Diretas Já!
Monografias: Diretas Já!. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: CamilaSimao • 30/4/2014 • 1.637 Palavras (7 Páginas) • 424 Visualizações
Diretas já
Maior mobilização política do país se esvai no Congresso
“Um, dois, três, quatro, cinco, mil, queremos eleger o presidente do Brasil.” Foi com essas palavras de ordem, sob a chuva que castigava a Praça da Sé, que ganhou corpo a maior manifestação política da história brasileira: a campanha pela eleição direta para presidente, as Diretas Já. Difícil saber quantos participaram do comício de 25 de janeiro de 1984. Um mar de gente, estimado em 300 mil pessoas. No palanque, estavam o presidente do PT, Luiz Inácio da Silva, o senador Fernando Henrique Cardoso e o governador Leonel Brizola, entre outros. Os artistas também compareceram Fafá de Belém, Gilberto Gil, Alceu Valença, Chico Buarque, Regina Duarte e Fernanda Montenegro, para citar alguns.
O governador Franco Montoro, idealizador do comício, não se conteve diante da multidão: “Me perguntaram se aqui estão 300 ou 400 mil pessoas. Mas a resposta é outra: aqui estão presentes as esperanças de 130 milhões de brasileiros”. O comício de São Paulo foi decisivo porque engrossou a mobilização que depois levaria milhões de pessoas às ruas de outras capitais. A campanha tinha nascido no ano anterior, assim como a Proposta de Emenda Constitucional número 5, do deputado federal Dante de Oliveira. Pela emenda, o presidente da República seria eleito por voto direto, e não pelo Colégio Eleitoral – que reunia os congressistas e mais seis membros da bancada majoritária em cada Assembleia Legislativa.
A iniciativa ganhou o apoio do grupo oposicionista que incluía o senador Teotônio Vilela e o deputado Ulysses Guimarães. O regime dava sinais de debilidade, mas daí a emplacar as Diretas Já parecia um passo grande – como ficou provado no final. Para entender o papel da campanha é preciso olhar para o quadro geral do período. “Havia a combinação de dois fatores: uma profunda aspiração democrática, represada por anos de repressão, e a insatisfação com o regime decorrente da crise econômica deflagrada no início dos anos 80”, analisa André Singer, professor de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP). O milagre econômico tinha ficado para trás. O eleitor já tinha escolhido seu governador em 1982. A oposição colhia votações cada vez mais expressivas. E os Estados Unidos praticavam uma política clara de favorecer a democratização na América Latina. “Eles passaram a acreditar que governos civis fortes eram mais seguros, depois do desgaste de Somoza”, explica Osvaldo Coggiola, professor de história contemporânea da USP, referindo-se à ditadura nicaragüense, que teve apoio dos EUA e desaguou em revolução socialista, em 1979.
“Os Estados Unidos com certeza fariam uma intervenção caso houvesse uma tentativa de frear a abertura”, acredita Coggiola, autor de Governos Militares na América Latina. Ao mesmo tempo, ocorria o renascimento da sociedade civil. Militantes de esquerda começaram a reunir simpatizantes em fábricas, comunidades rurais, de base e estudantis da Igreja Católica.
Organizações profissionais e movimentos de moradores também se mobilizavam.
As Diretas Já, portanto, cresceram no vácuo de uma série de manifestações coletivas do final dos anos 70 e início dos 80, como a campanha da Anistia e as greves do ABC.
O primeiro comício que abertamente pedia voto direto aconteceu em 27 de novembro de 1983. Foi em frente ao estádio do Pacaembu, organizado pelo PT, em um belo domingo de sol, com 15 mil participantes. Em janeiro, Curitiba realizou outro comício, com cerca de 30 mil pessoas.
O governo militar e seus aliados civis não assistiram passivamente. Os tempos haviam mudado, mas não a esse ponto. “Não havia perseguições abertas às organizações de esquerda, mas a repressão continuava, sim, por meio de todos os órgãos de segurança e inteligência, que se movimentavam com razoável independência”, relembra Osvaldo Coggiola. Em alguns comícios, os participantes eram intimidados pela Polícia Militar, que os cercava com cães.
Parte da mídia boicotava o movimento, a exemplo da Rede Globo. Daí o caráter decisivo da mobilização daquelas 300 mil pessoas em São Paulo. “A Globo foi obrigada, junto com outros setores da imprensa, a reconhecer a importância do evento durante o próprio comício”, descreve Maria Aparecida Aquino, professora de história contemporânea da USP. No Jornal Nacional daquela noite, o comício foi noticiado como uma festa pelo aniversário da cidade. A Globo sustenta que nunca escondeu o movimento e que, no meio daquela reportagem, havia referências e declarações sobre as diretas. Depois de janeiro, o movimento só cresceu. Espalhou-se por outros estados governados pela oposição. No Nordeste, invadiu bolsões eleitorais do PDS, partido do governo.
Vestiu o Brasil com amarelo, a cor das diretas. Na Candelária, no Rio, uma manifestação gigante reuniu um público estimado em 1 milhão de pessoas, em 10 de abril de 1984. Seis dias depois, no último comício antes da votação da emenda Dante de Oliveira, estima-se que estiveram no vale do Anhangabaú, em São Paulo, mais de 1 milhão de pessoas – houve quem falasse em 1,7 milhão. A imprensa, a essa altura, funcionava como amplificador da campanha. “Alguns jornais foram pioneiros do movimento, a exemplo da Folha de S. Paulo”, afirma Maria Aparecida Aquino.
Pressão do governo
Ocorre que, apesar de anos de abertura, o regime ainda tinha suas cartas na manga. As mudanças na legislação garantiram o domínio do governo no Congresso. A representação parlamentar não espelhava a distribuição da população pelo país, o que aumentava o peso de deputados de áreas menos desenvolvidas – em geral menos sensíveis aos apelos de “Diretas Já” dos grandes centros. O Executivo ainda proibiu manifestações a menos de 2 quilômetros do Congresso no dia da votação e providenciou que, na hora do voto, a Casa estivesse cercada pelo Exército.
Naquele 25 de abril de 1984, os parlamentares mostraram que as manobras do regime ainda davam resultado. “Eles não tinham coragem de votar contra as diretas e então simplesmente não votaram, ausentaram-se, refugiaram-se nos gabinetes”,
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