Recensão Bibliográfica: “Do início da produção de alimentos aos primeiros estados” de Sigfried J. De Laet
Por: Rafaela Casagrande • 6/1/2021 • Resenha • 2.227 Palavras (9 Páginas) • 203 Visualizações
Rafaela Zanotto Casagrande
Recensão bibliográfica: “Do início da produção de alimentos aos primeiros estados” de Sigfried J. De Laet
U. Curricular: Origens das Sociedades Complexas
Docentes: Domingos de Jesus da Cruz
Helena Maria Gomes Catarino
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Faculdade de Letras
Universidade de Coimbra
2018
De Laet, Sigfried J., “Do início da produção de alimentos aos primeiros estados”, in: S. J. De LAET, A. H. DANI, J. L. LORENZO, R. B. NUNOO (eds.), História da Humanidade. Vol. I – A Pré-história e o Início da Civilização, Lisboa, Editorial Verbo, 1996, pp. 382-393.
Introdução (De Laet, 1996, pp. 382)
Sigfried J. De Laet introduz o capítulo explicando que não utilizou a expressão de Gordon Childe de «Revolução Neolítica à Revolução Urbana» por causa de sua ambiguidade. Muitos historiadores têm criticado o uso da palavra «revolução» para este período pois sugere uma transformação substancial e rápida e hoje já sabemos que foi um processo longo compreendendo vários séculos de evolução paulatina. Por outro lado, «revolução» pode ser entendida no seu sentido de «volta completa», ou seja, de transformação total, ignorando o fator tempo. Alguns autores continuam usando o termo nesta última perspetiva pois enfatiza o cariz transformador do que consideram ter sido «pontos de viragem fundamentais» na história humana.
O autor faz uma recapitulação do processo até formação do conceito «neolítico». Aponta o modelo de C. J. Thomsen que subdivide o período pré-histórico em «três idades» e que, algumas décadas depois, a sua «Idade da Pedra» se subdividiu em «Idade da Pedra Lascada» e «Idade da Pedra Polida» pois abrangia culturas com diferentes graus de desenvolvimento. Em 1865, John Lubbock propôs que os termos fossem substituídos por «Paleolítico» e «Neolítico» para evitar confusões já que «a lascagem da pedra ocorreu durante todo o período pré-histórico e houve culturas neolíticas sem machados polidos». Como ressalta De Laet, foi detetado um período intermédio nomeado de «mesolítico». Contudo, o termo esta a cair em desuso por seu período inicial ser considerado como continuação do Paleolítico Superior, designado por «Paleolítico final», e seu período final ser identificado como «proto-neolítico».
O autor define o «Neolítico» como «um estádio de desenvolvimento cultural no qual a economia de subsistência se baseava essencialmente na agricultura e na pecuária, e em que os metais ainda não eram usados para fazer utensílios ou armas». Devemos ter sempre presente que o Neolítico é «assíncrono», um período que não começa ao mesmo tempo em todas as regiões, e suas características podem mudar conforme os contextos.
«Do Plistocénico ao Holocénico: o dealbar de uma nova era» (De Laet, 1996, pp. 382/384)
No fim da última Idade Glacial os seres humanos já estavam espalhados pelo globo e viviam em diversos tipos de ecossistemas. Como De Laet refere, viviam exclusivamente da pesca e da caça, sobretudo megafauna, e por isso eram passíveis às «leis do equilíbrio biológico». A unidade social básica seria composta por algumas famílias e o grupo detinha, provavelmente, um território de caça próprio. Segundo o autor, «os seres humanos devem ter estado condicionados a instintos territoriais e hierárquicos», assim, seriam liderados por um «chefe» do tipo «macho dominante» e um líder espiritual, o «xamane» ou «feiticeiro», que se comunicava com seres sobrenaturais para garantir a sobrevivência do grupo.
A transição do Plistocénico para o Holocénico foi marcada por um aquecimento global e recuo dos glaciares que aumentou o nível dos mares e transformou a «face da Terra». As florestas expandiram e substituíram as estepes e a tundra, privilegiando a fauna de pequeno porte. Os animais de grande porte, tão importantes para a subsistência humana no período anterior, foram extintos ou migraram para regiões mais setentrionais em busca da tundra. Essas transformações tiveram consequências profundas nas comunidades humanas.
Como aponta o autor, alguns grupos não quiseram se adaptar a essas novas circunstâncias e migraram para norte seguindo seus animais de caça preferidos, as renas. Outros, passaram por processos de adaptação conforme as possibilidades de cada região. Em zonas temperadas, a caça passou a ser de animais de bosques que viviam em grupos menores ou mesmo isolados, como o corço e o javali. Caçar se tornou mais difícil e menos proveitoso, o que levou ao desenvolvimento de técnicas para auxílio, como o uso de arco e flecha, atestado pela abundancia de micrólitos, e domesticação gradual do lobo. Como ressalta De Laet, a caça de floresta exigia menos caçadores e não rendia suficiente para alimentar um grande grupo, por isso deve ter tido consequências nas estruturas sociais diminuindo o número de famílias por comunidade. A água atraiu alguns grupos que se dedicavam a pesca, apanha de mariscos e caça de focas.
De acordo com o autor, os grupos humanos foram progressivamente adaptando suas formas de vida para aproveitar o máximo de seu ambiente podendo ter uma mobilidade migratória conforme as atividades sazonais especializadas. Alguns se dedicaram a caça e colheita seletiva, caçam animais velhos ou machos jovens para não afetar no processo reprodutivo e tomam cuidado para não colher todas as sementes. Essa seleção demonstra grande conhecimento biológico e é vista por alguns autores como «pré-neolítica».
«Por que razão e como ocorreu a transição para a produção de alimentos» (De Laet, 1996, pp. 384/386)
No tempo de Gordon Childe pensava-se que o desenvolvimento da agricultura teria se dado numa «região nuclear» a partir da qual teria se difundido. Conforme o autor explica, já sabemos que a agricultura começou em diversas zonas de forma independente. De Laet cita alguns exemplos das diversas regiões nucleares que estão sendo investigadas, destaca-se, a Ásia ocidental como a mais antiga e a Mesoamérica como a mais recente.
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