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A CULTURA

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Por:   •  11/4/2014  •  3.407 Palavras (14 Páginas)  •  222 Visualizações

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A CULTURA

As meninas-lobo

Na Índia, onde os casos de meninos-lobo foram relativamente numerosos, descobriram-se, em 1920, duas crianças, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma família de lobos. A primeira tinha um ano e meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de idade, viveu até 1929. Não tinham nada de humano e seu comportamento era exatamente semelhante àquele de seus irmãos lobos.

Elas caminhavam de quatro patas apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos para os pequenos trajetos e sobre as mãos e os pés para os trajetos longos e rápidos

Eram incapazes de permanecer de pé. Só se alimentavam de carne crua ou podre, comiam e bebiam como os animais, lançando a cabeça para a frente e lambendo os líquidos. Na instituição onde foram recolhidas, passavam o dia acabrunhadas e prostradas numa sombra; eram ativas e ruidosas durante a noite, procurando fugir e uivando como lobos. Nunca choraram ou riram.

Kamala viveu durante oito anos na instituição que a acolheu, humanizando-se lentamente. Ela necessitou de seis anos para aprender a andar e pouco antes de morrer só tinha um vocabulário de cinqüenta palavras. Atitudes afetivas foram aparecendo aos poucos.

Ela chorou pela primeira vez por ocasião da morte de Amala e se apegou lentamente às pessoas que cuidaram dela e às outras crianças com as quais conviveu.

A sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se com outros por gestos, inicialmente, e depois por palavras de um vocabulário rudimentar, aprendendo a executar ordens simples.

1. Introdução

O relato desse fato verídico nos leva à discussão à respeito das diferenças entre homem e o animal. As crianças encontradas na Índia não tiveram oportunidade de se humanizar enquanto viveram com os lobos permanecendo, portanto, "animais". Não possuíam nenhuma das características humanas: não choravam, não riam e, sobretudo, não falavam. O processo de humanização só foi iniciado quando começaram a participar do convívio humano e foram introduzidas no mundo do símbolo pela aprendizagem da linguagem.

Fato semelhante aconteceu nos Estados Unidos com a menina Helen Keller, nascida cega, surda e muda. Era como um animal até a idade de sete anos, quando seus pais contratarem a professora Anne Sullivan, que, a partir do sentido do tato, conseguiu conduzi-la ao mundo humano das siginificações.

2. A atividade animal

Ação instintiva

Os animais que se situam nos níveis mais baixos da escala zoológica de desenvolvimento, como, por exemplo, os insetos, têm a ação caracterizada, sobretudo, por reflexos e instintos. A ação instintiva é regida por leis biológicas, idênticas na espécie e invariáveis de indivíduo para indivíduo. A rigidez dá a ilusão da perfeição quando o animal, especializado em determinados atos, os executa com extrema habilidade. Não há quem não tenha ainda observado com atenção e pasmo o "trabalho" paciente da aranha tecendo a teia. Mas esses atos não têm história, não se renovam e são os mesmos em todos os tempos, salvo as modificações determinadas pela evolução da s espécies e as decorrentes de mutações genéticas. E mesmo quando há tais modificações, elas continuam valendo para todos os indivíduos da espécie e não permitem inovações, passando a ser transmitidas hereditariamente

Em certas aves chamadas tentilhões, o hábito de fazer ninhos típicos da espécie é tão fixo que após cinco gerações em que essas aves eram criadas por canários, ainda continuavam a construí-los como antes.

O psicólogo Paul Guillaume explica que um ato inato não precisa surgir desde o início da vida, pois muitas vezes aparece apenas mais tarde, no decorrer do desenvolvimento: andorinhas novas, impedidas de voar até certa idade, realizam o primeiro vôo sem grande hesitação; gatinhos não esboçam qualquer reação diante de um rato, mas após o segundo mês de vida aparecem reações típicas da espécie, como perseguição, captura, brincadeira com a presa, ronco, matança etc.

Na verdade os instintos são "cegos", ou seja, são uma atividade que ignora a finalidade da própria ação. A vespa "fabrica" uma célula onde deposita o ovo junto ao qual coloca aranhas para que a larva, ao nascer, encontre alimento suficiente. Ora, se retirarmos as aranhas e o ovo, mesmo assim o inseto continuará realizando todas as operações, terminando pelo fechamento adequado da célula, ainda que vazia. Esse comportamento é "cego" porque não leva em conta o sentido principal que deveria determinar a "fabricação" da célula, ou seja, a preservação do ovo e da futura larva.

O ato humano voluntário, em contrapartida, é consciente da finalidade, isto é, o ato existe antes como pensamento, como uma possibilidade, e a execução é o resultado da escolha dos meios necessários para atingir os fins propostos. Quando há interferências externas no processo, os planos também são modificados para se adequarem à nova situação.

A inteligência concreta

Nos níveis mais altos da escala zoológica, por exemplo com os mamíferos, as ações deixam de ser exclusivamente resultado de reflexos e instintos e apresentam uma plasticidade maior, característica dos atos inteligentes. Ao contrário da rigidez dos instintos, a resposta ao problema, ou à situação é nova para os quais não há uma programação biológica, é uma resposta inteligente, e como tal é improvisada, pessoal e criativa.

Experiências interessantes foram realizadas pelo psicólogo gestaltista Kõhler nas ilhas Canárias, onde instalou uma colônia de chimpanzés. Um dos experimentos consiste em colocar o animal faminto numa jaula onde são penduradas bananas que o animal não consegue alcançar. O chimpanzé resolve o problema quando puxa um caixote e o coloca sob a fruta a fim de pegá-la. Segundo Kõhler, a solução encontrada pelo chimpanzé não é imediata, mas no momento em que o animal tem um insight (discernimento, "iluminação súbita"), isto é, quando o macaco tem a visão global do campo e estabelece a relação entre o caixote e a fruta.

Esses dois elementos, o caixote e a banana, antes separados e independentes, passam a fazer parte de uma totalidade. É como se o animal percebesse uma realidade nova que lhe possibilita uma ação não-planejada pela espécie. Portanto, não se trata mais de ação instintiva, de simples reflexo, mas de um ato de inteligência.

A inteligência distingue-se do instinto

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