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AS CRIANÇAS EM GOIAS

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Por:   •  4/3/2015  •  3.922 Palavras (16 Páginas)  •  820 Visualizações

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Valdez, Diana História da Infância em Goiás Século XVIII e XIX Goiânia:AGEPEL /UEG 2002.

1.0 FILHOS DO PECADO, FILHOS LEGÍTIMOS, MOLEQUES E CURUMINS: OS FILHOS DAS FAMÍLIAS GOIANAS.

De acordo com a autora Valdez, as crianças nasciam fora do casamento, em Goiás e outras partes do Brasil, filhos de mães solteiras, ou de relacionamento fora do casamento, eram consideradas pela Igreja Católica como filhos do pecado. As crianças eram conhecidas como “filhos das concubinas” (“nome dado às mulheres que não eram casadas na igreja”), e os filhos nascidos de relações ilícitas (filhos de padres, prostitutas, adultérios...) esses eram considerados “ilegítimos”. Considerados alvos da imoralidade, pela Igreja, tanto, para a legislação Portuguesa vigente no Brasil nos séculos XVIII e XIX, este ato sempre foi praticado em todo o país. As crianças frutas desse tipo de relacionamento eram conhecidas como “bastardas”. Apesar da condenação da Igreja, elas tinham o direito do batismo. Em Goiás, esse hábito de concubinato era muito comum naquela época, devido ao grande número de imigrantes que chagavam para trabalhar nas minas, tantos solteiros como casados que deixavam sua família para trás, com a esperança de obter uma vida melhor nas minas, e trazer suas famílias. Os viajantes europeus que vieram a Goiás ficaram horrorizados, como os goianos viviam na Província de Goiás, a maioria das crianças que ali habitavam era conhecida como “filhos do pecado”. A proporção de filhos ilegítimos era bem maior para os filhos das escravas, que naquela época eram poucas as escravas que se casavam. No Brasil era normal as mulheres se casarem com idade de 12 à 14 anos com homens mais velhos. Passada essa idade a filha era considerada como um fruto que perdia o sabor. Vale registrar também que a família dos escravos, não eram tão numerosas em termos de filhos, quanto os da família brancas. Os filhos dos escravos eram conhecidos como “moleques”. Já as famílias indígenas mantinham uma relação de harmonia com seus curumins.

2.0. O FRUTO DA TERRA GOIANIA: O ABANDONO DE CRIANÇAS

A autora ressalta as escrituras do Antigo Testamento como exemplo de Ismael, filho de Abrão abandonado no deserto e salvo por Deus e com a história de Moisés, abandonado em um cesto no rio Nilo. A Bíblia e o Talmude regulamentam o abandono, dando poder ao pai para vender o filho em caso de necessidade.

Na mitologia grega, os casos de crianças enjeitadas são inúmeros. Entre os mais conhecidos encontra-se a história de Édipo, júpiter, Posseidon, que na sua maioria, tornaram-se heróis, como um destino esplêndido.

O Papa Inocêncio III (1198-1216) dedicou uma atenção especial à infância, quando pescadores retiram em suas redes um número elevado de bebês mortos fato que teria comovido Inocêncio III, fazendo com que destinasse um hospital ao lado do Vaticano para receber os expostos e abandonado.

A Igreja inaugurou, então, a contraditória roda dos expostos, que se espalhou para outros locais com a finalidade de frear o abandono e as mortes dos bebês. A roda dos expostos, instalada nos muros das Santas Casas de Misericórdia, tinha forma cilíndrica com uma divisória no meio. Esse dispositivo era fixado no muro ou na janela da instituição. Na parte externa, o expositor colocava a criancinha enjeitada, girava a roda e puxava um cordão com uma sineta para avisar o vigilante que um bebê acabara de ser abandonado, retirando-se furtivamente do local sem ser reconhecido.

O abandono em Goiás não foi proveniente da pobreza e muito menos uma questão da honra, fator que, no caso, não era motivo de vergonha, dado o número de casais que mantinham relações não abençoadas e não consentidas pela Igreja. O crescimento da população também não favoreceu o aumento dos enjeitados em Goiás. O reduzido número de crianças expostas em Goiás aponta para a composição da sociedade goiana: uma sociedade composta, em sua maioria, de índios, os quais, enquanto mantinham relações harmoniosas entre si, dispensavam excessivos cuidados para com seus curumins. Isso pode ter influenciado a situação de abandono em “não abandono” de crianças em Goiás. O abandono nas portas era característica de Goiás. Importante registrar que, apesar de não ter sido encontrado um índice elevado de abandono em Goiás, em muitas circunstâncias, crianças foram separadas de seus pais, não por opção deles, mas por meio de adoção, como no caso das crianças negras recebidas pelas famílias da elite para serem criadas como empregadas e dos filhos dos índios que foram tomados de seus pais e tribos em nome da “civilização”. Havia também os “bobos” que foram largamente adotados por famílias para serem utilizados como serviçais. Já as crianças negras, de acordo com o sentimento cristão, eram adotadas para serem criadas “como filhas”.

A fase denominada assistencialista encontrou ressonância também em Goiás. (Embora o abandono ocorresse em menor proporção, à preocupação manifestou-se mais precisamente na década de 1970, com a implantação de locais com o objetivo de recolher órfãos e pobres com a intenção de formá-los para a moral e o trabalho.) O Colégio Isabel, criado em 1876, uma instituição mantida pela Província e por doações destinadas a atender a meninas órfãs. Foi extinto um ano depois como medida de economia. Apesar de sua curta duração, já contava em 1877 com 20 meninas internas, o dobro do ano anterior.

Nada mais foi encontrado sobre essa instituição, talvez por não ter tanto prestígio como o outro Colégio Isabel, destinado aos índios, o qual, mesmo gerando despesas para a Província, tinha o papel de catequizar os filhos “dos selvagens”, objetivo provavelmente bem “mais relevante” do que um colégio para órfãs. Para os meninos, havia também entidades específicas. Os projetos para proteger a infância e a juventude masculinas eram, em sua maioria, provenientes da pedagogia militar. Obedecendo a uma disciplina rígida, os meninos viam-se em uma dura rotina de revistas, marchas, aulas, oficinas, rezas e punições, à menor falta cometida. As companhias de aprendizes militares que existiram pelo Brasil recebiam filhos de pobres, expostos, órfãos, além dos meninos ditos incorrigíveis e problemáticos, que eram diretamente encaminhados por seus pais ou tutores, com a esperança de se recuperarem diante da rígida disciplina.

Para atender às novas experiências pedagógicas do final do século XIX, foram implantadas pelo Brasil as “colônias agrícolas para ingênuos” ou “colônias “orfanológicas”, que mantinha as crianças em regime de internato e sob total controle. Distante

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