Moderna - Delumeau - contexto espiritual, cultural e social que permitiu a emergência das reformas religiosas do século XVI

Delumeau faz uma crítica à abordagem mais tradicional adotada para interpretar à Reforma Protestante. Diante disso, disserte sobre o contexto espiritual, cultural e social que permitiu a emergência das reformas religiosas do século XVI.

        A intepretação teórica na qual a Reforma Protestante foi resultado das repletas devassidões e impurezas da Igreja são insatisfatórios, segundo Delumeau. Uma vez que, em outros períodos como os de Gregório VII e São Bernardo, a Igreja se encontrava em meio a tantos injúrias como na época da Reforma. Outro ponto abordado é que, se esta fosse o cerne da questão, quando a Igreja faz a Reforma Inversamente, já em XVII, corrigindo a maioria de seus erros, apontados pelos reformadores, estes procurariam retornar após isto, no entanto, não ocorre este processo.  

        E se houve a aceitação de uma parcela tão grande da população, de diferentes níveis sociais, significa dizer que a Reforma foi a reposta encontrada para uma angústia coletiva. A Guerra dos Cem Anos, o Grande Cisma, a Peste Negra, as guerras das Duas Rosas, em razão de tantas crises a noção passa a ser desorientada e abalada dos indivíduos. Ou seja, a sociedade sente-se culpada, repleta de pecado, os indivíduos são pecadores, e só o pecado explicava tantos acontecimentos. Para além disto, quanto mais alguém se enxergar como pecador, maior sua chance de permanecer pecando, por isso, todos começaram a blasfemar.

        Nesse momento de incertezas as pessoas buscavam auxílio de alguma maneira. E é a partir deste sentimento, que várias santas começam a ser cultuadas. Elas representavam proteção aos pobres sofredores,contra as doenças, ainda davam garantias após a morte e direito as indulgências. Entre o desespero, as populações acreditavam ser possível obter (comprar) a sua salvação, mas as incertezas e até mesmo as dúvidas em relação a este comércio acarretava na angústia medieval.  

        Inúmeras confrarias surgiram a fim de cultuar essas santas, cada irmandade estabelecia a sua santa e a defendia, posteriormente cria-se rivalidades entre santas e capelas, nobres e burgueses instituíam igrejas privadas e manifestavam-se um individualismo e espírito laico. Havia uma confusão geral: de hierarquias, de morais, quando existia vigários,estes eram mal instruídos, os bispos não visitavam frequentemente as dioceses e não tinham a dimensão do problema e por fim, não havia uma distinção clara entre profano e sagrado entre os fiéis.  

        Além das santas, o povo recorreu a uma autoridade legitima: a bíblia. De acordo com a perspectiva religiosa, o surgimento do livro impresso fundamentou uma revolução ao contexto espiritual do período. Porque, alicerçado através dos livros religiosos o padre passaa ser menos necessário, pode-se existir uma meditação pessoal, portanto, as disseminações destes livros estavam a submeter os valores. E estes, foram alguns dos motivos que possibilitaram a emergência do protestantismo na Europa Ocidental.  

Referência:

DELUMEAU, Jean; MENDES, João Pedro (Trad.). Nascimento e Afirmação da Reforma. São Paulo: Pioneira, 1989, pg. 59-78.

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