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A Eva Barbada: Ensaios de Mitologia Medieval" Hilário Franco Júnior

Por:   •  25/6/2019  •  Resenha  •  1.238 Palavras (5 Páginas)  •  234 Visualizações

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Este trabalho refere-se a um texto dissertativo sobre o capítulo 2 do livro de Hilário Franco Júnior, A Eva Barbada, que trata do imaginário da Idade Média com ênfase no cristianismo medieval e mitologia. O autor sobre o qual a resenha se refere é historiador brasileiro, especialista em Idade Média. Formou-se em história pela Universidade de São Paulo, onde também fez doutorado e lecionou. Além disso, realizou pós-doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales, na França.

O historiador inicia o capítulo abordando o livro do medievalista francês Philippe Walter, Mythologie chrétienne, o qual será retomado diversas vezes por apresentar certa desordem com relação às proposições que faz sobre mitologia medieval. Hilário Franco, ao analisar a obra do autor francês, indica opções metodológicas com as quais concorda - como o estudo da mitologia medieval a partir de documentos eclesiásticos, hagiográficos e iconográficos, além de fontes literárias e o uso do método comparativo - porém aponta inadequação por parte de Philippe Walter que cita, por exemplo, poucas vezes as fontes iconográficas, analisa pobremente as hagiografias e foca quase que exclusivamente nos mitos celtas quando faz comparações com a religião cristã.

Ao falar sobre o rito e o mito, Hilário compactua com a postura de Philippe. O rito e o mito são interdependentes, pois o primeiro leva o segundo à sua dimensão prática, não sendo visto unicamente na sua função narrativa, levando a melhor compreensão do alcance que a mitologia possuía na sociedade cristã ocidental.

O primeiro grande impasse que o livro de Walter apresenta é “desconsiderar a necessidade de uma cronologia mais fina, menos generalizadora”. O mito representa ao mesmo tempo imagens mentais, imagens materiais, e objetos culturais. Desse modo “é preciso considerar que o mito não é história dos eventos políticos ou econômicos, mas história da sensibilidade coletiva” (JÚNIOR, p. 47). Além disso, a larga permanência de um relato mítico se dá porque representa valores fortemente enraizados.

Além do mais, “a temporalidade não é indiferente ao mito, ela o usa para se pensar” (JÚNIOR, p. 49). Isso quer dizer que as narrativas mitológicas conhecidas por uma cultura, qualquer que fossem suas procedências, eram adaptadas à sua maneira de viver e ao período histórico em que vivia.

O segundo ponto que Philippe Walter coloca é que a mitologia cristã na Idade Média “se apresenta antes de tudo como uma mitologia cristianizada”. Para comprovar isso, ele cita a carta de Gregório Magno à Agostinho de Canterbury, aconselhando que não destruísse os templos pagãos, mas os transformasse em igrejas cristãs. Isso demonstra o reconhecimento da sacralidade daqueles locais. A partir disso, Franco Júnior apresenta um ponto essencial: a semelhança que havia entre as religiões pagãs e a religião cristã, exemplificada também nas cerimônias de sacrifícios. De todo modo, “o amplo denominador comum entre cristianismo medieval e paganismos europeus da época estava justamente na visão mítica do mundo que ambos possuíam” (JÚNIOR, p. 50). Embora apresentassem discursos muito diferentes, existia de fato um sincretismo entre as mitologias.

Assim, não há uma “criatividade mitológica do cristianismo”, mas sim uma incorporação constante de novos relatos. Isso aponta um paradoxo por parte da Igreja que, ao mesmo tempo que existia essa fusão mítica, temia a ampliação de um universo narrativo que fugisse ao seu controle. Conclui-se que esse sincretismo não deve ser estudado como parte da história institucional mas sim da história da cultura e das mentalidades.

A razão pela qual Walter não enxerga uma mitologia cristã, mas cristianizada, é porque ele a vê como ideologia, ao contrário de um conjunto de crenças e práticas religiosas. Assim, o cristianismo medieval passa a ser apenas um “absorvedor de mitologias estranhas a ele, numa estratégia para descaracterizar e englobar outras culturas” (JÚNIOR, p. 52).

Outro ponto importante foi reconhecer que o cristianismo não teria ganhado força caso não atendesse às necessidades espirituais daqueles que pretendia evangelizar. Com isso, era necessário reconhecer semelhanças com outras mitologias, levando naturalmente à um sincretismo.

O terceiro e mais importante entrave do livro de Walter é indicar que “o cristianismo medieval não se confunde com uma mitologia”. Como aponta Hilário Franco Jr., a cultura cristã oficial considerava mito uma fantasia advinda da Antiguidade, e portanto pagã. Desse modo, negava que o cristianismo ocidental pudesse ser mitologia. Os relatos sagrados deveriam ser racionalizados e historicizados. Entretanto, perceber que “o cristianismo medieval não era apenas um conjunto de dogmas ou a fundamentação ideológica de certos grupos sociais” (JÚNIOR, p.

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