Direito
Artigo: Direito. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: adriiramooos • 25/3/2015 • 2.208 Palavras (9 Páginas) • 192 Visualizações
RESUMO
A contribuição teórica de Leontiev convida-nos a superarmos a concepção naturalizante do ser humano no campo da psicologia. Esse avanço se torna possível se compreendermos o psiquismo humano como algo que se desenvolve por meio do processo de inserção do indivíduo na cultura e nas relações sociais. Este artigo se constitui numa análise crítica de publicações psicológicas sobre adolescência destinadas a pais e professores. Trabalhos que em psicologia focalizam o tema da adolescência tendem a ser especialmente caracterizados pela adoção da abordagem naturalizante. As conseqüências sociais dessa perspectiva são tomadas como critério para a exigência da crítica à própria perspectiva.
Palavras-chave: Naturalização. Adolescência. Leontiev. Psicologia sócio-histórica.
ABSTRACT
Leontyev's theoretical approach invites us to go beyond the naturalistic conception of the human being in the field of psychology. This progress is possible if we understand the human mind as something that develops through the insertion process of the individual into culture and the social relations. This paper is a critical analysis of psychological publications on adolescence directed to parents and teachers. Writings in psychology that focus on adolescence tend to be greatly influenced by the naturalistic approach. The social consequences of this tendency point to the need for a critique.
Key words: Naturalization. Adolescence. Leontyev. Social-historical psychology.
A psicologia, no decorrer de seu desenvolvimento, vem apresentando teorias que naturalizam o ser humano. O estudo realizado por nós e concluído em 1997, publicado posteriormente (Bock, 1999), analisou o significado que os psicólogos, em São Paulo, atribuem ao fenômeno psicológico. Ficava evidente no estudo a naturalização do mundo psíquico e do próprio ser humano.
O homem, colocado na visão liberal, é pensado de forma descontextualizada, cabendo a ele a responsabilidade por seu crescimento e por sua psicológica. Um homem que "puxa pelos seus cabelos e sai do pântano por um esforço próprio". Um homem que é dotado de capacidades e possibilidades que lhe são inerentes, naturais. Um homem dotado de uma natureza humana que lhe garante, se desenvolvida adequadamente, ricas e variadas possibilidades. A sociedade é apenas o lócus de desenvolvimento do homem. É vista como algo que contribui ou impede o desenvolvimento dos aspectos naturais do homem. Cabe a cada um o esforço necessário para que a sociedade seja um espaço de incentivo ao seu desenvolvimento. As condições estão dadas, cabe a cada um aproveitá-las. (Bock, 1999)
Os psicólogos, ao falarem sobre o fenômeno psicológico, apresentam-no como se estivesse dado no ser humano tal fenômeno. Como se fosse algo da natureza humana, do qual somos dotados desde que nascemos. Não há qualquer preocupação em explicitar a gênese do psiquismo humano, pois este é tomado como algo natural. É impressionante o desinteresse dos psicólogos, apresentado no estudo, pelas relações sociais, pelas formas de produção da sobrevivência ou pela cultura.
A relação do indivíduo com a sociedade é uma relação praticamente inexistente nas respostas. As relações apontadas como necessárias e importantes para o desenvolvimento do homem dizem respeito, fundamentalmente, às relações com os outros homens. Não são, no entanto, relações situadas no tempo histórico, em condições determinadas de vida, permeadas de significações e linguagens específicas, com condições concretas de trabalho e formas de produção da sobrevivência. Não há a visão de um conjunto de homens compartilhando esses elementos históricos e sendo determinados por esses elementos. O termo social se refere, assim, apenas à existência de outros homens. (Bock, 1999)
Para nos contrapormos a esta perspectiva naturalizante na psicologia, adotamos a perspectiva sócio-histórica e para apresentar sua concepção histórica do ser humano vamos trazer as contribuições de Leontiev, em especial em seu texto "O homem e a cultura" (Leontiev, 1978, p. 261-284).
Leontiev apresenta nesse seu texto uma das versões mais interessantes e sócio-históricas existentes sobre o desenvolvimento do que denominamos humano. Baseado em Engels, sustenta que o homem tem uma origem animal, mas
(...) ao mesmo tempo (...) o homem é profundamente distinto dos seus antepassados animais e (...) a hominização resultou da passagem à vida numa sociedade organizada na base do trabalho; (...) esta passagem modificou a sua natureza e marcou o início de um desenvolvimento que, diferentemente do desenvolvimento dos animais, estava e está submetido não às leis biológicas, mas a leis sócio-históricas. (Leontiev, 1978, p. 262)
O trabalho e a vida em sociedade são duas características da vida humana que vão permitir um salto de qualidade no desenvolvimento humano. O homem liberta-se de suas limitações biológicas para "inventar" a condição humana. Queremos com isso frisar a idéia de que as habilidades e os comportamentos humanos, a partir daquele momento, não estavam mais previstos pelo código genético. Por isso dizemos que o homem não estava mais submetido às leis biológicas e sim a leis sócio-históricas.
É Vigotski em seu texto "Internalização das funções psicológicas superiores" (1994) que vai apresentar o desenvolvimento destas capacidades, a partir da combinação entre o uso do instrumento (de trabalho) e do signo (atividade psicológica). Essa combinação vai permitir que o homem vá além do imediato, por meio de uma reconstrução interna de uma operação externa. Vigotski chamou a esse processo de internalização. Segundo o autor: "A internalização das atividades socialmente enraizadas e historicamente desenvolvidas constitui o aspecto característico da psicologia humana; é a base do salto quantitativo da psicologia animal para a psicologia humana" (Vigotski, 1994, p. 76).
É Leontiev que traz então a explicação que se esperava: se o homem se libertou de suas limitações biológicas e criou o humano, como essas características passam de geração a geração se elas não podem fixar-se na herança genética? "Foi sob uma forma absolutamente particular, forma que só aparece com a sociedade humana: a dos fenômenos externos da cultura material e intelectual" (Leontiev, 1978, p. 265).
É graças
...