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Reescrevendo a História Mundial

Por:   •  8/5/2018  •  Artigo  •  16.985 Palavras (68 Páginas)  •  345 Visualizações

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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - Instituto de Ciências Sociais

Departamento Relações Internacionais - Curso de Relações Internacionais

Disciplina: História das Relações Internacionais - 1º Período

Docente: Rodrigo Corrêa Teixeira

Reescrevendo a História Mundial 

Andre Gunder Frank

Quando nos referimos à história do sistema mundial, buscamos a história sistematicamente inter-relacionada da maior parte do "Velho Mundo" da Afro-Eurásia, pelo menos nos últimos cinco mil anos. Após 1492, o "Novo Mundo" e, então, o mundo inteiro foram incorporados ao mesmo sistema mundial. Para ler as histórias de determinadas regiões ou "civilizações", como processos relacionados de um fluxo único, mas diversificado, uma linha da história mundial oferece poderoso antídoto à história centrada na Europa ou às distorções da história centrada no Ocidente, cujo conteúdo é conhecidamente míope. A história do sistema mundial também oferece alternativas para a China, para o Islã, para a África e para outras particularidades distintas ao eurocentrismo. Após algumas referências adicionais ao eurocentrismo, resumimos alguns dos elementos conceituais da história do sistema mundial e os aplicamos em estudos de caso ilustrativos durante a Idade de Bronze, Antiguidade Clássica, início da Idade Moderna e a Contemporânea. Em cada caso, tento mostrar como tal perspectiva ampla e longa sobre a história do sistema mundial oferece leitura mais adequada da história regional durante estes períodos.

A tese defende que o sistema mundial contemporâneo tem história de pelo menos cinco mil anos. A ascensão da Europa e do [p. 15] Ocidente como dominantes neste sistema mundial são eventos recentes e provavelmente passageiros. Esta tese desafia o eurocentrismo oferecendo uma alternativa centrada no ser humano, que possui importantes implicações culturais, filosóficas, sociocientíficas e políticas. A tese também se encontra dirigida a preocupações e a controvérsias dentro da historiografia, estudos de civilizações, arqueologia, classicismo na história antiga, medievalismo, historia moderna, história econômica, sociologia macro-histórica, geografia política, relações internacionais, estudos sobre o desenvolvimento, ecologia, antropologia, raça, relações étnicas, relações de gênero e etc.

Categorias Teóricas e Debates

A principal categoria teórica desta história do sistema mundial dos últimos 3.000 anos é o próprio sistema mundial. Graças a Wallerstein,[1] nós acreditamos que a existência e o desenvolvimento do sistema mundial em que vivemos tem suas origens há pelo menos cinco mil anos. Wallerstein enfatiza a diferença que um hífen pode causar. Diferentemente de nosso sistema mundial, os sistemas-mundiais deste autor se encontram em um "mundo" próprio a eles. Não necessitam ser mundiais. Porém, é claro que o "novo mundo", nas Américas, era o lar de alguns sistemas-mundiais próprios, antes de serem incorporados ao já existente nosso sistema mundial após 1492.

O processo de acumulação de capital é força motriz da história do sistema mundial. Wallerstein e outros consideram a contínua acumulação de capital como a differentia specifica do "sistema mundial moderno". Já discutimos isso em outro momento e o sistema mundial "moderno" não é assim tão diferente. O mesmo processo da acumulação de capital teve seu papel, talvez até um papel central, no sistema mundial por milênios. No entanto, Amin e Wallerstein discordam. Eles argumentam que os sistemas-mundiais precedentes foram o que Amin define como "tributários" e Wallerstein [p. 16] chama de "impérios mundiais". Assim, Amin afirma e Wallerstein confirma que política e ideologia sempre estiveram no comando e não a lei econômica do valor no acúmulo de capital.

A estrutura centro-periferia no e do sistema mundial é conhecida pelos analistas da dependência no sistema mundial "moderno" e na América Latina desde 1492. A estrutura inclui, mas não se limita à transferência de mais-valia entre as regiões do sistema mundial. Já escrevi sobre isso[2] entre outras coisas mais. Entretanto, agora penso que essa categoria analítica é também aplicável ao sistema mundial anterior a estas análises.

A alternância entre a hegemonia e a rivalidade

Neste processo, as hegemonias regionais e as rivalidades se sucedem na dominância e na rivalidade. O sistema mundial e a literatura das relações internacionais têm produzido, recentemente, análises muito boas da alternância entre as lideranças hegemônicas e a rivalidade pela hegemonia no sistema mundial desde o ano de 1492, no caso de Wallerstein ou desde 1494 para Modelski e para Modelski & Thompson. Entretanto, a hegemonia e a rivalidade também caracterizaram o sistema da historia mundial por muito tempo antes disso.

Os longos e os curtos ciclos econômicos são alternados em ascendentes (denominadas como fases "A") e descendentes (denominados como fase "B"). No processo histórico real do mundo e em sua análise por estudantes do sistema mundial "moderno", estes longos ciclos são associados com cada uma das categorias precedentes. Ou seja, a característica importante do sistema mundial "moderno é que o processo de acumulação de capital sofre modificações no âmago da posição centro-periferia. Sendo o sistema mundial de hegemonia e rivalidade cíclico e ocorre um após o outro. Analisei os mesmos ciclos para o sistema mundial "moderno" em [p. 17] minha obra World Acumulation 1492-1789 and Dependent Accumulation and Underdevelopment.[3]

Agora acreditamos que os ciclos do sistema mundial e suas características se originaram muitos séculos antes de 1492. Esta tese encontra-se elaborada na obra The World System: Fite Hundred Years or Five Thousand?. Neste livro, esta tese é introduzida pela contribuição de Kaisa Ekholm e Jonathan Friedman. As contribuições se estendem a David Wilkinson, cujos argumentos defendem que no ano de 1500 a. C. as relações existentes entre Egito e Mesopotâmia deram origem ao que ele denomina de "Civilização Central". Civilização que se espalhou incessantemente, desde então, por todas as partes do mundo. A tese de um "sistema mundial único" é elaborada por mim em parceria com Gills. Immanuel Wallerstein e Samir Amin fazem críticas a esta tese e defendem que o "sistema mundial moderno" teve início há quinhentos anos. Eles sustentam que o sistema capitalista da produção distingue-se fundamentalmente dos "Impérios mundiais" e de todos os sistemas-mundiais precedentes, aos quais Amin chama de "tributários". Em resposta a nossa crítica, Wallerstein enfatiza a distinção acima mencionada entre seus "sistemas-mundiais", no plural, e o nosso "sistema mundial", no singular. Janet Ahu-Lughod, cujo trabalho foi revisto, contribui com argumentação crítica e defende a existência de um "sistema mundial do século XIII", considerado distinguível assim como distinto.

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