COMPARAÇÃO ENTRE MARX E HEGEL: O conceito de liberdade humana para Hegel e Marx
Por: bbnns • 9/3/2020 • Trabalho acadêmico • 2.710 Palavras (11 Páginas) • 226 Visualizações
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
TEORIA DA HISTÓRIA
PROF. DR. JORGE GRESPAN
COMPARAÇÃO ENTRE MARX E HEGEL:
O conceito de liberdade humana para Hegel e Marx
São Paulo, Junho de 2017
O estudo em relação à liberdade humana, incluindo seus múltiplos significados, potencialidades e limitações foram explorados intensamente ao longo do tempo, principalmente, na área das humanidades. Durante a Idade Moderna, há um período intenso de produção em relação a esse tema. Isso se torna mais compreensível ao observar a ascensão do Iluminismo e a Revolução Francesa, cujos debates aprofundaram o conceito da liberdade. É possível evidenciar isso também em Locke, no desenvolvimento de suas ideias como cidadania universal e estado de natureza, trazendo à tona a ideia revolucionária de que era possível todos serem vistos como iguais. Ou seja, a partir da esfera jurídica, procurar entender todos como iguais e cidadãos, nesse sentido, pessoas ativas dentro da sociedade.
Nesse contexto, ao produzir sua obra, Hegel procura colocar em questão o conceito de liberdade humana com foco na sociedade civil. Ao fazer uma análise numa linha de continuação “progressista”, considera este o último marco da sociedade. E, também, Hegel procura definir o conceito de natureza humana, ou seja, um elemento que se mantenha invariável ao longo do tempo, algo que caracteriza o ser humano.
Ao tentar definir a questão da essência humana, Hegel encontra como fundamental justamente a variabilidade, nesse sentido, a liberdade de transformar-se, variar padrões naturais. Ou seja, dialeticamente, Hegel encontra que justamente o elemento invariável no ser humano é o seu oposto, a própria variabilidade. Dentro dessa afirmação, é possível ver como Hegel utiliza-se amplamente da dialética ao entender elementos que representam em si uma contradição, uma relação de simultaneidade, fazendo um complementar o outro, ou seja, uma conciliação de opostos.
A liberdade é, para Hegel, o grande guia da humanidade e, dentro da procura da sua liberdade, o ser humano utiliza como meio a razão. É possível, também, avaliar os avanços em seus estudos a partir do desenvolvimento do conceito do espírito, que se torna fundamental na filosofia hegeliana e que é seu principal objeto de estudo. A relação entre o espírito e a liberdade realiza-se pois “[...] todas as propriedades do espírito existem unicamente mediante a liberdade, que todas são apenas meios para a liberdade, que todas buscam e produzem apenas a liberdade.”[1] Ou seja, o meio pelo qual o espírito se realiza é exatamente a liberdade, que funciona como uma espécie de meio, produto e condição da essência humana. Por isso, o que caracteriza o ser humano é justamente a liberdade e os caminhos realizados a procura desse objetivo maior. Para Hegel, portanto, a questão do espírito está diretamente ligada à negação do que pretende ameaçar a liberdade, estando sempre em ação para buscar a liberdade.
Nessa medida, é possível observar a maneira em que Marx rompe com Hegel já que ele realiza uma teoria geral e história com base numa crítica da sociedade caracterizada por ser burguesa, ou seja, pertencente a apenas uma classe e sendo que[2] “a ‘história da humanidade’ deve ser estudada e elaborada sempre em conexão com a história da indústria e das trocas”. Enquanto Hegel analisa pelo ponto de vista do direito que se limita ao não analisar a raiz da propriedade, já que, para Marx, a propriedade privada é o grande motor da humanidade e é o elemento determinante para a divisão das classes sociais.
Enquanto, para Hegel, há uma importância imensa da sociedade civil e suas potencialidades em ser o fim da história por ser a representação máxima da liberdade humana. Pois, pela primeira vez, todos são vistos como cidadãos que são seres ativos em busca da liberdade. Marx, por outro lado, vê dentro da sociedade civil um conflito que é impossível de ser resolvido, a luta de classes. Porém, o que diferencia essa etapa histórica das demais, é justamente a classe dominante ser detentora dos meios de produção por meio da propriedade privada. Outros elementos são a questão da troca da mercadoria e o trabalho assalariado. Ou seja, um conflito em que classes diferentes têm interesses conflitantes e impossíveis de serem conciliados.
Portanto, mesmo utilizando-se da dialética como um caminho teórico-metodológico, que foi desenvolvido principalmente por Hegel, Marx rompe com ele na medida em que vê nessa situação de opostos, a prevalência de seu lado negativo, enquanto Hegel vê que é possível uma conciliação de opostos a partir da realização da liberdade.
A construção da consciência, para Marx, está diretamente relacionada à práxis. Além disso, o entendimento de como a contradição é o motor da nossa sociedade, que é presente inclusive em Hegel. A luta de classes entre proletariado e burguesia, que inclui todos os elementos apresentados acima, é o que define o capital e a sociedade civil. Nesse sentido, portanto, é impossível obter a liberdade humana plena enquanto esse conflito conduzir a sociedade. É necessário o fim da sociedade civil, que, para Marx, é sinônimo de burguesa, por meio de uma revolução. Ao invés de haver conflitos inconciliáveis, toda a sociedade estararia num mesmo plano de projeto para o seu “avanço”, com condições materiais semelhantes para o desenvolvimento pleno de suas capacidades.
Outra contribuição de Hegel, nesse caminho teórico-metodológico dialético, é necessariamente o caminho entre o particular e o universal. Nesse sentido, a história do espírito está diretamente ligada a um espírito do povo, que representa o universal, em busca da realização plena da liberdade, analisando dialeticamente o quanto é necessário a existência de dois opostos para a realização plena de um objetivo que todos têm em comum.
O caminho em busca por um dever maior apontado por Hegel pode ser dividido em etapas sendo elas: o conceito, o dever e a realização, sendo que a liberdade só pode ser realizada por meio da paixão, que é considerado o estado bruto do sentimento e não é contraposta à razão, mas, pelo contrário, seus interesses estão inevitavelmente subordinados a ela.
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