Fidel Castro e Salvador Allende
Por: Pedro Barbosa • 5/7/2016 • Trabalho acadêmico • 4.082 Palavras (17 Páginas) • 337 Visualizações
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
HISTÓRIA
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
PROFESSOR HELDER DA SILVEIRA
FIDEL CASTRO E SALVADOR ALLENDE, AS RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS E AS ORIGENS DO GOLPE MILITAR NO CHILE
Bruno Campos
Lucas Koglin
Pedro Barbosa
24 de Junho de 2015
INTRODUÇÃO
O presente artigo se apresenta com a proposta de analisar as relações diplomáticas entre Fidel Castro e Salvador Allende e a partir dessa análise entender as origens do golpe militar no Chile.
É um fato que a relação diplomática mais marcante entre os dois foi uma visita de Fidel Castro ao Chile em 1971 que durou 24 dias e que representou uma série de mudanças no ambiente político interno do Chile. Até a chegada do líder cubano era perceptível um ambiente de negociação entre as diferentes forças políticas no país. Já após essa visita o que se viu foi uma maior radicalização entre as forças e uma disputa muito mais acalorada, que perdurou até o golpe de 1973.
Assim, buscamos entender até que ponto essa relação influenciou em tais mudanças internas no Chile e de que forma elas se deram, além de citar as principais atitudes e discursos de Castro no país como forma de observar o caminho tomado por essas mudanças.
Para obter-se um entendimento mais profundo da questão proposta, é fundamental que façamos também uma análise narrativa da chegada ao poder tanto de Fidel Castro quanto de Salvador Allende em seus respectivos países como forma de buscar uma justificativa e um caminho lógico para as posições defendidas pelos dois, bem como forma de contextualização do assunto abordado.
Assim, assume-se o objetivo principal de analisar a relação diplomática de Fidel Castro e Salvador Allende e suas consequências na experiência cubana, bem como os objetivos secundários de entender a chegada ao poder e a forma como foram moldados os projetos políticos de ambos.
CUBA: A REVOLUÇÃO DE UM POVO
Para iniciar o artigo e dar sentido ao mesmo, é necessário levantar algumas questões quanto ao processo revolucionário cubano, já que esse é seguidamente encaixado dentro de certas polêmicas que dificultam a pesquisa e os decorrentes debates. Considera-se o assalto ao quartel de Moncada (1953) como marco inicial do processo revolucionário cubano. Momento no qual a sociedade cubana ainda não estava de todo mobilizada em torno da derrubada de um velho e conhecido ditador – Fulgêncio Batista. O ataque a um dos principais arsenais de armas do Exército cubano acabou fracassando. Boa parte dos participantes, oriundos do Partido Ortodoxo, acabou morrendo no confronto ou foi assassinada posteriormente pelas tropas de Batista. Tal episódio levou Fidel Casto, em seu julgamento a pronunciar a sua famosa frase e titulo de seu livro: “A história me absolverá”. Posteriormente libertados, Fidel e um grupo de seguidores exilaram-se no México, de onde partiriam, em 1956, numa expedição destinada a reiniciar a luta em Cuba.
A história da Revolução Cubana é antes de qualquer coisa a história de um povo que sempre esteve na luta por autodeterminação. Ou seja, a tomada de Havana no dia primeiro de janeiro de 1959 não foi um evento isolado dentro daquele país, mas sim uma sequência de lutas travadas desde a sua independência em 1898 que culminaram na vitória dos revolucionários de Fidel sobre a ditadura de Fulgêncio Batista.
O governo dos EUA acompanhava atentamente o que vinha acontecendo no território cubano, porém, provavelmente não se dava conta que estava assistindo a uma verdadeira revolução. Luiz Alberto Moniz Bandeira, definiu a importância da Revolução Cubana assim:
“A revolução cubana foi o fato político mais poderoso e o que maior impacto causou na
América Latina, ao longo do século XX, não por causa do seu caráter heroico e romântico ou porque o regime implantado por Fidel Castro evoluiu posteriormente para o comunismo, mas porque ela exprimiu dramaticamente as contradições não resolvidas entre os Estados Unidos e os demais países da região.”
Fidel sabia que após vencer a ditadura de Batista, o grande inimigo seria o seu vizinho imperialista. Mas isso não era dito abertamente. Por outro lado, a situação internacional conferia ao problema cubano uma dimensão menor. Após a guerra da Indochina e da revolta anticomunista na Hungria, o Departamento de Estado dos EUA estava mais preocupado com o que se passava na Europa do que com os problemas da pequena ilha do Caribe. Os soviéticos haviam acabado de lançar o Sputnik, obtendo grande prestígio e dando demonstração de força e superioridade bélica. Tudo isso contribuiu para diminuir a atenção norte-americana sobre Cuba.
O CARÁTER DA REVOLUÇÃO EM CUBA
Cuba após o evento da Bacia dos Porcos de 1961 foi declarada oficialmente como um Estado socialista, porém cabe a discussão quando ao caráter da revolução em si. Mesmo sabendo que nomes como o “Comandante” Che Guevara era assumidamente marxistas, o Movimento 26 de Julho em si não tinha esse caráter totalmente definido. Dentro de uma perspectiva diversa sobre o assunto, mas ainda referente à existência de uma “essência” do processo revolucionário, é enfatizado não o caráter socialista como o elemento gerador da revolução, mas sim os fatores relativos à existência de um projeto nacionalista. Segundo Muniz Bandeira:
“A Revolução Cubana foi autóctone, teve um caráter nacional e democrático, e, muito embora alguns de seus líderes, como o próprio Fidel Castro, acolhessem, em pequena medida, ideias marxistas, não era inevitável que ela se desenvolvesse a ponto de identificar-se com a doutrina comunista e sua forma de governo (BANDEIRA, p.5).”
É importante salientar que antes de 1961 o próprio Fidel Castro era mais simpático a um caminho alternativo ao socialismo e capitalismo. Numa entrevista de Fidel Castro à rádio que ligava Sierra Maestra a Caracas, um jornalista Jules Dubois, fez de tudo para arrancar alguma declaração do líder cubano sobre comunismo. Fidel respondeu sem hesitar: “eu não sou e nunca fui comunista, se o fosse teria coragem de dizê-lo. A única pessoa que tem interesse em taxar nosso movimento de comunista é o ditador Batista, pois necessita de armas americanas”. Seguindo essa ótica, a proposta socialista teria sido resultado do confronto cada vez maior entre os novos grupos que haviam assumido o poder em Cuba com o governo norte-americano. Reformar, em Cuba, significava necessariamente afetar os interesses de proprietários estadunidenses – fossem de terras, de bancos, empresas prestadoras de serviço ou outras atividades. E, essa atitude algo “impetuosa” de Fidel, o governo norte-americano estava disposto a enfrentar com medidas de retaliação que esperava que fizessem o governo revolucionário cubano voltar atrás e acabar por enquadrar-se de acordo com os níveis de reivindicação tolerados por eles.
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