Formas de Representação Religiosa no Brasil e no México do século XVI
Por: Felipe Augusto • 24/2/2016 • Trabalho acadêmico • 1.577 Palavras (7 Páginas) • 1.170 Visualizações
Universidade Federal de Ouro Preto
Instituto de Ciências Humanas e Sociais
Felipe Augusto
Leonardo Henrique
Fichamento: KARNAL, Leandro. Teatro da Fé: Formas de Representação Religiosa no Brasil e no México do século XVI. São Paulo: Hucitec, 1998. Capítulo 06: Catequese e Representação: Avaliação de um processo (p.191-219).
Em Catequese e Representação: Avaliação de um processo, Leandro Karnal, se dedica entre muitos pontos analisados no presente capítulo, inicialmente a desmitificar a crença criada pelos cronistas, segundo a qual as relações entre os índios e os religiosos passariam por uma plena harmonia. Ao longo do capítulo, percebe-se que o autor, aprofunda-se em questões não necessariamente ligadas aos indígenas, sendo estas por exemplos, a conflitos presentes internamente no clero. Em resumo, Leandro Karnal, ao decorrer da presente obra, propõe um debate em relação à aspectos correlacionados a catequização dos indígenas na América Ibérica.
- Problemas em relação aos índios
“Os índios foram retratados pelos cronistas como “dóceis”, aptos à evangelização, naturalmente inclinados à fé e profundamente devotados aos religiosos”. (Página: 191)
“Porém, a relação dos religiosos com os índios nem sempre foi de perfeita harmonia. Os mesmos índios que atendiam com tanto zelo aos apelos missionários, eram castigados corporalmente quando faltavam à missa dominical”. (Página: 192)
“Aos abusos e violências, os índios reagem com outros atos de violência. Os frades Bernardo Cossim, Pablo de Acevedo, Juan de Herrera e Juan Tapia foram mortos ao Norte da Nova Espanha. Em Puerba, em 1559, os índios invadiram à noite o convento de dominicanos, roubando tudo e quebrando os dentes do prior André de Moquer”. (Página: 192)
“A Nova Galícia inteira rebelou-se em 1541, e estes índios revoltados mataram Frei Martin de Jesus. Nesta rebelião os índios mostraram a importância da cena: profanaram a cruz, fizeram sacrifícios e danças pagãs e parodiaram a missa utilizando uma “tortilha” como hóstia”. (Página: 193)
- Problemas internos do clero
“Os religiosos, além dos problemas com os índios, têm frequentes atritos entre si”. (Página: 193)
“O poder e a cobiça dos religiosos são denunciados por vários cronistas. Gonzalo de Cervantes constata que os conventos estão disseminados de tal forma pela Nova Espanha e os religiosos adquirem tantas fazendas e casas”. (Página: 194)
“Mas não apenas índios insubmissos ou religiosos dissidentes e cúpidos agitam a vida religiosa na Nova Espanha. Também a ação dos bispos contra os religiosos foram frequentes, especialmente a partir do último quartel do século XVI”. (Página: 194)
“D. Alonso de Montúfar, religioso, escreve muitas cartas reclamando do poder dos religiosos. O Ordinário denuncia que as ordens consideram como suas aldeias de índios, não permitindo nem a visita do Ordinário nem de outras ordens. Denuncia o segundo antístite mexicano, que as ordens pretendiam, de fato, “que não houvesse bispos, mas que cada guardião ou prior se encarregasse de seu guardinato ou priorato”. (Página: 195)
“Mas é sob D. Pedro Moya de Contreras que este problema cresce. O terceiro arcebispo mexicano é secular, e, mais do que seus antecessores, antagoniza com as ordens. A primeira causa de antagonismo é o dízimo, pois as ordens não querem que os índios paguem dízimos aos bispos. Já os religiosos acusam os bispos de avareza, e de colocarem obstáculos à administração dos sacramentos”. (Página: 194)
- Alcance catequético
“Em primeiro lugar, é impressionante o relato da velocidade e do número de elementos convertidos. Pedro de Gante, o primeiro catequista do vale do México, fala em 14.000 batizados por dia”. (Página: 195)
“Motolínia, integrante do grupo dos “doze” identifica cinco milhões de batizados em doze anos, entre 1524 a 1536”. (Página: 195)
“Torquemada, mais modesto, fala de um milhão de batizados entre 1524 e 1539. Porém a maior evidência do “taylorismo” batismal da conquista é revelado pelo próprio Torquemada: a todos os índios que se batizavam num dia os índios colocavam o nome de Juam, e as mulheres, Maria, a todos os dias seguinte chamavam Pedro e Catarina”. (Página: 195)
“É claro que tão grande massa de convertidos não implicava longa catequese ou nem sequer um rito sacramental”. (Página: 196)
- Procedimentos e obras catequéticas
“O Papa Paulo III mais de uma vez advertiu aos missionários que não omitissem nenhuma parte da cerimônia, chegando a especificar a benção da água batismal, catecismo e exorcismo de cada índio, pôr sal, touca batismal e vela em dois ou três; pôr o óleo da crisma no alto da cabeça e o óleo dos catecúmenos “sobre o coração do homem adulto e dos meninos e meninas, nas mulheres adultas, pôr na parte que a decência aconselhar”. (Página: 196)
“No caso do México, o catecismo mais utilizado foi elaborado por um grupo de dominicanos liderados por Pedro de Córdoba”. (Página: 196)
“A obra, ao ser adaptada para o México, teve vários acréscimos sobre idolatria e questões de angelologia. A parte inicial expõe perguntas sobre o Credo, explicando detidamente cada ponto básico da fé católica”. (Página: 197)
“Uma das obras catequéticas mais famosas do Brasil do século XVI é da autoria de Padre Anchieta, o Dialogo da Fé. Esta obra bilíngue, tupi e português, trata dos rudimentos da fé cristã, porém, com diferenças em relação à obra de Frei Pedro de Córdoba”. (Página: 198)
“As preocupações de Anchieta parecem menos escolásticas do que seu similar mexicano. Começa ensinando definições sobre o ser cristão, o batismo e Cristo. Porém sua exatidão teológica logo penetra em conceituação estranha ao universo indígena:” De que sorte é verdadeiro Deus? Sendo Filho (verdadeiro e único) de Deus Padre. De que sorte é verdadeiro homem?”. (Página: 199)
“Imaginemos agora as populações tupis que ouviam tais afirmações na sua língua. Os cristãos têm um Deus que é Cristo. Este Deus é filho de um outro Deus, que também é Deus como ele”. (Página: 198)
- Transcendência
“Anchieta explica que não fazemos reverência ao madeiro da cruz, mas a seu significado (Paixão e Morte de Jesus), e que não estamos honrando a pedra ou o pau ou barro de que são feitas as imagens, mas “lembrando-nos de que são imagens suas que os representam”. (Página: 199)
“Ora: os povos indígenas da área do Brasil desconheceram o uso efetivo de imagens de barro ou madeira. É fácil supor que deveriam desconhecer o conceito ocidental de transcendência e representação que uma imagem cristã deveria evocar”. (Página: 199)
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