O Guanabara 1960 - Uma Epopeia Lacerdista
Por: Jefferson Viana • 1/2/2018 • Resenha • 1.363 Palavras (6 Páginas) • 157 Visualizações
O estado do Rio de Janeiro vem sangrando nos últimos tempos devido a devassa nas contas públicas, a corrupção instalada nas principais esferas do poder estadual e pelo excessivo aparelhamento da máquina administrativa. Mas já houve tempos de glória onde nosso território foi vanguarda da boa gestão, da boa governança e do respeito as contas públicas. E nesse artigo, buscarei mostrar uma história do passado recente de nosso estado que mostra que as coisas podem sim serem diferentes.
O ano era 1960. A cidade do Rio de Janeiro deixava de ser a capital do país devido à transferência da sede administrativa do Governo Federal para a recém-construída Brasília. Já naquela época, já haviam pressões para que o antigo Distrito Federal realizasse sua fusão com o estado do Rio de Janeiro, todavia a população rechaçava tal iniciativa. Com isso, o Governo Federal não teve outra opção senão sancionar a Lei No 3752/1960, apelidada também de Lei San Tiago Dantas pelo fato do deputado mineiro ter sido responsável pelo texto da lei. A lei regulamentava a criação do estado da Guanabara, novo nome do antigo Distrito Federal além de criar normas para a eleição de governador do estado e dos deputados estaduais que seriam signatários da Constituição do estado do Guanabara. As eleições do recém-criado estado aconteceriam junto a eleição presidencial.
Quatro candidatos lançaram-se para participar do pleito na busca de ser o primeiro governador eleito do estado da Guanabara. Pelo PSD (Partido Social Democrático) o candidato foi o militar Ângelo Mendes de Moraes, prefeito do Rio de Janeiro entre 1946 e 1951; Pelo Partido Social Trabalhista (PST), o deputado federal Tenório Cavalcanti, também conhecido como “O Homem da Capa Preta”; O PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) lançou o deputado federal Sérgio Magalhães, então vice-líder do governo JK na Câmara dos Deputados; E Carlos Lacerda vinha representando a União Democrática Nacional (UDN) naquela eleição.
O favoritismo de Carlos Lacerda na eleição era grande. Tão grande que PSD e PTB, partidos que eram aliados na esfera nacional não acharam um nome de consenso para realizarem a aliança. Lideranças nacionais do PTB, como Lutero Vargas e João Goulart viam na figura de Sérgio Magalhães alguém “independente demais”, que não tinha a garra e agressividade necessária para vencer Lacerda e a UDN. Já o PSD, partido do então presidente Juscelino Kubitschek desejava lançar uma pré-candidatura para forçar que a chapa trabalhista desse mais espaço no governo aos pessedistas, porém Ângelo Mendes de Moraes não abriu mão de sua candidatura ao governo, inviabilizando assim a aliança no estado da Guanabara.
Mas a grande surpresa daquela eleição era mesmo Tenório Cavalcanti. O “homem da capa preta”, como era conhecido tinha um eleitorado fiel na Baixada Fluminense. Foi vereador em Nova Iguaçu representando o então distrito de Duque de Caxias e tinha sido deputado federal pela UDN. Personalidades udenistas como o próprio Lacerda e Afonso Arinos consideravam o político nascido em Alagoas “um udenista com ar de povo”, pelo fato do parlamentar ter um forte apelo popular. Tenório saiu das fileiras da UDN em 1958, filiando-se ao Partido Social Trabalhista (PST) e decidiu candidatar-se ao governo da Guanabara usando um discurso nacionalista e anti-comunista, aproveitando-se da grande popularidade que tinha nos bairros do Rio de Janeiro que tinham proximidade com cidades da Baixada Fluminense.
A campanha então iniciava-se com os quatro candidatos brigando para ser o primeiro governador do novo estado. Lacerda decidiu utilizar uma estratégia onde buscaria construir uma identidade com o recém-criado estado da Guanabara, defendendo a autonomia política conquistada pela Lei San Tiago Dantas. Seu lema de campanha era “enfrentar os problemas da Guanabara nascente” como o problema de abastecimento de água a qual passava a cidade do Rio de Janeiro. O candidato da UDN atacava seu principal concorrente, o trabalhista Magalhães usando o argumento que o candidato preocupava-se mais com o “imperialismo norte-americano do que com a falta de água nas torneiras dos cariocas”.
Na convenção da UDN que oficializou a candidatura ao governo da Guanabara, Lacerda mostrou as cartas de sua campanha; decidiu abordar pouco os problemas nacionais para abordar os problemas a serem sanados na esfera local na aposta de desidratar a campanha do PTB, que tinha como eleitorado fiel. Abaixo, um dos trechos do discurso de Lacerda na convenção que foi publicado no jornal “Tribuna da Imprensa” no artigo “A liberdade através da dificuldade”.
“Não somos uma capital decaída, mas uma cidade libertada. Os que daqui saíram com saudade sabem que o Rio é uma cidade insubstituível, uma cidade em que todos os brasileiros, ontem, hoje, sempre estarão como em sua casa. Sabem estes brasileiros que somos uma região sem regionalismos. Pensamos nossos problemas em termos mundiais, além de continentais, e continentais, além de nacionais (…) Nossos heróis são nacionais (…) Pensaram que nos abandonando interiorizavam a civilização, mas foi aqui que a deixaram. Porque somos a síntese do Brasil, porque somos a porta do Brasil com o mundo, e somos do mundo a vera imagem que ele faz de nós”.
Carlos Lacerda, “A independência através da dificuldade”, Tribuna da Imprensa, 28-29 de Maio de 1960
Outra estratégia de
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