Trabalho de Historia Educação Infantil

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Pedagogia Noturno – História da Educação l

Prof.ª Dr.ª Vera Teresa Valdemarin

Vitor Matheus dos Santos Nascimento

Um pouco de mim

      Da infância lembro de ter me mudado para Araraquara, por questões financeiras e conflitos familiares. Meu pai, minha mãe e eu mudamos para a tão famosa cidade da laranja. Mudança essa não drástica e muito inovadora. Diferente de outras mudanças já existentes dentro das famílias tradicionais brasileira.

      Cresci longe da minha irmã e meu irmão, mas fui recompensado entrando em uma creche nova, com muitas crianças. Todas elas vestidas com uniforme branco, short vermelho e nos pés, conga, a maior tendência da época. E além dos vários irmãozinhos ganhei também uma grande caixa de areia, que mais tarde me daria impingem. E até tive direito há trinta segundos de fama. A princípio, todas elas demonstraram muito interesse por mim, claro, aluno novo, de outra cidade, usando bermudão e papete do Guga, e além do mais eu era bonitinho, mas isso logo passou.

      Dois anos depois conquistamos o sonho da maioria dos pobres brasileiros, a casa própria. Mudamos mais uma vez e eu entrei para o ensino fundamental 1. Bairro novo e distante da escola, o lado positivo é que a maioria das crianças na nova escola eu já conhecia.

      Em casa as coisas eram bem diferentes da casa das outras crianças. Meus pais trabalhavam o dia todo, meus amigos da escola moravam longe, eu não podia sair para brincar porque era perigoso e não tinha brinquedos em casa. Por algum motivo meus pais nunca foram de comprar brinquedos.

      Gosto de pensar que eles tinham uma forma de educar que não envolvesse o capitalismo e a indústria dos brinquedos. Mas no fundo eu sei que eles só eram xucros demais para gastar dinheiro com o que julgavam ser futilidades. Porém, eu não reclamo, tive tempo de sobra para ler e assistir as novelas do“ vale a pena ver de novo”. Sem contar que crianças que não interagem com brinquedos industrializados se desenvolvem melhor e criam sua própria independência porque brincam com o que tem de uma forma mais lúdica.

      Um tempo depois contrataram uma moça que ficava em casa comigo, Jéssica. Ela até que era legal, passava a maior parte do dia assistindo televisão e sempre me deixava comer chocolate. Talvez eu deva a ela o fato de ter sido uma criança gorda. Não demorou muito e ela parou de trabalhar em casa, e aí eu passei a ficar sozinho. Mexia em tudo que não podia, bagunçava a casa inteira e antes do meu pai chegar eu colocava tudo no lugar para ninguém desconfiar.

      Com nove anos eu entrei num projeto muito legal que funcionava no Melusa Clube. De terça e quinta eu tinha aula de dança contemporânea, capoeira, sapateado, música, teatro e dança de rua. Era a melhor parte da semana e eu só precisava estar em um lugar ótimo, com professores incríveis e com um monte de criança que eu gostava. A parte ruim era a hora de ir embora. Voltar para casa sempre foi um problema para mim, estar fora era sempre tão divertido.

      Por questões de um relacionamento paternal que nunca deu certo, eu gostava de estar longe da presença do meu pai. Ele nunca se mostrou muito afetuoso, era rude e para ajudar eu tinha que passar mais tempo com ele do que com minha mãe. Essa trabalhava a noite, como em todos os outros empregos dela. Apesar dela sempre ressaltar que éramos amigos, a gente só se via mesmo nos finais de semana. Porque quando eu levantava para ir para a escola ela estava dormindo, quando eu chegava ela já tinha saído para trabalhar e aí quando ela chegava quem estava dormindo era eu.