A Conquista da América: A questão do Outro
Por: Katia Danyela • 22/5/2019 • Resenha • 1.871 Palavras (8 Páginas) • 513 Visualizações
TODOROV, Tzvetan. A Conquista da América: A questão do Outro. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
Resenha[1]
Katia Daniela Gomes Honorato[2]
Tzvetan Todorov, nasceu em Sofia, Bulgária, em 1939 e estudou filologia na Universidade de Sofia. Em 1963, emigrou para Paris. Foi pesquisador do Centre National de La Recherce Scientifique (CNRS), além de professor visitante das Universidades de Yale, Harvard, Columbia e Berkeley. Entre outras obras é autor de A gramática de Decameron (1969), A conquista da América (1982) e Os inimigos íntimos da democracia (2012). Faleceu em 2017.
A obra “A Conquista da América: a questão do outro”, poderia ser entendida a princípio, como um livro em que o autor relata como se deu o encontro de Colombo com os habitantes das “Ìndias ocidentais”, as relações de embate entre o conquistador espanhol Cortez e o imperador asteca Montezuma e como se deu a aculturação sobre os nativos do México. No entanto, percebemos que através das linhas envolventes de Todorov, o autor vai além de simplesmente contar uma história. Na leitura, conseguimos observar que o autor usa de uma essência irônica da dualidade entre amor e ódio com o intuito de examinar o conceito de alteridade, ao mesmo tempo em que explicita sobre as conquistas portuguesas e espanholas no território americano.
A escolha do continente americano como objeto de análise, sobre o olhar do homem branco europeu, fundava-se em um mundo novo em que existiam novos idiomas, paisagens inexploradas e principalmente novas relações dos homens com o mundo, o que vemos no próprio subtítulo do livro: “A questão do outro”. Dessa forma o autor busca enfatizar a descoberta que o “eu faz do outro”, evidenciando as diferenças culturais que existiam entre os espanhóis e os habitantes da América.
Para construir a sua teoria, Todorov utiliza sujeitos históricos que ele considera como sendo os principais responsáveis pela “descoberta”, como Colombo, Las Casas, Cortez, Montezuma, Sepúlveda, entre outro
Este livro será uma tentativa de entender o que aconteceu neste dia, e durante o século seguinte, através da leitura de alguns textos cujos autores serão minhas personagens. Eles monologarão, como Colombo, dialogarão através de atos, como Cortez e Montezuma, ou através de enunciados eruditos, como Las Casas e Sepulveda. (TODOROV, 2003, p. 7).
O Livro é dividido em quatro capítulos (Descobrir, Conquistar, Amar e Conhecer). No primeiro capítulo que leva o título de “Descobrir”, Todorov faz uma análise de como Colombo reagiu ao chegar ao novo continente, utilizando para isso fontes colhidas em cartas e diários do próprio Colombo e dos demais integrantes que o acompanhavam nessa jornada. De acordo com os relatos encontrados no diário do navegador, fica claro que Colombo se aventurou nessa jornada por desejo de riqueza, poder e também por questões religiosas, pois sentia-se como em uma missão dada a ele por Deus e seu propósito seria “converter a nossa fé em uma multidão de povos, ganhando grandes territórios e riquezas” (p. 43).
Todorov também chama a atenção para o fato de que ao analisar as fontes, observou que o “descobridor” sempre se mostrou com extremo interesse em torno de tudo o que ele encontrava, podia se tratar de ilhas, montanhas ou rios e que ele agia sem a mínima preocupação de saber se possuíam donos ou nomes, passando a tomar “posse” dos mesmos, assim como também evidenciou que o olhar do navegador sobre os indígenas foi descrito como se eles simplesmente fizessem parte da paisagem, quando mencionava os habitantes nativos, esses estavam inseridos nas suas anotações referentes a natureza, entre a floresta, árvores e animais. “Até então, ia cada vez melhor, naquilo que tinha descoberto, pelas terras, como pelas florestas, plantas, frutos, flores e gentes”(“Diário”, 25.11.1492). O que o autor entendeu como uma forma de demonstração de pouco interesse verdadeiro em conhecê-los.
O autor relata que a primeira menção de Colombo sobre os nativos foi a falta de vestimentas onde ele escreveu: “Então viram gentes nuas...”, demonstrando que para os colonizadores, o fato dos indígenas estarem despidos de vestes, significava também que estavam despidos de costumes, religião, ritos e cultura em geral e em outro relato Colombo escreve que os indígenas são como “ folhas em branco”, o que faz com que observemos que o navegador enxergava os nativos apenas a partir dos seus próprios valores europeus, não percebendo o outro, analisando a partir das suas próprias visões e maneiras de ver o mundo, dessa forma a alteridade fica estabelecida de maneira desigual e hierarquizada.
Essa falta de conhecimento sobre os povos americanos e as idéias pré-concebidas por parte do colonizador, também vinham cercadas de uma certa ambiguidade. Em algumas fontes os indígenas são descritos como pessoas extremamente bondosas e dóceis, demonstrando a teoria do “bom selvagem” e em outras são intitulados de “cães imundos”, pelo fato de não possuírem entendimento sobre as práticas culturais que se possam existir para além das práticas do cristianismo que os europeus pregam e acreditam. Essa ambiguidade que se observa expressamente, assim como em certos comportamentos relatados por Colombo e colocados no livro de Todorov, demonstra a marca particular da história da descoberta da América, entendida como o primeiro episódio da “conquista”.
A expressão “Colombo descobriu a América, mas não os americanos”, nos mostra o quanto é revelador o estranhamento e as dificuldades de entendimento por parte dos colonizadores e também dos indígenas, revelando então o lado cruel da relação que existia entre “descobridores’ e “descobertos”.
O autor também relata como teria sido a visão do indígena em relação ao colonizador. “É possível, como diz Colombo, que os índios tenham considerado a possibilidade de os espanhóis os terem visto como seres de origem divina”. O que explicaria o motivo do medo inicial e seu desaparecimento ao se deparar com comportamentos tão distintos por parte dos espanhóis Esse comportamento “estranho”, foi classificado por Todorov como sendo a cobiça dos espanhóis que se mostram permanentemente em busca de riquezas e prazeres.
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