Da Aethiopia à África: As idéias de África, do medievo europeu à idade moderna
Por: Andrey Bastos • 25/1/2018 • Resenha • 813 Palavras (4 Páginas) • 319 Visualizações
Ao mencionar a palavra “África”, uma série de imagens, histórias e ideias comuns nos vem à tona. Mas qual a verdadeira imagem da “África”? Vale lembrar que “África” é um imenso continente, submerso em variadas culturas, de diferentes povos e nações.
Essa visão etnocêntrica tem embasamento no imaginário da Antiguidade Clássica. Contudo, apenas o norte do grande continente era mencionado, parte que se estende do Marrocos ao Egito, deixando todo o território restante desconhecido. O filólogo congolês Valentim Mudimbe expõe que essa região seria dividida em 3 partes, a Libya, parte oeste que iria até o Saara, o Egito, grande império faraônico e a Aethiopia, que seria correspondente ao atual sul egípcio.
Ao se referir à região, suas origens são incertas, mas seriam utilizados diversos termos, muitos deles carregados de racismo, dentre eles, o termo latino “aprica”, que significa “ensolarado”, o grego “apriké”, significando “isento de frio”.
A visão criada no período clássico acerca da região africana seria de profunda influência na posterior idade média e moderna. Ao começo do primeiro milênio, era difundida a imagem cristã de que a cor negra representaria o mal, reforçando o grande desprestígio já concebido pelos gregos e romanos, que agora além de físico, era espiritual. Tudo seria explicado através da Bíblia Sagrada, seriam todos descendentes do “pecador” Cam, filho de Noé. Como não poderia ser castigado, a “maldição” seguiu aos seus descendentes, que haveriam povoado o continente africano levando consigo, as marcas do pecado. Outra explicação adotada seria a ausência da luz, resultando em trevas. A cor negra seria a representação da falta de luz espiritual, seriam seres diabólicos.
Em moldes geográficos, a África seria considerada o ponto de queda de Satanás, um lugar onde os seres estariam tomados por uma forma física anormal, causadas pelas condições climáticas consideradas infernais. Tais condições eram as mesmas descritas ao ter o inferno como imagem. Uma região quente, habitada por deformados, a Aethiopia e o inferno estavam interligados.
Já ao final do medievo, o termo “Africa” já era utilizado, era apenas uma pequena região habitada, ao sul, estaria toda desabitada, justificada por Santo Agostinho, que considerava como zona incapaz de abrigar seres humanos, por estar a Igreja incapaz de tutelá-los. No mesmo período, uma crescente criação de alcunhas ligadas à cor da pele emergia, fossem criadas por portugueses, gregos e muçulmanos.
Por um grande tempo, o ocidente defendeu a ideia de que os povos subsaarianos foram “descobertos”, tal como ocorre na América, essa visão, segundo Mudimbe, não passa de uma visão distorcida, da qual ele nomeia de “biblioteca colonial”, visto que existem encontros datados de mais de 15 séculos das datas citadas, que servem de referência para ele e demais estudiosos.
A diversidade de textos é toda envolta do eurocentrismo, o imaginário elaborado era resultado da soma da antiguidade e do medievo, adicionado de novas ideias modernas, contudo, sem a imagem ser reinventada. Ainda era estranho olhar para a cor negra da pele e as feições diferentes dos padrões europeus. Os relatos, aos mesmo tempo que lhes causava estranheza, era dotado de espanto pela grande força e destreza dos africanos.
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