Análise de "A bela morte e o cadáver ultrajado"
Por: ramosbruno • 10/8/2021 • Artigo • 1.527 Palavras (7 Páginas) • 507 Visualizações
Autor: Jean - Pierre Vernant
Texto: A bela morte e o cadáver ultrajado.
Biografia:
Jean-Pierre Vernant, nasceu no dia 14 de janeiro de 1914 na cidade de Provins, França. Ainda muito novo perdeu seus pais, Vernant perdeu seu pai logo ao nascer, e a mãe aos nove anos de idade. Sendo assim, ele e seu irmão, Jacques, foram criados até a idade adulta por sua tia e avós, junto de seus primos. Aos dezoito anos, Jean-Pierre Vernant deu início, ao se juntar à Juventude Comunista, e consequentemente ao Partido Comunista Francês (PCF), a uma vida dedicada à militância política. Em 1937, foi aprovado na agrégation de filosofia na Sorbonne Université, dando início também à sua vida acadêmica. No ano de 1940, tornou-se professor de filosofia em Toulouse. Onde teve a oportunidade de estabelecer contato com pessoas como Jean Cavaillés, também filósofo e matemático francês, e Lucie Aubrac, historiadora francesa. Que, posteriormente, se juntariam à Vernant na luta pela Resistência Francesa contra o Nazismo, durante a Segunda Guerra Mundial. A partir de 1942, Jean-Pierre Vernant passa a participar ativamente da Resistência e começa fazer ações sob o codinome de Coronel Berthier, como a libertação de Toulouse em 1944. Em 1948, Vernant desiste de lecionar filosofia para se dedicar à pesquisa. E foi quando ele se encontrou com o campo de pesquisa que foi responsável por seu grande reconhecimento, em meios acadêmicos, como um dos maiores helenistas de todos os tempos, o mundo grego. E em 1969, Vernant rompe relações com o PCF por discordâncias com a direção do partido.
Principais Obras:
VERNANT, Jean-Pierre. Entre Mito e Política. [S. l.]: Edusp, 2001.
VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. [S. l.]: Difel, 2002. 144 p.
VERNANT, Jean-Pierre. O Universo. 1. ed. [S. l.]: Companhia das Letras, 2000. 216 p.
VERNANT, Jean-Pierre. Traversée des frontières. [S. l.]: Points, 2015.
Tema abordado:
A morte heróica na sociedade grega.
Gênero:
Artigo.
Tese defendida:
No texto, “A bela morte e o cadáver ultrajado”, Jean-Pierre Vernant tece concepções acerca da morte heróica grega e suas implicações na sociedade. O historiador francês, sugere que a vida breve e a crença em uma glória imorredoura (kléos áphthiton), por meio da bela morte (kalòs thánatos), dava ao guerreiro grego, a força em batalha e, sobretudo, a qualidade de vislumbrar feitos grandiosos. Além disso, Vernant fala também, no texto, sobre o ultraje do cadáver inimigo e o processo de privar esse adversário de toda a glória advinda da “bela morte”.
Argumentos:
Logo ao início do texto, Vernant explicita uma das razões pelas quais o guerreiro grego busca a morte em campo de batalha, contrariando o ideário comum de morte. Baseado na narrativa da Ilíada, de Homero, J. P. Vernant usa a figura de Aquiles e sua história, narrada no canto épico, para exemplificar seu ponto de vista. “Como ele mesmo explica, dois destinos foram-lhe oferecidos desde o seu nascimento, para conduzi-lo até onde toda existência humana encontra seu termo, dois destinos que se excluíam rigorosamente. Ou a glória imorredoura do guerreiro (kléos áphthiton), mas a vida breve, ou então uma vida longa, retirada, mas a ausência de qualquer glória.” (VERNANT, 1978, p. 32). O próprio Aquiles, como demonstra a passagem, opta pela vida breve, por estar certo da grandiosidade que ela atribuirá à sua figura nos tempos vindouros. Segundo Vernant, o grande objetivo do herói dos cantos épicos gregos é marcar os tempos que virão com seus feitos grandiosos, assim ele se perpetua no imaginário das gerações futuras, se mantendo de alguma forma “vivo”, mesmo após a morte de seu corpo. É igualmente importante, porém, para a consumação da “bela morte” que seja realizado com corpo do guerreiro abatido em batalha, o devido ritual de velório. Era entendido que para a passagem completa do guerreiro, aos domínios de Hades, no mundo dos mortos, era necessário que se seguisse a risca os rituais funerários da época. Dentre as práticas adotada nos ritos, estão a limpeza do corpo e a cremação em uma pira, com objetivo de purificá-lo para a passagem. Não obstante, ao arriscar-se em batalha à morte gloriosa, o guerreiro escapa, não somente do anonimato como também do envelhecimento. Aos olhos do herói épico, a kalòs thánathos é o ponto alto em que pode chegar a vida de um homem dedicado à batalha. Ao morrer jovem, o guerreiro mantêm consigo as qualidades atribuídas à sua juventude como a beleza, a força, a virilidade, seus cabelos entre outras. Todas essas virtudes, relacionadas ao corpo jovem, tinham um lugar de extrema importância na sociedade grega. De tal forma que criou-se a lei, atribuída ao rei de Nemeia, Licurgo, na qual era dito dever do combatente, prioritariamente, próximo de uma batalha cuidar de seus cabelos e deixá-los esvoaçarem, a fim de demonstrar sua grandeza e beleza. O envelhecimento do corpo se aproximava, para os gregos, da própria morte, como descreve o trecho: “O feito heróico enraiza-se na vontade de escapar ao envelhecimento e à morte, por “inevitáveis” que sejam, de a ambos ultrapassar.” (VERNANT, 1978, p. 40). E esse receio que a sociedade grega arcaica tinha do envelhecimento se deve, principalmente, à valorização das virtudes da juventude. Envelhecer significava diretamente a perda do corpo viril e forte do jovem, o "embranquecimento" dos cabelos, ter o controle sobre seu corpo e destreza, diminuídos o que, para o homem dedicado a batalha, era tão debilitante
...