Fichamento Livro Beguinas
Por: hist1998 • 18/7/2023 • Trabalho acadêmico • 1.808 Palavras (8 Páginas) • 64 Visualizações
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA
DEPARTAMENTO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E LITERÁRIOS – DELL
DISCIPLINA: Interpretação de Texto e Redação
DOCENTE: Maria De Fátima De Almeida Baia
DISCENTE: Jadisson da Silva Novaes
– CURSO DE HISTÓRIA
ATIVIDADE: FICHAMENTO DE CITAÇÃO
TEXTO: OLIVEIRA, Leandro da Motta. Marguerite Porete e as Beguinas: a importante participação das mulheres nos movimentos espirituais e políticos da Idade Média. 2018. 124 f., Dissertação (Mestrado em História) —Universidade de Brasília (UnB), Brasília, 2018. ( pags. 47-79).
“ A Europa ocidental viveu a partir do século XII um contexto generalizado de renovação espiritual, com movimentos que questionaram, de forma consistente, a teologia oficialmente estabelecida, chamada ortodoxa pela igreja. O florescimento da mística foi um desses movimentos de renovação que colaborou para questionar a ortodoxia mediante a leitura e ensino da Bíblia feito por intermédio de uma leitura pessoal de mulheres, e que o faziam em uma relação de alteridade, tendo no discurso apofático uma característica marcante.” (OLIVEIRA, 2018, p. 47).
“O desenvolvimento do catolicismo durante a Idade Média buscou estabelecer uma forma de vida e pensamento pretensamente válida, em princípio, para toda a cristandade, baseada num corpo doutrinário que exprimia obediência às altas esferas eclesiásticas. Por intermédio de um corpo doutrinário que vai se desenvolvendo na alta hierarquia católica para chegar até as comunidades cristãs como ordenanças ou sacramentos, os ideais iniciais do cristianismo, representados pelo estilo de vida apostólico (vita apostolica), cederam espaço a um corpo de doutrinas formuladas por autoridades eclesiásticas, politicamente organizadas, que impuseram uma única forma de interpretar e vivenciar o cristianismo.” (OLIVEIRA, 2018, p. 48).
“As mulheres, de modo contrário, têm uma tendência, em sua maioria, a viver uma espiritualidade baseada no amor e em relações menos hierárquicas, a partir da linguagem vernácula comum aos seus ouvintes, sem mediações clericais em figura masculina e sem qualquer interferência externa às suas crenças que pudessem desviar o foco maior, que era a deidade.” (OLIVEIRA, 2018, p. 49).
“Para Maria-Milagros Rivera, os séculos XII e XIII foram propícios para a liberdade feminina na manifestação de sua espiritualidade. Isto porque os movimentos espirituais, como o do Livre Espírito, os cátaros e as beguinas eram carismáticos e acolhedores ao se identificarem com a vida cotidiana das comunidades medievais ocidentais, sobretudo das mais pobres, distintamente das doutrinas impostas pelo catolicismo que não se aliavam à realidade cotidiana das populações, estando ao largo de seus anseios espirituais e materiais.” (OLIVEIRA, 2018, p. 49).
“Marguerite Porete, pelo que se conhece das fontes históricas ligadas à sua vida, é natural da região do Reno, tendo vivido entre 1250-1310, no Condado de Hainaut, pertencente à cidade de Valenciennes, noroeste da França e nos atuais limites entre a França e a Bélgica. Em 1944 ela tem atribuída a si a autoria do livro Mirouer, por intermédio da estudiosa italiana” (OLIVEIRA, 2018, p. 50).
“Marguerite Porete unia-se ao movimento místico do Livre Espírito que buscava diálogo direto com o divino e na exaltação deste amor sem restrições. O argumento de Marguerite Porete na busca do caminho da perfeição abordava a necessidade do despojamento de tudo para alcançar a Deus, inclusive na libertação da razão, que tem nas conhecidas palavras da autora, “a alma, convertida em nada, sabe tudo e não sabe nada” seu maior exemplo.” (OLIVEIRA, 2018, p. 51).
“Ela testemunhou não apenas a grande efervescência espiritual de seus dias, mas também um clima de transformação econômica e política que marcaram os séculos XIII e XIV” (OLIVEIRA, 2018, p. 52).
“A cidade modificou a vida medieval ao alargar a rede de comunidades de que participava e por surgirem preocupações materiais. Nesse ambiente urbano nasceram os movimentos pauperistas, que chamaram a atenção às realidades de desigualdades econômicas e sociais. Cátaros, albingenses, goliardos e beguinas, dentre outros, despontaram em dissonância com a alta hierarquia eclesiástica, criticando o desacordo entre a pregação da igreja e a sua prática, unindo nesta crítica temas que diziam respeito aos dogmas da igreja” (OLIVEIRA, 2018, p. 53).
“Se por um lado as mulheres estavam circunscritas ao isolamento em espaços religiosos com exigência da clausura que separava laicos e clérigos, por outro as beguinas representaram uma resistência a este isolamento, presentes no “mundo” e intermediando com o divino. Ao mesmo tempo, sua pregação em vários ambientes, bem como a vivência evangélica sem muitas regras criaram pontos de atrito e de forte reação do clero constituído.” (OLIVEIRA, 2018, p. 55).
“[...] o movimento do Livre Espírito foi um movimento composto por um conjunto de ideias, de tendências, de formas de pensar a espiritualidade e a relação com o divino, que tomou corpo e se desenvolveu de forma lenta na mentalidade da cristandade desde 1200, para se difundir, sobretudo na segunda metade do século XIII. Foi um movimento menos palpável, sem um corpo doutrinário delimitado, que tinha muitas facetas que impregnavam a vida espiritual dos homens e mulheres medievais.” (OLIVEIRA, 2018, p. 56).
“O Movimento do Livre Espírito pode ser entendido como um processo que conduz a alma a se unir com o divino, realizado com práticas mistagógicas, incluindo a pobreza como princípio de liberdade e com uma capacidade de renovação extrema até o discernimento de si mesmo. Para o Livre Espírito a união com o divino se opera de uma forma tão radical que leva a alma ao reconhecimento do divino em si, a deificatio.” (OLIVEIRA, 2018, p. 57).
“Nas experiências místicas permitia-se que a pessoa comparecesse diretamente diante do sagrado, sem intermediação ou qualquer regra clerical previamente estabelecida para regular esta exposição. [...].” (OLIVEIRA, 2018, p. 57).
“Ao condenar o movimento Livre Espírito em conjunto com a obra de Marguerite Porete, a inquisição tentou proibir um itinerário pessoal de vivência da espiritualidade, próprio das místicas e dos místicos medievais, a forma como a interioridade da pessoa pode atuar individual e progressivamente para chegar a ser um com Deus e poder gozar de uma comunhão direta com a deidade, na medida em que foi tomada pelo amor divino.” (OLIVEIRA, 2018, p. 59).
“O movimento cátaro surgiu na Europa para logo se tornar uma ameaça à hegemonia do cristianismo pregado pela igreja. O período de maior crescimento documentado está entre 1140 a 1170, quando, segundo Nachman Falbel a “Reforma Gregoriana, acompanhada de início por entusiasmo popular, não conseguiu que a igreja canalizasse o entusiasmo a seu favor”.” (OLIVEIRA, 2018, p. 62).
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