Direito Espartano
Trabalho Universitário: Direito Espartano. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: adavilton • 31/3/2014 • 4.558 Palavras (19 Páginas) • 280 Visualizações
O DIREITO ESPARTANO
Rodrigo Freitas Palma
Palavras-chave: Direito Espartano, Direito Grego, Anfictionia, Hélade, Licurgo.
1. Os Espartanos
A região onde vigorosamente floresceu Esparta e outras tantas cidadesestado
tornou-se conhecida por Lacônia. Aquela que foi a maior potência militar da Grécia
Antiga situava-se às margens do rio Eurontes, num local cercado por imponentes
montanhas. Ela foi primeiramente habitada pelos aqueus, os quais foram sucedidos pela
chegada de hordas invasoras de dórios, povo indo-europeu que assumiu uma índole
tradicionalmente belicosa1. É a eles que se referem os filósofos e demais escritores gregos
quando usam o termo ‘lacedemônios’.
O homem de Esparta, desde a mais tenra meninice, costumava ser talhado
para se tornar um guerreiro por excelência. Este ideal, como parte da educação estatal, era
patrioticamente seguido por todos os cidadãos. Com apenas sete anos de idade, o infante
iniciava seu rígido treinamento nas forças armadas. Num país onde se privilegiava a cultura
militar, não é de se estranhar que a perfeição física era almejada a todo custo pelo cidadão
comum. Destarte, era hábito corriqueiro entre os espartanos, o de lançar suas crianças
Rodrigo Freitas Palma é Prof. de História do Direito no UNIEURO – Brasília - DF. Doutorando em Ciências
Jurídicas e Sociais (UMSA – Buenos Aires), Mestre em Ciências da Religião (UCG) e Especialista em
Relações Internacionais (UCG). No UNIEURO é Coordenador das Disciplinas Fundamentais do Curso de
Direito e Membro do Comitê Executivo do Centro de Estudos de Direitos Humanos e Violência. Autor das
obras História do Direito (2005) e Leis Ambientais na Bíblia (2002).
1 “A migração dórica, de que os Gregos sempre guardaram uma recordação indelével, é o último dos
movimentos dos povos, possivelmente originários da Europa Central, que a partir da península balcânica
penetraram na Grécia e se misturaram com os povoadores de outras raças mediterrânicas ali fixadas
primitivamente, constituindo assim o povo grego que a história nos apresenta. O tipo característico dos
invasores conservou em Esparta a sua maior pureza. A raça dórica ofereceu a Píndaro o seu ideal de homem
loiro, de alta estirpe, tal como era representado não só o Menelau homérico, mas também o herói Aquiles, e
em geral todos os ‘Helenos de loira cabeleira’ da Antigüidade heróica”. JAEGER, Werner. Paidéia (2001, p.
111).
2
indesejadas de altos penhascos. Esta forma de eugenia ocorria na hipótese de haver a menor
suspeita de que os bebês não estariam aptos a se tornar bons combatentes no futuro.2.
Nesse sentido, cumpre ressaltar que o orgulho nacional se assenhoreava
poderosamente das mentes e dos corações dos espartanos. Eles faziam questão absoluta de
diferir em tudo dos demais gregos, de modo que eram logo reconhecidos pelos seus trajes e
aparência grandiosa. Os soldados espartanos usavam cabelos longos presos por pequenas
tiras. A cabeça era coberta por um elmo dourado que continha uma longa proteção para os
maxilares. Das costas sobressaía uma capa vermelha que alcançava facilmente os
calcanhares. Utilizavam também uma espada cuidadosamente forjada e empunhavam um
escudo circular com diversos símbolos de sua venerada pátria, dentre os quais se destacava
uma ave, o galo.
O espírito de xenofobia impregnava sobremaneira o cotidiano dos
homens de Esparta. Eles, mais do que ninguém, se julgavam ‘iguais entre si’, porém,
‘superiores’ a toda e qualquer pessoa da Antiga Hélade.
O soldado espartano não esperava ser recebido numa espécie de “paraíso
celestial” após a sua morte, como aguardavam ansiosamente os romanos em sua jornada
final rumo aos “Campos Elísios”3. Todavia, conduziam sua existência de forma obstinada,
com o intuito de construir uma reputação sólida que lhe permitisse imortalizar seus feitos
pelas gerações vindouras4. Não temiam a morte e lutavam até o extenuar de suas forças.
Depreciavam o inimigo e geralmente não mostravam clemência no campo de batalha, pois
a covardia lhes parecia um comportamento extremamente odioso. Os espartanos sabiam
reverenciar seus heróis. Arnaoutoglou, tendo como fundamento as informações de Plutarco,
2 Sob este aspecto, teriam os romanos se espelhado na sociedade espartana para compor o fragmento da Lei
das Doze Tábuas (451-450 a.C.) que autoriza a rejeição dos filhos que não parecessem cheios de vitalidade?
Como se sabe, a tradição ensina que uma comissão foi enviada a Magna Grécia para estudar as leis de Sólon,
renomado legislador de Atenas. Em nenhum momento, menciona-se Esparta. De qualquer modo, pelo menos
no que concerne ao assunto em questão, nos parece que a alusão ao tema torna-se aqui inevitável.
3 No imaginário
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