bem cultural que o distingue e que o identifica.
Insere-se nesse paradoxo e contexto histórico esse revisitar a um passado próximo, no caso, a participação brasileira na 2ª Guerra Mundial. Como grande pano de fundo desse revisitar está o desaparecimento das últimas gerações que efetivamente viveram no tempo dos horrores da guerra tanto do lado brasileiro, eternizados na figura do “pracinha” , quanto do lado italiano na figura quase mitológica do partigiani .
Patrulha da Força Expedicionária Brasileira (FEB) em ação na região dos Apeninos Italianos, 1945
Na Itália e no Brasil aumenta-se consideravelmente o número de pessoas e instituições que se dedicam a pesquisar sobre o tema. Para além do culto aos feitos desses soldados que sempre ocorreu entre os militares na caserna, evidencia-se o dinamismo desse processo, particularmente no caso brasileiro, com o aumento de teses de doutoramentos e dissertações de mestrado nos programas de pós graduação em História sobre o tema em questão, ultimamente atingindo, inclusive, a produção cinematográfica nacional, como o caso simbólico do filme “Heróis” que conta o caso inusitado de três soldados brasileiros mortos em combate e que foram posteriormente enterrados pelos alemães sob os dizeres "DREI BRASILIANISCHEN HELDEN", que traduzindo seria “Três Heróis Brasileiros”.
Por outro lado, na Itália, as prefeituras (Chamadas Comunas) da região da Toscana entre elas Montese, Gaggio Montano, Fuornovo di Taro e Coléquio, estão se organizando num interessante projeto de patrimônio cultural chamado “Projeto Linha Gótica”. Este projeto pretende identificar “lugares de memória” ou “sítios simbólicos de pertencimento” que remetam à expulsão de forças nazi-fascistas e à vitória dos Exércitos Aliados na região.
A chamada “Linha Gótica” foi uma das últimas linhas de defesa alemã na Itália ocupada e ainda hoje há vestígios como trincheiras, casas-mata, pontos fortificados, museus dedicados ao tema, além do que julgo mais precioso, que são os relatos dos últimos sobreviventes dessa época, pessoas que de fato viveram esse momento histórico.
De certo, de esses dois conceitos teóricos de “lugares de memória” e “sítios simbólicos de pertencimento” ajudam a melhor entender o Projeto de roteirização ou de itinerário cultural. Para o historiador francês Pierre Nora “lugares de memória” seriam espaços onde a idéia de patrimônio como espaço físico (material) serviria como suporte e veículo para a formação e preservação de uma memória coletiva (imaterial), já para Zaoal, esses “lugares” ou “espaços”, também podem ser pensados na perspectiva de identidade de um grupo social, na medida que o que é material, um monumento, uma fortificação ou um castelo, por exemplo, gera sentimentos de pertencimento e ligação afetiva de uma coletividade.
No final de 2013 uma Comitiva da Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército (DPHCEx) participou do lançamento do “Projeto Linha Gótica” percorrendo boa parte desse futuro itinerário histórico-cultural e inaugurando também um Núcleo de Estudos entre pesquisadores dos dois países, passo imprescindível na preservação e divulgação da participação brasileira na libertação daquela nação amiga.
Foram visitadas, utilizando uma viatura militar de época, diferentes lugares de extremo valor simbólico para o Brasil e para o Projeto em si, por serem os “palcos” das principais batalhas da região, como as trincheiras de Monte Castelo, a igreja de Bombiana, o Museu de Montese, o Monumento Votivo
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