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A Imprensa Sob Auspeição

Por:   •  19/8/2021  •  Ensaio  •  1.437 Palavras (6 Páginas)  •  98 Visualizações

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A IMPRENSA SOB SUSPEIÇÃO: OS CUIDADOS COM AS FONTES QUE ENVOLVEM OS TEMAS EM DISPUTAS NARRATIVAS QUE VISAM  ATENDER O GRANDE PÚBLICO

Jose Luis dos Santos Leal[1]*

LUCA, Tânia Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PÍNSKY, Carla Bassanezí (org.). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2008. p. 111-154.

A questão de partida deste paper é discutir a luz das fontes históricas tendo como referência o texto de Luca (2008) o papel da imprensa na produção de documentos e matérias que podem estar em disputas narrativas em dado contexto econômico-político de um determinado espaço da produção da vida cotidiana. Pretende-se assim, estabelecer uma discursão sobre o ofício do historiador frente a suspeição dos documentos produzidos pela imprensa escrita.

O texto de Luca (2008) intitulado, “História dos, nos e por meio dos periódicos” está dividido em 14 seções e tem por objeto central de discursão o tratamento de periódicos como fontes e objetos de pesquisa na historiográfica. No contexto de análise da autora o enfoque da mídia (imprensa escrita) como objeto de estudo é colocada como instrumento passível de manipulação de interesses e disputas narrativas. Ao decorrer da escrita do texto a autora chama a atenção dos pesquisadores sobre os cuidados com as fontes da imprensa, pois a finalidade destes dispositivos midiáticos está centrado na difusão de informação de um dado momento histórico.

Neste contexto, o uso dos periódicos de cunho jornalístico como fonte de pesquisas históricas devem sempre passar pelo “crivo crítico” do pesquisador, assim, é preciso ler para além das informações prestadas na matéria. A leitura feita pelo pesquisador deve passar por uma análise fundamental que envolve o grande público frente aos seus desdobramentos produzidos para alcançar este fim, ou seja, as primeiras análises devem ser direcionadas para a fonte, no sentido de estabelecer quais disputas narrativas estavam em jogo no momento da publicação, quem era o grande público que a matéria quis alcançar? a história da matéria foi encomendada? quais os interesses e os contextos da matéria? Neste cenário de suspeição do objeto, o pesquisador deve se atentar ainda para as condições políticas, econômicas e sociais ao qual a matéria foi produzida.

Segundo Bourdieu (1997) o universo do jornalismo é um campo que está inserido sob as dinâmicas e estruturas da pressão do campo econômico e político, a partir de uma realidade a qual a informação pelo viés midiático se submete a disputas de interesse da audiência na tentativa de alcançar o grande público. Assim, é através da audiência e do alcance da matéria para um determinado público que a lógica comercial e política se impõe sobre às produções culturais daquele contexto.

Neste estudo sobre a influência do jornalismo, Bourdieu aponta um elemento importante para discutir a suspeição das fontes produzidas pela imprensa. O campo político e econômico tendem a modelar as impressões estabelecidas nas matérias dos jornais, possibilitando que discursos e valores de verdade construídos a partir do prisma dominante da elite do capital simbólico selecione os “fatos e as verdades” daquele processo histórico.

Para Luca (2008) é fundamental a compressão do pesquisador na análise de construção do contexto político da publicação, e como os elementos da área de difusão dessa publicação, tiveram relações com instituições políticas e financeiras do órgão que a publicou. No mesmo passo, Cruz & Peixoto (2007) entendem que os materiais jornalísticos não podem ser considerados como instrumentos neutros ou isentos dos contextos das publicações, pois estes, atendem a diversos interesses econômicos, políticos e ideológicos, podendo atuar como:

(1) fomento a adesão ou ao dissenso, mobilizando para a ação; (2) na articulação, divulgação e disseminação de projetos, ideias, valores e comportamentos; (3) na produção de referências homogenias e cristalizadas para a memória social; (4) pela repetição e naturalização do inusitado no cotidiano, produzindo o esquecimento; (5) no alinhamento da experiência vivida globalmente num mesmo tempo histórico na sua atividade de produção de informação de atualidade; (6) na formação de nossa visão imediata de realidade e de mundo; (7) na formação do consumidor, funcionando como vitrine do mundo das mercadorias e produção das marcas. (CRUZ &PEIXOTO, 2007, p. 259).

Esses elementos apontados por Cruz & Peixoto ao qual o discurso da impressa permeia o âmbito da vida cotidiana devem ser levado em consideração pelo pesquisador na hora de realizar a seleção das fontes, pois caso ao contrário, podemos cair nas armadinhas que essas fontes históricas podem causar.

Um caminho argumentativo seguro para ilustrar as nossas análises estão nos temas produzidos pela impressa policialesca e todo o efeito que ela pode causar em determinados espaços e contextos, ou seja, a parir desta fonte que é produzida por este tipo de imprensa é que podemos ter uma dimensão dos riscos que as disputas narrativas e os jogos de interesses podem causar nessas fontes.

Temas de matérias que envolvem a criminalidade violenta urbana sempre estão em negociação com o Estado que detém o monopólio do uso legítimo da força[2]**, a parir de dados ou informações que podem ser negociadas entre o governo e as linhas editoriais. Para Michel Misse a “(...) a mídia participa da construção dos conflitos sociais e da violência como um de seus personagens e não apenas como seu relator público” (MISSE, 2008, p. 10). Assim, se tratando de criminalidade as mídias exercem um papel fundamental na propagação de notícias sobre fenômenos ligados à esfera criminal, porém, a seleção e a publicação dos dados em alguns casos perpassam pela negociação com as linhas editoriais.

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