Fichamento do Livro O Espírito da Intimidade
Por: Bernardo Ferreira Morelo • 6/9/2022 • Resenha • 7.071 Palavras (29 Páginas) • 133 Visualizações
Fichamento do texto O espírito da intimidade, ensinamentos ancestrais africanos, Sobonfu Somé.
Prefácio:
A autora reflete sobre a sabedoria de muitas gerações do povo Dagara, de África Ocidenta, refletindo a tradição oral de Sobonfu e o contexto tribal, que não é nada sem o espírito. As relações entre homens e mulheres servem ao espírito, à comunidade e aos ancestrais. Todas as questões do coração são iniciadas pelo espírito e é para esta fonte que nossa atenção precisa se voltar, ao considerarmos a saúde e o bem-estar de nossos relacionamentos. Oferece uma visão de mundo muito diferente, de várias formas, da do ocidente. No ocidente, a crença de primazia do indivíduo gera relacionamentos “privatizados”, de nossa propriedade, para a tribo do povo de Sobonfu, a ideia da existência de um relacionamento fora do contexto da aldeia e do sagrado é absurda e extremamente perigosa. Para a autora, o casamento é uma dádiva do espírito que requer nossa gratidão e que estejamos abertos a ouvir a razão pela qual fomos unidos.
Na cultura da autora, o propósito de vida é central à existência, e os relacionamentos são uma forma para sua expressão. A intimidade é formulada para o cumprimento do propósito da pessoa, para o enriquecimento da aldeia e para a expressão do espírito.
O livro apresenta uma cultura antiga, cuja sabedoria pode nos guiar para dar o próximo passo, conversando e refletindo a intimidade da autora com sua terra, seu povo e seus ancestrais.
O mundo tribal oferece uma perspectiva sobre relacionamentos que ajuda a restaurar seu contexto sagrado.
A compreensão da intimidade deve ser como uma prática determinada pelo espírito ou autorizada por ele.
Dano: lar da tradição.
Em 1882, a Europa tentou dividir o continente africano, o que acabou separando o povo Dagara em três nações diferentes. Essa separação ocorreu como resultado da natureza arbitrária dos poderes coloniais, que não aceitavam as comunidades tribais como nações.
A aldeia vive muito próxima da terra e da natureza, e veem isso como a dádiva que receberam do lugar, lá, a vida é diretamente inspirada pela terra, pela natureza. Assim, os relacionamentos são traduzidos na construção da comunidade e das relações entre as pessoas.
Os habitantes das diferentes aldeias se conhecem, tendo familiares e amigos em muitas dessas outras pequenas comunidades, seja por meio do casamento, da migração ou por relações de vizinhança.
Eles possuem uma economia de subsistência, produzem o que precisam para viver, não exportam, Para eles, esse é um conceito estranho, pois eles plantam a quantidade que precisam e nada mais. Negociam principalmente pela troca ou com conchas como moeda. Os dois sistemas de negociação existem ao mesmo tempo.
Criam animais para comer e para trocar. Caçam animais selvagens, sobretudo em rituais, como iniciações, não mais para subsistência. Essa mudança se dá pelas restrições políticas, o governo está tentando tomar a terra deles. Até 1980, a terra sempre foi do povo, porém, as pessoas não a consideravam sua, elas viam a terra como se fosse espírito, como algo emprestado, com a regulamentação governamental, as pessoas passaram a precisar pagar impostos sobre ela.
A colonização mudou muitas coisas na vida dos dagaras, porém, as estruturas familiares e de liderança continuam quase iguais, a maior parte das aldeias ainda tem os mesmos costumes, com uma forma de liderança quase medieval.
Para os dagaras, não há um chefe que manda em tudo e todos, os mais velhos supervisionam a aldeia, sem a intenção de adquirir riqueza ou poder. Para a aldeia, o poder é algo perigoso, se não for corretamente utilizado, logo, eles tomam muito cuidado com o uso de qualquer tipo de poder sobre os outros. Os anciãos tomam as decisões do povoado, trabalham para toda a comunidade, mas não é como um político que decide tudo. Por não possuírem polícia, as questões de justiça são solucionadas principalmente com o espírito e com os anciãos.
O conselho de anciãos é selecionado por todos que passaram pela iniciação dos anciãos, são selecionados de acordo com a compreensão dagara das forças elementares que formam o universo. O conselho é formado por cinco mulheres e cinco homens, que representam as cinco forças elementares que formam o universo: terra, água, mineral, fogo e natureza.
Os jovens que vão às escolas nas cidades mudam completamente, passam a ver as coisas de forma diferente.
Devido ao êxodo dos jovens para as cidades e a decorrente exposição deles à mídia de massa, o povo tribal está sofrendo uma tremenda pressão cultural. Está ocorrendo uma redução gradual da população da aldeia e a importação de todas essas novas ideias relativas ao romance e à privacidade.
Em África, pelo menos nas aldeias Dagara, as construções servem principalmente para dormir, para rituais e para armazenar alimentos, a vida de fato, dá-se do lado de fora, tudo acontece ao ar livre.
Viver na tribo força a pessoa a viver o momento e a comungar com a terra e a natureza, a ter paciência, o que é essencial, viver sem pressa.
Em África, as famílias são sempre amplas, os primos são irmãos, os sobrinhos são filhos, os tios são pais, o marido da irmã e seu marido, ambas em vice-versa e as mulheres também. As crianças são estimuladas a chamar outras pessoas de fora da família de mãe e pai, irmão e irmã.
Na aldeia, as grandes famílias vivem juntas, as mulheres dormem em um lado da casa e os outros, do outro. Esse conceito de grande família os auxilia muito nas relações entre eles.
Uma canção do espírito:
Para os povos tribais, o espírito é a força vital que há em tudo.
A intimidade é uma canção do espírito que convida duas pessoas a compartilharem seu espírito. Existe uma dimensão espiritual em todos os relacionamentos, independentemente de sua origem, duas pessoas unem-se porque o espírito as quer juntas. Logo, o relacionamento é movido pelo espírito, não pelo indivíduo.
O espírito tem como papel, guiar e orientar os relacionamentos para o bem, ajudando as pessoas a serem melhores, a se unirem de forma a manter sua conexão não apenas com elas mesmas, mas também com o além. O espírito ajuda a realizar o propósito da vida e a manter a sanidade.
Na cultura e tradição bagara, cada indivíduo
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