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Segredos Internos: Engenhos e Escravos na Sociedade Colonial

Por:   •  15/9/2018  •  Resenha  •  1.896 Palavras (8 Páginas)  •  1.246 Visualizações

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CHWARTZ, Stuart B. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial.

São Paulo: Companhia das Letras, 1988. Parte I, p. 21-77.

Kacia Mikaela de Sousa1

Stuart B. Schwartz possui PhD pela Universidade de Columbia, é professor titular de história na Universidade de Yale e editor da Cambridge History of Native People of Americas e da Hispanic American Historical Review. Entre seus livros publicados no Brasil, destacam-se: Burocracia e sociedade no Brasil Colonial (Brasiliense, 1978); Escravos, roceiros e rebeldes (Edusc, 2001); Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial (Companhia das Letras, 1988); As excelências do governador: o panegírico fúnebre a D. Afonso Furtado, de Juan Lopes Sierra (Companhia das Letras, 2002).

Na primeira parte do livro, o autor trata de modo minucioso a transição da grande lavoura açucareira do Velho para o Novo Mundo. Tendo como objetivo discutir assuntos como a inserção do trabalho escravo nessa transferência, uma vez que em oposição ao pensamento comum, relata que foram os indígenas os primeiros a serem escravizados, e descreve as possíveis razões da transição da mão-de-obra indígena para a africana, comparando as posições e papéis de cada uma. Ele evidencia como e quando a produção açucareira foi inserida no território brasileiro.

A primeira parte Formações, 1500-1600 está dividida em três tópicos: A grande lavoura açucareira: do Velho para o Novo Mundo; Uma geração exaurida: agricultura comercial e mão-de-obra indígena, e por fim, Primeira escravidão: do indígena ao africano.

No primeiro tópico A grande lavoura açucareira: do Velho para o Novo Mundo o autor inicia falando da ligação entre a produção do açúcar e as origens das economias americanas fazendo uma abordagem de modo abrangente acerca do deslocamento do cultivo da cana-de-açúcar e a sua inserção no Novo Mundo pelos portugueses e espanhóis após um longo processo histórico. A cana-de-açúcar vinha sendo cultivada na Península Ibérica desde o tempo da conquista dos mouros, sendo que no século XV, as várzeas irrigadas de Valência e do Algarve comerciavam o açúcar para o sul da Alemanha, os Países Baixos e a Inglaterra. Stuart Schwartz enfatiza o papel fundamental dos italianos, especialmente os genoveses, na

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  1. Graduanda em Licenciatura em História na Universidade Federal do Piauí – Campus Senador Helvídio Nunes de Barros. E-mail: kaaciasousa31@gmail.com

introdução e comercialização do açúcar em Portugal. No século XV o açúcar permaneceu como especiaria, utilizado particularmente como remédio ou condimento exótico, porém livros de receitas do século XVI indicam que o produto já estava ganhando lugar na dieta da aristocracia europeia. O autor evidencia que a escravidão não era naturalmente peculiar aos países ibéricos, e com a introdução do açúcar no sul da Península Ibérica estimulou o ressurgimento dessa prática. Uma das explicações para a escravidão foi a guerra intermitente, porém contínua, entre mulçumanos e cristãos na Península Ibérica criava prisioneiros e cativos para ambos os lados e, com isso, era uma fonte constante de escravos.

Foi através da expansão portuguesa pela costa ocidental da África à procura de ouro e especiarias que acabou por originar um tráfico de escravos africanos, entretanto até o século XV, a escravidão em Portugal foi primordialmente uma forma de servidão associada a trabalhos domésticos e ocupações urbanas. Além da extensão dos métodos comercias e técnicos tradicionais, os ibéricos também transferiram para as ilhas atlânticas o emprego de trabalho forçado ou escravo como característica lógica, e necessária da indústria açucareira, essas características prevaleceram nas ilhas Açores, Canárias, Cabo Verde, São Tomé e Madeira. Sendo que nos séculos XV e XVI quase todas as ilhas do Atlântico exportaram açúcar para os mercados europeus. Dentre essas ilhas, a que mais se destacou no final do século XV foi a Ilha da Madeira, tornando-se o maior monocultor de açúcar do ocidente, porém em 1613, os recursos da ilha da Madeira haviam decaído tanto que os agricultores de cana-de-açúcar da região procuraram importar açúcar brasileiro, como única maneira de atrair compradores para o produto local. Em São Tomé, o provisionamento de escravos acabou por tornar-se a atividade primordial da economia da ilha. Como podiam contar com um fornecimento constante de africanos, os engenhos de São Tomé tiveram condição de empregar a mão-de-obra escrava em escala até então desconhecida no Atlântico. O autor diz que não se conhece a data exata em que os portugueses introduziram a cana-de-açúcar no Brasil, pois entre o descobrimento em 1500, e o estabelecimento das capitanias hereditárias 1533-4, os interesses econômicos da Coroa e dos particulares estavam voltados mais para a comercialização do pau-brasil, de alto valor na Europa. Foi somente em 1530 e 1540 que a produção se estabeleceu e bases sólidas no Brasil, em síntese, ele mostra como foi expandido a escravidão e o comércio, e quais a ligação entre elas.


No segundo tópico Uma geração exaurida: agricultura comercial e mão-de-obra indígena, o autor destaca a história das relações entre os índios e a economia de grande lavoura na Bahia, não sendo somente essencial para o entendimento das origens dessa economia, mas também sob uma perspectiva mais ampla, pois mostra a noção das formas de trabalho que emergiam nas áreas coloniais foram, de certa maneira, predeterminadas pela lógica do desenvolvimento capitalista europeu. A economia açucareira no Brasil teve forte marcas da história dos contatos entre portugueses e indígenas ao longo da costa, uma vez que a escravização dos índios e

  1. uso de sua mão-de-obra no plantio e beneficiamento da cana revelaram-se etapa transitória no desenvolvimento da indústria açucareira, sendo empregado uma força de trabalho relativamente barata e prontamente acessível até que a atividade se encontrasse totalmente capitalizada. Já os escravos africanos só substituíram essa mão-de-obra indígena no final do século XVI e início do XVII. Entre os povos indígenas que entraram em contato com os portugueses nas duas primeiras décadas da história brasileira, os mais numerosos e amplamente dispersos eram os da família linguística tupi-guarani, que, na época do descobrimento, controlavam grande parte do litoral, desde o Maranhão até São Vicente, no sul. O principal grupo tupi na região da futura capitania da Bahia era o tupinambá, povo poderoso. Os aspectos integrantes da sociedade tupinambá eram a guerra e a captura de inimigos para serem mortos em meio à celebração de um ritual canibalístico.

O canibalismo ritual era algo abominado pelos portugueses e por isso tornou-se a principal justificativa para a escravização indígena, em 1570, o canibalismo continuou a fornecer uma "causa justa" para pô-los em cativeiro. Algo que o autor realça no texto é a surpresa dos europeus com o desinteresse dos índios por excedentes de produção, lucros e certas formas de propriedade. Os tupinambás e muitos de seus vizinhos praticavam uma economia de uso, e não de troca, e supriam suas necessidades sem se preocupar com o lucro no sentido europeu da palavra, e isso aos olhos dos europeus parecia prodigalidade, falta de interesse em lucros irritava-os, e mais de uma vez tais atitudes foram apresentadas como prova de irracionalidade do índio e, portanto, de sua falta de “humanidade”. Com isso, é perceptível o confronto de dois povos cujos sistemas econômicos e visões de mundo não poderiam ser mais opostos. Os povos tupinambás comiam os inimigos por vingança, já os aimorés comiam porque apreciavam a carne humana; e assim por

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