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Artigo Hobbes e Milton

Por:   •  28/11/2021  •  Artigo  •  2.694 Palavras (11 Páginas)  •  96 Visualizações

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A IMPORTÂNCIA DA BÍBLIA NOS ARGUMENTOS POLÍTICOS DA

INGLATERRA DO SÉCULO XVII.

Fernanda Fonseca Coutinho Gross1

RESUMO: Analisaremos o quanto ler a Bíblia na Inglaterra do século XVII permitia questionar se o comportamento real era ou não condizente com o divino. Neste período, John Milton em “Defesa do povo inglês” (1651) apresenta um argumento que associava as virtudes cívica e cristã ao ideal de participação do cidadão na condução dos negócios públicos. Distintamente, Thomas Hobbes em “Behemont” (1682) afirma que a religião estava sendo usada como argumento de autoridade contra o rei.

PALAVRAS-CHAVES: Bíblia; Guerra Civil Inglesa; puritanismo.

ABSTRACT: Analyze how much read the Bible in seventeenth-century England allowed to question whether or not actual behavior was consistent with the divine. In this context, John Milton in "Defense of the English people" (1651) presents an argument that combined virtue civic and the christian ideal of citizen participation in the conduct of public affairs . Differently, Thomas Hobbes in "Behemont" (1682) states that religion was being used as an argument against the authority of the king.

KEYWORDS: Bible; England Civil War; puritanism.

O presente trabalho tem o objetivo de analisar o quanto ler a Bíblia na Inglaterra do século XVII permitia questionar se o comportamento real era ou não condizente com o divino. E este estudo será realizado a partir das obras de John Milton, Defesa do povo inglês(1651)2, e do primeiro diálogo que inicia a obra de Thomas Hobbes, Behemont (1682)3.

Milton elabora este livro para refutar a defesa do rei escrita por Salmásio4. Por isso, ele se preocupa em defender a execução de Charles I a partir do argumento de que o poder emana do povo e não do rei, e realiza baseando seus argumentos na Bíblia. Thomas Hobbes, no primeiro diálogo, também utiliza o Livro Sagrado, com intuito de apontar quais os tipos de homens e ideias que foram responsáveis pela guerra civil, e a partir disso, ele conclui que a religião estava sendo usada como argumento de autoridade contra o rei.

Desde já podemos afirmar que ambos autores foram influenciados e viveram no contexto social da Inglaterra do século XVII marcado pelo papel central da Bíblia e a possibilidade de interpretá-la individualmente. Os dois apresentam um vocabulário marcado pela linguagem deste período, e entre estes, o referencial bíblico. Dessa forma, temos como hipótese a ideia de que ambos autores eram cristãos e usaram a Bíblia como ponto de referência num contexto onde ela tinha considerável importância. Por isso, Milton tinha consciência, executar o rei era uma atitude aprovada por Deus, e distintamente, Hobbes defendia que os súditos deviam obediência ao rei e a livre interpretação da Bíblia acarretou em vários discursos e consequentemente na desobediência do mesmo.

O PAPEL DA BÍBLIA NO SÉCULO XVII.

Na obra A Bíblia Inglesa e as revoluções do século XVII5, Christopher Hill nos apresenta o contexto social em que John Milton e Tomas Hobbes viveram e consequentemente foram influenciados. Este era marcado pelo impacto que a Bíblia exercia em todos os aspectos da sociedade, inclusive nos propósitos políticos6. “No turbilhão do século XVII, a Bíblia tornou-se uma espada que servia para dividir, ou um arsenal do qual todos os partidos retiravam armas para satisfazer as suas necessidades.” 7

Segundo Hill, a Bíblia era a fonte da verdade, era o manual de instruções dos homens e fundamental para vida intelectual e moral deste período. Assim, esta também era usada tanto para medir quanto para criticar as instituições e práticas do século XVII8. Nesse contexto não havia uma divisão entre política e religião e com isso, a Bíblia era mais do que um livro, ela sustentava as esferas da cultura inglesa. Desta forma, esta era usada não para esconder ou disfarçar algo, ao contrário, a sociedade acreditava que nesta tinha a comprovação de tudo e a resposta para os problemas.

Assim, podemos notar que a Revolução Inglesa foi defendida em termos religiosos, mas não foi um ato religioso, pois aconteceu num contexto onde a religião e a política não eram separadas e a Bíblia era fundamental em todas as áreas da sociedade.

A tradução do Livro Sagrado para o inglês possibilitou a novos grupos sociais a busca individual por soluções para seus problemas. Esse feito juntamente com a distribuição de publicações baratas, gerou um estímulo ao aprendizado da leitura, algo que desde o século XV os humanistas tinham valorizado e agora no século XVII era herdado pelos protestantes. Isto é, os protestantes diferentemente dos católicos não consideravam a imagem suficiente para os iletrados, para os primeiros a leitura era importante. Desta forma, setores médios e baixos estavam sendo alfabetizados, principalmente por meio da Bíblia. Segundo Stone, em Causas da Revolução Inglesa 1529-16429 e também Hill, a oportunidade de interpretar individualmente o Livro sagrado aumentou e até mesmo gerou uma sensação de confiança que faltava aos grupos para reivindicar uma participação mais ativa na sociedade.

Não foi possível um controle das interpretações numa sociedade instável. Foram publicados entre a Reforma e 1640 mais de um milhão de exemplares.10 A maioria eram as Bíblias de Genebra, impressas em edições mais baratas, tornando-se a Bíblia do povo. Segundo Stone, essas publicações nos mostram que a revolução foi fundada nas palavras, estas enxurradas de publicações sejam de Bíblias, jornais, panfletos e sermões expõem um choque de ideias e ideologias.11

Michel de Certeau em Inversão do pensável,12 buscando entender a divergência entre o saber cada vez mais autônomo dos intelectuais e a persistência das práticas populares na maior parte da França, nos mostra como escrever a história religiosa do século XVII significa enfrentar mais de uma visão religiosa, disputas eclesiásticas e populares relacionadas às práticas e crenças religiosas. Ao mesmo tempo em que, nos faz observar que diferente deste país, na Inglaterra há uma forte valorização da educação das massas a partir da leitura da Bíblia.

Certeau afirma que no século XVII, aqueles que tinham ideias contrárias aos das Igreja católica eram heréticos ministros de outras igrejas13, ou seja, neste período o conceito de heresia tornou-se problemático, esses foram relativizados e como afirmam Certeau e Hill cada grupo religioso acreditava que tinha encontrado a explicação para sua fé, passando a proclamar sua autoridade na interpretação da Bíblia

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