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Erudição E História Na Idade Moderna

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Por:   •  25/8/2014  •  7.567 Palavras (31 Páginas)  •  306 Visualizações

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Erudição e história na Idade Moderna

Cesare Cantu – História Universal

CAPÍTULO XXXIV

Erudição e história

Um movimento maior, que teve lugar na Alemanha, a fêz prevalecer em filologia à Itália; porém ela ficou menos elegante no estilo latino, e só Sleidan sustenta comparação com os italianos. João Trithéme (1462-1516), admirado por sua erudição, tirou dos arquivos grande número de informações sobre as antiguidades germânicas, posto que sem escolha. Melanchton (1492-1552) corrigiu ou antes refez o manual de história universal de João Carion, seu mestre, que adquiriu grande autoridade. João Dobnek, chamado Cochaeus, escreveu uma história de Lutero, em que se mostra muitíssimo oposto àquele reformador.

Nem os Amaltei, nem qualquer outro italiano, suportarão comparação com os poetas latinos que podem citar nesta época os outros países, sobretudo a França, e a Holanda, Muret, Henrique Etienne, José Escalígero, Bonfinius, Saint-Marthe, que escreveu a Paedotrophia, para aconselhar as mães a criarem seus filhos.

Todos estes poetas são excedidos pelo escocês Buchanan, que compôs muitas poesias obscenas, e muitas outras contra os frades e a religião, confessando, sem se envergonhar, que o fazia por ordem do rei. A sua melhor obra é a Esfera, que fornece vasto campo às digressões; pelo que respeita a seu Psalmos, são mais gabados do que o merecem.

A erudição tinha-se tranqüilamente exercido sobre os clássicos e nas buscas de palavras, quando a reforma veio pôr em suspeição, aos olhos dos católicos, um estudo que fazia invasão nos campos da fé, e tornar ridículos para os protestantes as suas freqüentes necedades.

Aldo Manúcio conta que à hora da lição ficava a passar diante da universidade romana, vazia de ouvintes; e dá por motivo disso que as línguas vivas tinham tomado o seu lugar natural, que as línguas clássicas não eram mais do que um objeto de pura curiosidade, e que a veneração que para elas dantes havia, não estava, muito proximamente, de acordo com o notável progresso das ciências. Melanchton reconheceu quão necessário era o estudo para defender a teologia contra um entusiasmo infrene; em conseqüência do que as novas universidades de Malburge (1526), de Copenague (1539), de Konisberg (1544) e de Iena (1548) vieram aumentar as antigas. Francisco I fundou o colégio das três línguas, e não houve cidade em que o grego não fosse ensinado.

Uma célebre contenda foi debatida entre os iotacistas, sustentados por Melanchton e Reuclin, e os étistas de Erasmo, a respeito da pronunciação. Froben e Badius Ascencius multiplicaram as edições gregas: o Thesaurus de Roberto Etienne (1529) foi de útil socorro para escrever corretamente, e os Commentaries línguâe graecae de Budé, posto que sem ordem, explicam o sentido das palavras, e sobretudo dos termos de direito.

Pode dizer-se que a reforma fêz nascer a filologia, a respeito da qual Teodoro de Bèze escrevia o que se segue: "Tendo chegado o tempo ordenado por Deus para tirar seus eleitos das superstições e restabelecer o esplendor da sua verdade, posto que ela houvesse sido expulsa um século antes pelo ferro e pelo fogo, êle suscitou primeiramente na Alemanha João Reuclin, para restaurar o conhecimento do hebraico, abolido inteiramente entre os cristãos. Os teólogos de Colônia e de Louvain opuseram-se a este sábio com todas as suas forças; porém Deus destruiu de tal modo seus projetos, que Reuclin e o estudo do hebraico foi aprovado, mostrando assim o Senhor que, para edificar a sua igreja, êle sabe servir-se daqueles que ela conta por seus principais adversários.

"Da escola de Reuclin saíram ilustres sábios alemães: Conrado Pelicano, João CEcolampádio, Sebastião Munster, João Capiton, Paulo Fagius, e uma infinidade de outros começaram a florescer mesmo em Louvain de onde passou a Paris, neste ínterim, Erasmo de Roterdã, que restaurou o estudo do latim. Jacques le Febvre de Etaples {Fáber Stapulansis), doutor da Sorbona, e digno de se achar em melhor companhia, vendo a Universidade de Paris sepultada numa barbárie e numa sofística horríveis, reconduzia os espíritos aos verdadeiros estudos das artes, e se aplicava também a mostrar e a corrigir os erros da tradução vulgar do Novo Testamento segundo o grego. Os doutores da Sorbona tomaram-se de tamanho despeito, principalmente Béde e Duchesne, chefe desta faculdade, que não cessaram seus ataques enquanto o obrigaram a deixar a praça. Erasmo foi também obrigado a retirar-se algum tempo depois. Apesar disso, a contar de então, a barbárie recebeu tal golpe em França, que ficou abalada e foi sempre declinando. O que é mais importante, Leão X autorizou a versão latina do Novo Testamento feita por Erasmo, ao passo que os nossos mestres de Paris a condenavam como herética, em consideração dos Colóquios.

"Algum t&mpo antes, a casa dos Médicis, como outras casas italianas, tinha acolhido vários ilustres fugitivos da Grécia, em cujo número se contava Argy-ropulo, Marcos Musurus, Demétrio, Chalcondy e principalmente um egrégio personagem, descendente de sangue imperial, chamado João Lascaris; estes estrangeiros levaram muito longe, nas escolas italianas, o conhecimento do grego. Acharam-se aí também alguns franceses, que, de volta à sua pátria, animaram estes estudos. A Sorbona opôs-se-lhes com tal calor, que, a dar-lhe crédito, estudar o grego e saber alguma coisa de hebraico era uma das maiores heresias do mundo.

"Porém Deus opôs a esses doutores personagens de uma tal autoridade, que forçoso lhes foi ver precisamente o contrário de seus desejos. Tais foram Estêvão Poncher, bispo de Paris, Luís Ruze, Francisco de Luynes, por cujos esforços o estudo do grego prosperou. Ainda mais, o grego foi ensinado pelo italiano Aleandro, depois cardeal; pelo suíço Henrique Glarean, é pelo francês Chéradame, muito versado nas letras hebraicas e gregas, posto que de um espírito leviano e de pouca elevação. Todavia, entre todos os sábios, tanto em grego como em latim, Guilherme Budé resplandecia como um Sol em meio das estrelas, de modo tal que nenhum desses adversários ousou atacá-lo; nenhum deles, a dizer a verdade, se intrometia em teologia; ora, pode dizer-se, com justiça, que eles preparavam aos outros um caminho sobre o qual eles jamais punham o pé. Foi uma felicidade para Budé achar um rei de excelente engenho e grande amador das boas letras, apesar de não saber mais do que a sua língua materna; falo de Frederico I. Tendo dedicado a este soberano seus belos Comentários da Língua Grega, êle fêz-lhe entender que era necessário não só que as três línguas e os

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