NARRADORES DE JAVÉ - ANALISE
Por: Wennya Araujo • 31/10/2015 • Resenha • 608 Palavras (3 Páginas) • 504 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CERES
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
DISCIPLINA: HISTÓRIA E MEMÓRIA
PROFESSOR: JOSÉ JUNIOR
ALUNA: WÊNNYA KÊNNYA DE SOUZA ARAÚJO
ANÁLISE DO FILME: NARRADORES DE JAVÉ
Narradores de Javé é um filme que conta a história dos moradores do povoado de Javé e o drama pelo qual os mesmos passam. Os conflitos começam a partir da suposta construção de uma represa, o que acarretará o alagamento de todo o Vilarejo. No intuito de impedir tal acontecimento, a única chance dos moradores é a de provar que a localidade possui um valor histórico culturalmente a ser preservado.
Esse fato leva a necessidade de registrar por escrito os fatos que só são narrados de boca a boca entre os moradores. Com isso podemos relacionar ao texto de Jacques Le Goff, intitulado “Memória”, no qual nos apresentará que “O aparecimento da escrita está ligado a uma profunda transformação da memória coletiva... A escrita permite à memória coletiva um duplo progresso, o desenvolvimento de duas formas de memória. A primeira é comemoração, a celebração através de um monumento comemorativo de um acontecimento memorável.” p. 427. O contraste representado está entre o “saber ler” e o “não saber ler” e a inserção de uma nova tecnologia dentro de uma sociedade de certa forma atrasada e suas consequências.
Um fato inusitado descrito no filme é que a maioria dos moradores é analfabeto, e para redigir o documento contando todos os grandes acontecimentos de suas histórias, recorrem ao carteiro da cidade, um homem desonesto e que há tempos atrás fora banido por todos no vilarejo. Biá, como era chamado, é forçado pelo povo a escrever as histórias desde sua fundação até os ilustres que habitavam e habitam a cidade. O mesmo vai se aprofundando nas memórias, fantasias e lembranças do povo de Javé, entretanto, as diferenças entre as historias acaba tornado impossível o desenvolvimento do documento, tornando assim impossível o registro oficial do mesmo.
Todas as personagens que narram sua história possuem um grau de importância dentro dessa organização mesmo não sabendo ler e escrever. Voltando a Le Goff, percebemos que a diferença entre linguagem oral e linguagem escrita não se restringe apenas a uma simples falta de conhecimento por parte do indivíduo, mas sim a toda uma cultura, toda uma sociedade, ou seja, a escrita é uma extensão de nossa fala.
Deste modo, na história da humanidade, o povo sempre viveu no boca a boca, as crenças ou histórias, eram passadas de pai para filho e para netos, revivendo as memórias do passado. Vale destacar que foram através da oralidade e posteriormente escrituras, que temos acesso história de diversas populações, culturas e heróis do passado. Sendo assim, a tradição oral junto com a escrita fortalece as relações entre os seres humanos, criando uma transferência de conhecimentos e modo de vida.
Ao final do filme, o livro com a grande história de Javé não foi escrito. E a cidade acabou sendo destruída pela modernidade, com a construção da represa, e seu povo assistiu aos prantos o novo mar que se formava no sertão, destruindo o local, a memória, a cultura e os seus antepassados. O filme aborda temas como, a formação cultural de um povo; heranças históricas; crenças; valores; história, verdade e invenção; importância da oralidade na construção cientifica; confronto entre o progresso e as tradições do vilarejo. Pois é pelas lendas e contos, que contribuem para a formação cultural de uma população, mudando ou edificando a maneira de viver de determinadas pessoas na sua moral ou em seus hábitos, costumes e pela linguagem regionalista. Percebe-se uma historia triste de um povo sem cultura, mas com forças suficientes para vencer e construir uma nova historia.
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