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Vaticano crise

Por:   •  1/7/2015  •  Monografia  •  1.881 Palavras (8 Páginas)  •  296 Visualizações

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Crises no Vaticano abalam os alicerces da Igreja Católica. É corrente vermos nos meios de comunicações escândalos sexuais que atingem diretamente a principal corrente da maior religião do mundo[1] (O Cristianismo conta com cerca de aproximadamente 2,2 bilhões de adeptos). A situação de clérigos Católicos envolvidos em escândalos é tão alarmante para a Cúria Romana, que pressionou o atual Papa à realização de uma comissão[2] que ficaria responsável por investigar possíveis crimes de pedofilia.

Como March Bloch nos ensina em Apologia da História, para que o passado seja compreendido e explicado, “uma primeira condição teve que ser cumprida: observar, analisar a paisagem de hoje. Pois, apenas ela dá as perspectivas de conjunto de que era indispensável partir”[3]. Este trabalho não pretende fazer uma análise sobre a Igreja atual, porém, é essencial  fazer ao menos um breve comentário sobre um momento presente que está tão relacionado com o passado, ainda que a relação homoerótica e homoinfantil sejam consideradas diferentes entre a Época Moderna e os tempos atuais.

No Brasil, houve a visita inquisitorial em três oportunidades. A primeira, entre 1591 e 1595, passando por Bahia, Pernambuco, Itamaracá e Paraíba, em um momento em que a União Ibérica enviava vários inquisidores às suas colônias. A segunda, de 1618 a 1621, a cargo de dom Marcos Teixeira, voltou à Bahia, dessa vez com maior foco na busca por cristãos-novos. A terceira, de 1763 a 1769, visitou a província do Grão-Pará e Maranhão e ficou sediada em Belém.

Durante os anos 60 do século XX, na chamada terceira geração dos Annales, o diálogo interdisciplinar na História ganhou ainda mais fôlego. Estudos como a infância, o corpo, o amor, a sexualidade, as formas de sociedade e etc. - ou seja, estudos que necessitavam de outras áreas - foram finalmente incorporados ao campo do conhecimento da História. A chamada Nova História demorou a ser introduzida nos estudos da historiografia brasileira, o que ocorreu somente em meados dos anos 80, coincidindo com a reformulação, na França, da história das mentalidades. Neste momento, a Nova História Cultural passou a destacar-se como sua “principal ‘herdeira’” [4].

Existem vários trabalhos que lidam com a questão da homossexualidade no Brasil Colônia, porém, poucos autores trabalham com o tema de maneira objetiva. Geralmente, temos um autor falando sobre algo, como por exemplo, a Inquisição, e tratando o tema da homoafetividade apenas como um dos ditos perseguidos pelo Santo Tribunal. Essas análises contribuem bastante, no entanto, ainda falta um quantitativo de trabalho mais completo.

Talvez o trabalho mais específico seja da Historiadora Veronica de Jesus Gomes. Em sua tese de mestrado, foi apresentado o trabalho Vícios dos Clérigos. Neste trabalho, ela levanta questões acerca de como o homossexualismo foi considerado abominável, além de abordar a homossexualidade na Igreja europeia, e, por fim, no Brasil. Gomes concorda com a visão de alguns grandes autores, (Vainfas, Mott e Freyre), contudo, ele vai além. Vainfas e Gilberto Freyre dizem que a problemática da homossexualidade dava-se por uma questão hierárquica, em que aquele que possui mais “poder”, exerce um controle sobre o outro, de maneira a subvertê-lo para relações homoeróticas. Em contrapartida, Mott diz que esta questão é igualitária, pois dentro da relação não existia uma diferença entre o “casal”, já que em sua maioria, tanto um como o outro ora eram sujeitos paciente, ora eram agentes. Gomes não nega nenhuma das teorias e afirma que tal relação se dava por uma questão hierárquica, porém, com o passar do tempo, ela acreditava que a relação poderia se tornar afetiva[5]. Assim, para Gomes, seria uma relação de “igualdade” no que tange ao fato de ambos praticarem o mesmo – serem pacientes e agentes -, contudo, ela ressalta que os relacionados não se esqueciam da hierarquia.

No Brasil, um dos maiores especialistas no assunto inquisição é o professor da UFF, Doutor Ronaldo Vainfas. Possuindo uma enorme quantidade de livros dedicados ao tema, ele vai desde o Macro - com temas como o surgimento do pecado - até o micro, abordando assuntos como a Inquisição em aldeias indígenas. Um dos livros publicados de Ronaldo Vainfas que trata sobre o tema é o  Livro Trópico dos pecados, no qual ele caracteriza várias formas de pecado e explica a provável origem destes.

Segundo Vainfas, uma grande quantidade de adeptos à sodomia já chegou ao Brasil com tais características, uma vez que estas foram adquiridas em sua história na Europa. Ao instalarem-se na colônia, estes davam continuidade às práticas desenvolvidas no velho continente. Segundo o autor, havia um “caos de brancos” (vindo da Europa e que aqui residiam) sodomitas, e este era causado justamente pelo fato dos brancos serem maioria na porcentagem da “população sodomita” que aqui residia. Este caos também abrangia indivíduos de diversas idades e posições sociais; envolvia pessoas que, desde a infância já mantinham a preferência por indivíduo do mesmo sexo e não se envolviam com os do sexo oposto, e outros considerados bissexuais - estes praticavam relações sexuais tanto com homens quanto com mulheres, chegando por vezes a ter um casamento com mulheres, porém mantendo um relacionamento nefando com pessoas do mesmo sexo[6].

Segundo Vainfas, o período inquisitorial é um momento onde a intolerância para com os praticantes da sodomia é aumentada de maneira significativa. Entretanto, Vainfas deixa claro que, apesar da grande perseguição, pessoas foram simplesmente “esquecidas pelos grandes olhos do Santo Tribunal”. Estas pessoas eram descartadas pelos inquisidores por se tratarem de indivíduos que ocupavam uma alta posição na sociedade. Por haver certa displicência em relação à essas pessoas, elas poderiam cometer o crime nefando e sair impunes, o que facilitou a proliferação do crime na colônia. A diferença de poder era deixada bem clara: Quando acusavam uma pessoa de alto escalão, o acusador não era atendido, todavia, quando um cidadão de alto prestígio ia denunciar alguém, ocorria o contrário, de forma que sua palavra era dada como quase cem por cento confiável [7].

Vainfas ainda faz uma analise infanto-juvenil, descrevendo o ato da sodomia como algo sem maturidade. Para o autor, os jovens não possuíam idade e pouca ou quase nenhuma experiência para determinar sua posição perante a sua sexualidade. O autor indica que a forma que se vivia na sociedade europeia foi refletida na sociedade brasileira, e esta forma fazia com que os jovens praticassem atos sexuais. A falta de privacidade nas residências fazia com que os jovens tivessem uma vida muito próxima, dessa maneira, eles brincavam juntos, dormiam juntos, ou seja, passavam o dia juntos, assim, muita vezes não se tinha contato com o sexo oposto. Vale lembrar que, a vida na colônia brasileira era muito “entrelaçada” socialmente. Dessa maneira, pessoas de todas as classes “viviam em comunidade” de uma maneira pacifista, ou seja, todos poderiam ser possíveis praticantes de sodomia. Não obstante, o autor deixa claro que, isso não quer dizer que o crime vá determinar a sexualidade do jovem, e sim que, nesta idade, o crime é cometido por impulso e não por consciência[8].

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