A Influência do Sobrenatural nas Disputas Empreendidas pela Companhia de Jesus
Por: Juan Isoton • 22/10/2018 • Projeto de pesquisa • 9.579 Palavras (39 Páginas) • 143 Visualizações
JUAN PABLO ISOTON DE SANTANA
A influência do sobrenatural nas disputas empreendidas pela Companhia de Jesus no contexto das Missões de Chiquitos segundo a crônica de Juan Patricio Fernández (1726)
Projeto de Mestrado apresentado como requisito para a seleção para o curso de mestrado em História do PPGHIS/UFMT.
Linha de Pesquisa 1 – Territórios, Sociedades e dimensões da Política
Cuiabá, Outubro de 2018
SUMÁRIO
1 | INTRODUÇÃO | 3 | |
2 | JUSTIFICATIVA | 6 | |
3 | DISCUSSÃO BIBLIOGRÁFICA | 7 | |
4 | OBJETIVOS | 12 | |
5 | REFERÊNCIAS TEÓRICAS | 13 | |
6 | FONTES E METODOLOGIA | 17 | |
7 | CRONOGRAMA DE PESQUISA | 21 | |
8 | BIBLIOGRAFIA | 22 |
- INTRODUÇÃO
Este projeto tem por objetivo problematizar quais eram os papéis exercidos, e a forma como eram executados, pelos agentes sobrenaturais cristãos, Deus e o Diabo, nas disputas empreendidas pelos jesuítas nas Missões de Chiquitos. O que pretendo saber, contudo, se restringe à visão que o padre jesuíta Juan Patricio Fernández [1661-1733], autor da crônica histórica Relacion Historial de las misiones de indios Chiquitos, tinha acerca da influência exercida pela Divina Providência e por Satã no processo de estabelecimento e manutenção das missões. Parto da constatação de que estes agentes de fato tinham relevância nos conflitos narrados pelo missionário[1], e que tais disputas se vinculavam aos povos e às terras para onde dirigiam as missões.
Durante o período colonial na América foi comum a concepção de que Deus e o Diabo eram seres concretos que se digladiavam em função do controle das almas e dos territórios postos em disputa a partir da chegada dos europeus. Esses enfrentamentos faziam parte do processo de conquista e colonização do continente, que desde os primeiros colonizadores foi visto não só sob a ótica material, concreta, mas também no âmbito sobrenatural, onde o bem e o mal se confrontavam: tal concepção não era simples elemento retórico; de fato, fazia parte de vários setores do cotidiano no Novo Mundo[2].
Os homens da Igreja acompanhavam o universo marcado pela presença de demônios e da Divina Providência no cenário colonial. Além do clero regular, dentro desse quadro as ordens seculares tiveram importantes funções: franciscanos, dominicanos e jesuítas, para citar os mais importantes, trabalharam sob os olhos de Cristo e das monarquias ibéricas em prol da evangelização e manutenção do cristianismo no Novo Mundo. Dessas ordens, a que ganha destaque no presente projeto de pesquisa é a Companhia de Jesus.
No contexto da América Colonial, a Companhia de Jesus, ordem missionária fundada na primeira parte do século XVI por Ignácio de Loyola, teve papel relevante na conversão dos nativos que habitavam o continente. Inseridos na América, portuguesa e espanhola, desde meados do século XVI, os jesuítas se tornaram referência pelo seu modo de organização e pelo papel desempenhado na evangelização de indígenas através do sistema de redução desenvolvido e levado a cabo junto aos autóctones. A redução se tratava de um modelo de evangelização e organização em que grupos indígenas eram aglomerados numa determinada circunscrição territorial, aldeamentos que tinham o objetivo de tornar cristãos e “civilizar” os nativos, que viviam sob vigilância por parte dos religiosos. A implantação de reduções vinculava-se ao empreendimento das missões religiosas erigidas pela Companhia, e durante os séculos de domínio colonial, diversas missões foram fundadas por todo o continente.
Do lado espanhol, no século XVII, cidades fronteiriças como Santa Cruz de la Sierra, pertencente à atual Bolívia, serviam como pontos de partida para os missionários que buscavam estabelecer contato com os inúmeros grupos indígenas existentes nas áreas não colonizadas. De Santa Cruz de la Sierra partiram os primeiros missionários responsáveis pela execução do projeto evangélico no território dos índios Chiquitos, no oriente boliviano. José Arce, padre responsável por tal empresa, fundou a primeira redução das Missões de Chiquitos no ano de 1691, batizada de San Francisco Javier. Ao todo, onze reduções foram fundadas pelos jesuítas entre os chiquitos até o momento da expulsão da ordem da América espanhola, em 1768. Como em todo o processo de conquista da América, a presença de Deus e do Diabo também se manifestava nesse território. Os jesuítas, levados pelo espírito evangelizador e pela crença de que enfrentavam os desígnios do Diabo, atuavam como verdadeiros soldados de Cristo, e avançavam sobre o território não-familiar convictos de que marchavam sobre o solo do comum inimigo a fim de combater os males Satã[3].
Durante o tempo das missões, cartas, crônicas, relatórios e diversos escritos foram produzidos pelos missionários com vistas a informar aos seus pares os acontecimentos provindos de sua empresa, além das intensivas descrições dos povos e das terras que investiam seus esforços[4]. Esses escritos são para os historiadores vestígios do passado, testemunhos que para serem observados metodologicamente são transformados em documentos[5]. Desses documentos produzidos, me chamou atenção a “Relación Historial de las misiones de indios Chiquitos”[6], escrita em 1726 pelo Padre Juan Patricio Fernández, que será a base documental da investigação. Temporalmente, limito a pesquisa a partir da data da primeira edição da fonte, marcada em 1726. Isso porque, apesar da narrativa englobar a história dessas missões desde seu princípio (fim do século XVII), interessa-me o que e quando Fernández escreveu. Espacialmente, enquadro a investigação nas fronteiras das Missões de Chiquitos[7], com o fim de responder à seguinte questão: sob o olhar de Juan P. Fernández, quais eram os papéis e de que modo eram desempenhados pelos agentes sobrenaturais cristãos, Deus e o Diabo, nas disputas empreendidas pelos jesuítas nas Missões de Chiquitos?
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