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O liberto escravo

Por:   •  13/4/2016  •  Resenha  •  781 Palavras (4 Páginas)  •  124 Visualizações

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O “LIBERTO” ESCRAVO

Por Daniel Fintelman

Ao analisar temas associados à escravidão, é comum obter a criação de uma imagem onde comerciantes portugueses, espanhóis e ingleses em seus navios superlotados de negros africanos fazem valer este tipo de comércio perverso e cruel ou ainda associar aos famosos “capitães-de-mato” que perseguiam os negros que haviam fugido no Brasil.

Em meados do século XIX, a escravidão no Brasil passou a ser contestada pela Inglaterra que tinha interesse em ampliar seu mercado consumidor no Brasil e no mundo. A partir disso, o Parlamento Inglês aprovou a Lei Bill Aberdeen que proibia o tráfico de escravos obtendo assim poder de aprisionamento no caso de in.

Analogamente, se a lei promoveu a liberdade jurídica dos escravos, contesta-se uma realidade avassaladora para muitos deles que por sua vez sem moradia, sem condições econômicas e sem assistência do Estado passaram por muitas dificuldades nesse “pós-liberdade”. Em sua maioria não conseguiam empregos e sofriam descriminação e preconceito. Passaram, então, a viver em habitações em condições muito precarizadas e a viver de trabalhos temporários e informais.

Destacando ainda um fator importante, na Literatura, a visão distanciada configura-se em textos nos quais o negro ou o descendente de negro reconhecido como tal é personagem, ou em que aspectos ligados às vivências do negro na realidade histórico-cultural do Brasil se tornam assunto ou tema. Envolve, entretanto, procedimentos que, com poucas exceções, indiciam ideologias e atitudes.

No século XIX, índios das mais diferentes etnias, em um número incalculável, migraram quase sempre compulsoriamente para a Corte do Rio de Janeiro, onde faziam pequenos biscates ou passavam a trabalhar em serviços domésticos, na construção civil e nas obras públicas, no Arsenal da Marinha, na pesca da baleia, como marinheiros e remeiros de canoas do Serviço da Galeota Real ou no Escaler da Ribeira. O número de índios empregados em serviços domésticos nas casas do Rio de Janeiro era tão expressivo, que mereceu várias intervenções da Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça junto ao presidente da Província e ao juiz de órfãos da Corte.
         O governo imperial constatou que "muitos indígenas existem ao serviço de pessoas particulares sem que perceberão salário ou estipendio algum, achando-se assim reduzidos ao estado de quase perfeito cativeiro". Muitas famílias de índios Botocudo foram aldeadas em São José de Leonissa ou Aldeia da Pedra (Itaocara), depois da guerra de extermínio decretada pelo Príncipe Regente em 1808 e outras foram levadas diretamente para o trabalho doméstico na Corte. Em 1819, passeando pelas ruas da cidade do Rio, o prussiano Theodor Von Leithold testemunha: "Veem-se também, no Rio de Janeiro, alguns botocudos como escravos, vindos do sertão, que diferem dos demais escravos africanos no tamanho e no aspecto selvagem".
         Debret viu índios Botocudo, trazidos do rio Belmonte para serem apresentados a D. João VI, que anos antes lhes havia declarado guerra. O chefe usava um manto de pele de tamanduá, com um diadema. Embora o filho do cacique não tivesse o direito de usar a mesma roupa, Debret vestiu-o assim, somente para mostrar a parte da frente do manto. O mesmo Debret documenta a presença de famílias de índias lavadeiras, que residiam há muitos anos na cidade do Rio de Janeiro. Reuniam-se diariamente de manhã para ir lavar roupa à beira do rio, no Catete, onde ficavam o dia inteiro, até anoitecer. 
Debret acredita que de todos os grupos que visitaram a Corte do Rio de Janeiro, a fim de serem apresentados a Sua Majestade Imperial, os de "aspecto mais repugnante são os Botocudos, Puris, Patachos e Machacalis ou Gamelas", pelas mutilações a que se sujeitavam. Ele retrata aqui índios desses grupos, que ficaram alojados na ilha das Cobras, num barracão da Marinha, durante oito dias. Rugendas, por seu lado, também localiza índios misturados com "homens de todas as condições, de todas a nações e de todas as cores", em pleno Largo do Paço, em frente ao Palácio Imperial, no cais de desembarque.
   A presença de índios na Corte vai diminuindo progressivamente. Em 1860, o jornalista francês Charles Ribeyrolles constata apenas a existência de alguns "mestiços-índios" e deplora: "O que não se encontra como outrora, no Rio de Janeiro, são os indígenas, os verdadeiros filhos da terra, os selvagens de Villegagnon e de Jean de Léry".
   Durante todo o período republicano, no século XX, os índios deixam de figurar no mapa da cidade e do Estado do Rio de Janeiro e na documentação oficial. Reaparecem apenas na década de 1950, quando os índios Guarani, migrando do sul do país, estabelecem três aldeias em Angra dos Reis e Parati, onde permanecem até os dias de hoje.

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