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Historia Do Maranhão

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Por:   •  25/8/2014  •  3.509 Palavras (15 Páginas)  •  455 Visualizações

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Origem do nome Maranhão

Não há só uma hipótese para a origem do nome do Estado do Maranhão. A teoria mais aceita é que Maranhão era o nome dado ao Rio Amazonas pelos nativos da região antes dos navegantes europeus chegarem ou que tenha algum relação com o Rio Marañon no Peru. Mas há outros possíveis significados como: grande mentira ou mexerico. Outra hipótese seria pelo fato do Estado conter um emaranhado de rios. Também pode significa mar grande ou mar que corre.

Início da colonização do território maranhense

Em 1534, D. João III divide a Colônia Portuguesa no Brasil em Capitanias Hereditárias, sendo o Maranhão parte de 4 delas (Maranhão 1ª parte, Maranhão 2ª parte, Ceará e Rio Grande), para melhor ocupar e proteger o território colonial. Porém, a ocupação no Maranhão aconteceu a partir da invasão francesa à Ilha de Upaon-Açu (Ilha de São Luís) em 1612, liderada por Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardière, que tentava fundar colônias no Brasil. Os franceses chegaram a fundar um núcleo de povoamento chamado França Equinocial e um forte chamado de "Fort Saint Louis". Esse foi o início da cidade de São Luís.

Entretanto, os portugueses expulsaram os franceses em 1615 na batalha de Guaxenduba, sob o comando de Jerônimo de Albuquerque Maranhão, e passam a ter controle das terras maranhenses. Nesse episódio, foi importante a participação dos povos índigenas que somaram forças a ambos os lados e estendendo o tamanho da batalha.

Invasão holandesa

Depois de terem invadido a maior parte do território do Nordeste da Colônia portuguesa na América, os holandeses dominaram as terras da Capitania do Maranhão em 1641. Eles desembarcaram em São Luís e tinham como objetivo a expansão da indústria açucareira com novas áreas de produção de cana-de-açúcar. Depois, expandiram-se para o interior da Capitania. Os colonos, insatisfeitos com a presença holandesa, começaram movimentos para a expulsão dos holandeses do Maranhão em 1642, sendo o primeiro movimento contra a dominação holandesa. As lutas só acabaram em 1644 e nelas se destaca Antônio Texeira de Melo como um dos líderes do movimento.

Revolta de Beckma

Em 1682, a Coroa Portuguesa decidiu criar a Companhia de Comércio do Maranhão. Tal Companhia tinha o dever de enviar ao Estado do Maranhão um navio por mês carregado de escravos e alimentos como azeite e vinho. Assim, Portugal pretendia aumentar o comércio da região.

Mas a estratégia não dera certo. A Companhia abusava nos preços e, por vezes, atrasava os navios. Isso somado às péssimas condições de vida na época, fizeram com que entre os colonos se criasse um clima de hostilidade contra a Metropóle.

Liderada por Manuel Beckman (Bequimão) em 1684, começa uma revolta nativista conhecida como a Revolta de Beckman. Os revoltosos queriam o fim da Companhia de Comércio do Maranhão e a expulsão dos jesuítas, pois a Companhia de Jesus era contra a escravidão indígena (principal fonte de mão-de-obra na época).

Os revoltosos chegaram a aprisionar o Capitão-mor de São Luís e outras autoridades, e expulsaram os jesuítas, mas foram derrotados pelas forças da Coroa. Manuel Beckman foi condenado à morte e enforcado em praça pública, apesar de seu irmão, Tomás Beckman ter ido à Portugal para falar diretamente ao rei o motivo da revolta.

O movimento conseguiu fazer com que a Companhia fosse extinta mas não foram atendidos sobre a expulsão dos jesuítas.

Marquês de Pombal e o Maranhão

Adotando ao modelo de déspota esclarecido, D. José I nomeou a Primeiro-Ministro, em Portugal, o Marquês de Pombal que teve importante papel na História do Maranhão.

Pombal fundou o Estado do Grão-Pará e Maranhão com capital em Belém e subdivido em quatro capitanias (Maranhão, Piauí, São José do Rio Negro e Grão-Pará). Além disso, expulsou os jesuítas e criou a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão cuja atuação desenvolveu a economia maranhense.

Na fase pombalina, a Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão incentivou as migrações de portugueses, principalmente açorianos, e aumentou o tráfico de escravos e produtos para a região. Tal fato fez com que o cultivo de arroz e algodão ganhasse força e logo colocou o Maranhão dentro do sistema agroexportador. Essa prosperidade econômica se refletiu no perfil urbano de São Luís, pois nessa época foi construída a maior parte dos casarões que compõem o Centro Histórico de São Luís que hoje é Patrimônio Mundial da Humanidade. A região enriqueceu e ficou fortemente ligada à Metrópole, quase inexistindo relação comercial com o sul do país.

Mas os projetos do Marquês de Pombal foram abalados quando subiu ao trono D. Maria I que extinguiu a Companhia de comércio e muitas outras ações do Marquês na Colônia.

Adesão do Maranhão à independência do Brasil

No Maranhão, as elites agrícolas e pecuaristas eram muito ligadas à Metrópole e a exemplo de outras províncias se recusaram a aderir à Independência do Brasil. À época, o Maranhão era uma das mais ricas regiões do Brasil. O intenso tráfego marítimo com a Metrópole, justificado pela maior proximidade com a Europa, tornava mais fácil o acesso e as trocas comerciais com Lisboa do que com o sul do país. Os filhos dos comerciantes ricos estudavam em Portugal.

A região era conservadora e avessa aos comandos vindos do Rio de Janeiro. Foi da Junta Governativa da Capital, São Luís, que partiu a iniciativa da repressão ao movimento da Independência no Piauí.

A Junta controlava ainda a região produtora do vale do rio Itapecuru, onde o principal centro era a vila de Caxias. Esta foi a localidade escolhida pelo Major Fidié para se fortificar após a derrota definitiva na Batalha do Jenipapo, no Piauí, imposta pelas tropas brasileiras, compostas por contingentes oriundos do Piauí e do Ceará. Fidié teve que capitular, sendo preso em Caxias e depois mandado para Portugal, onde foi recebido como herói. São Luís, a bela capital e tradicional reduto português, foi finalmente bloqueada por mar e ameaçada de bombardeio pela esquadra do Lord Cochrane, sendo obrigada a aderir à Independência em 28 de julho de 1823. Os anos imperiais que seguiram foram vingativos com o Maranhão; o abandono e descaso com a rica região levaram a um empobrecimento secular, ainda hoje não rompido.

A Balaiada

Foi o mais importante movimento popular do Maranhão e ocorreu entre Período Regencial e o primeiro ano do império de D. Pedro II. Os revoltosos exigiam melhores condições sociais e foram influênciados pelas lutas partidarias da aristocracia rural. Como líderes tiveram: Manuel Francisco dos Anjos Ferreira (O Balaio), Raimundo Gomes e Cosme dos Santos. Eles ainda conseguiram tomar a cidade de Caxias e estender o movimento até o Piauí, porém, as tropas do imperador lideradas por Luís Alves de Lima e Silva (que recebeu o título de Duque de Caxias) reprimiram o movimento. Os envolvidos foram anistiados e Manuel dos Anjos Ferreira e Negro Cosme foram mortos.

O estado do Maranhão recebeu duas importantes correntes migratórias ao longo do século XX. Nos primeiros anos chegaram sírio-libaneses, que se dedicaram inicialmente ao comércio modesto, passando em seguida a empreendimentos maiores e a dar origem a profissionais liberais e políticos. Entre as décadas de 40 e 60 chegou grande número de migrantes originários do estado do Ceará, em busca de melhores condições de vida na agricultura. Dedicaram-se principalmente à lavoura de arroz, o que fez crescer consideravelmente a produção do estado.

São Luiz - A capital do estado do Maranhão foi fundada em 1612, na ilha de São Luiz, às margens da baía de São Marcos, do oceano Atlântico e do estreito dos Mosquitos. Povoada originariamente pelos franceses no século XVII, atualmente sua população compõe-se de aproximadamente 53% de mulheres e 47 % de homens. A economia local baseia-se primordialmente na indústria de transformação de minérios e no comércio.

As principais atrações turísticas da cidade encontram-se na chamada Praia Grande, onde antigos casarões cobertos de azulejos evidenciam a influência portuguesa na arquitetura local. O bairro, restaurado quase por inteiro pelo Projeto Reviver, é ponto cultural de destaque na cidade. Dispõe de teatro, cinema, bares, lanchonetes, restaurantes e serviços para turistas. O Reviver recuperou cerca de 107 mil m2, mais de 200 prédios, substituiu toda a rede elétrica e proibiu o tráfego de veículos.

A obra, estimada em US$ 100 milhões, devolveu à Praia Grande o antigo cenário de centro comercial e cultural da cidade do século XIX, quando São Luiz era chamada de Atenas brasileira. Entre os principais locais procurados por turistas encontram-se o Largo do Palácio; o Cais da Sagração, onde costumavam ancorar os navios antigos, que levavam carregamento de açúcar; o Palácio dos Leões, local onde até 1615 funcionou o forte que protegia a capital da França Equinocial e até 1993 era a sede do governo estadual; a Catedral da Sé, construída pelos Jesuítas em 1726; a igreja do Carmo, construída em 1627, uma das mais antigas da cidade; o Museu de Artes Visuais, com trabalhos de artistas maranhenses e azulejos europeus dos séculos XIX e XX; o Museu de Arte Popular, que funciona também como centro de cultura popular; o Teatro Arthur Azevedo, construído entre 1815 e 1817, o primeiro a ser construído em uma capital de estado brasileiro; e a Fonte do Ribeirão (1796), que possui três portões de ferro dando acesso a passagens subterrâneas que servem para escoamento de águas pluviais; a Feira da Praia Grande, que funciona em um prédio do século XIX, exibindo em um de seus portões as armas do Império em relevo.

Trata-se do único exemplar em São Luís, que escapou da depredação depois de instituído o regime republicano. Hoje, são comercializados víveres, frutas regionais, artesanato, mariscos e peixes no local.

Existem várias praias cobertas de dunas de areia nas redondezas de São Luiz. Algumas delas apresentam certo perigo a banhistas, devido às ondas que quebram a 7 m de altura. Entre as mais populares encontram-se a praia do Calhau; a de Ponta da Areia, onde se encontram as ruínas do Forte Santo Antonio (1691); de São Marcos, com as ruínas do Forte de São Marcos, do século XVIII; e a praia de Araçaji, uma das mais bonitas dessa faixa litorânea. O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, localizado em Primeira Cruz, ainda não possui infra-estrutura para visitantes.

Indígenas - A população indígena do estado do Maranhão soma 12.238 habitantes, distribuídos entre 16 grupos que vivem numa área total de 1.908.89 hectares. Desse total, aproximadamente 86% (1.644.089 hectares), que representam 14 áreas, já se encontram demarcadas pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI), órgão do Governo Federal(9). Cerca de 14%, que correspondem a 264.000 hectares e incluem apenas duas áreas (Awá e Krikati) ainda estão em processo de demarcação, embora sejam ocupadas pelos índios. O grupo mais numeroso é o dos Araribóia, com população de 3.292 habitantes, que ocupa área de 413.288 hectares, já demarcada pela FUNAI, no município de Amarante. O Cana Brava Guajajara é o segundo grupo em tamanho da população, com 3.143 índios que ocupam 137.329 hectares nos municípios de Barra do Corda e Grajaú.

Por Ilmar R. de Mattos e Daniella Calábria

João Francisco Lisboa analisa em seu livro "Apontamentos para a História do Maranhão", de l852, os acontecimentos gerados pelo descontentamento criado pela introdução do estanco - comércio de produtos monopolizados pelo Estado - que tiveram sua culminância na Revolução do Maranhão de l684, episódio conhecido como a "Revolução de Beckman".

O objetivo deste trabalho é analisar algumas das significações que Lisboa emprestou a "povo", "moradores", "cidadãos", "plebe" e "turba": a relação entre "povo" e "herói" e seus conceitos de "ordem" e "desordem".

Povo é o elemento passivo, apesar de agente da desordem, porque é nele que agem as forças coletivas, não pode controlar as ações, ao contrário, é levado por elas, tornando-se, então, a força incontrolável que irrompe em excessos e conduz à desordem.

O sujeito da ação dos eventos narrados é Manuel Beckman, personagem que agrega os valores capazes de lhe conferir a condição de um herói. Mesmo assim, com o desenrolar dos acontecimentos, ele também passará a ser afetado pelas forras coletivas.

Mas vejamos como Lisboa se vale do uso do termo "povo", contraposto ao de "moradores", até o momento em que os acontecimentos revolucionários explodem na cidade.

Os "moradores" são a elite da cidade enquanto a ordem é mantida e estão claramente separados do "povo. Contudo, a partir do momento em que a opressão a que esses proprietários estão sendo submetidos a partir da introdução do estanco se explicita, esta elite transforma-se, na narrativa de Lisboa, em "Povo". É explícita a identificação do "povo" com uma situação de opressão. Este é o momento em que se alternam as designação de "moradores" e "Povo". Entretanto, este "Povo", constituído pela elite, jamais será igual ao "povo", formado pela plebe.

Existe, porém, um termo intermediário nesta transição de "moradores" para "Povo" "cidadão", que surge para designar os moradores uma vez que assumam parte ativa em uma situação política; termo que só permanece enquanto não surgem nenhum tipo de ação identificada com uma subversão da ordem. Isso significa dizer que permanecem cidadãos enquanto se mantêm no âmbito da reflexão , passando a tornar-se"Povo" se partem para a ação propriamente dita.

Esta idéia nos permite uma aproximação com as observações de Michelet no livro "O Povo", de l846. Interessante porque, ambos se consideram liberais e poucos anos separam as duas obras. Podemos usar, portanto, algumas chaves presentes em Michelet para interpretar Lisboa.

Em ambos os escritores está presente a idéia de que o povo é arrastado por grandes forças coletivas; bem como, a distinção que fazem entre "homens de reflexão", binômio de onde emergirá afigura do herói, ou para usar a denominação de Michelet, do gênio individual.

Apesar do povo ser "arrastado pelas grandes forças coletivas", o que Michelet considera mais interessante no povo é a sua capacidade de ação, por esta razão, segundo ele, o maior erro que as pessoas do povo podem cometer é abandonar os "seus instintos" e lançar-se em busca das "abstrações e generalidades", que, inversamente, caracterizam os homens das altas sociedades, que os fazem ser, "homens de reflexão".

O intuito de Michelet era resgatar a imagem do povo, porém, na verdade, esse objetivo ia além: ele estava descrevendo uma fórmula para salvação do povo, função esta, que caberia ao gênio individual, o herói:

"O povo, em sua concepção mais elevada, dificilmente se encontra no povo. Quer eu o observe aqui ou ali, não se trata dele, mas de uma classe, uma forma parcial do povo, alterada e efêmera. Em sua verdade, em seu poder maior, ele só existe no homem de gênio; neste é que mora a grande alma... Essa voz é a voz do povo; mudo pôr si, ele fala pela boca deste homem..., e nele, finalmente, todos são glorificados e salvos".

O limite a que chegou Michelet ao abordar o tema "povo" é revelado pela inversão que faz: ao invés de colocar o homem de gênio no povo, coloca o povo dentro do homem gênio.

No caso de Lisboa, o herói, em nenhuma de suas componentes, saí do seio do povo,partilha de elementos comuns com o povo ou o carrega em sua alma, como em Michelet; ao contrário, o herói é uma personagem que atravessa a fronteira entre a elite e o povo e ', é por causa dos valores que, por um lado, o destacam singularmente; e por outro, carregar consigo deberço , que o habilitam a desempenhar este papel. O heroísmo que Beckman representa não está em momento algum a serviço do povo para resgatá-lo de sua posição. Seu heroísmo existe para reagir à injustiça e à opressão que, aliás, são sofridos mais diretamente pelos proprietários submetidos à tiraniado estanco e à proibição do livre comércio. A designação de Povo que Lisboa emprega serve para nomeara elite que está submetida à opressão . O povo identificado com a maior gama da população é indicado mais propriamente pelas designações de turba, multidão ou plebe.

A política da Corte, "para não contrariar a prática seguida no Estado em ocasiões semelhantes" era fazer as coisas de modo a que, pelo menos, em aparência se dessem pela aceitação voluntária da parte do povo.

O que importava era que não se subvertesse a rotina naquele lugar. A novidade maléfica é a revolução que se anuncia através de uma série de pequenos incidentes que acabam por degenera-se até causar a deflagração da desordem no sistema. É exatamente isto que diz Francisco Lisboa "... em regra as crises natureza nunca deixam de trazer consigo todos os elementos indispensáveis a seu completo desenvolvimento". Esta mentalidade é a marca da permanência e da continuidade mantidas pela Corte como garantia da manutenção de seu poder.

As calamidades naturais entram no rol das causas gerais que se acumulam para agir de uma só vez, culminando no processo incontrolável que escapa ao controle humano e leva à revolução. O "povo" é o elemento impulsionado pelas "causas gerais", não possui ação própria, ele é mostrado como uma massa passiva pronta a ser conduzida.

É um acidente o estopim que detona a crise - o elemento próprio da situação de desordem, contido naturalmente no processo de degeneração. Este acidente é a aparição da voz que levará atrás de si a multidão: a figura do revolucionário. A multidão sozinha, como já acentuado, jamais poderia levar este processo adiante.

Para desempenhar este papel, Beckman sofre um rito de passagem através de um rebaixamento à condição do homem comum, o que se dá quando ele "ata o seu destino ao destino do povo" atravessando a distância que separa a elite privilegiada do homem do povo, passando a participar"da miséria e opressão comuns" sendo, portanto, "dominado e arrastado pelas mesmas idéias e paixões, que eram de todos". Isso faz com que Beckman não possa ter mais total controle da situação. Entretanto, esta situação não é absoluta já que Beckman nunca completa esta transição. Ele fica em uma situação intermediária entre o mundo da elite e o mundo do povo, entre o seu status nobre de "homem de reflexão" e o rebaixamento a "homem de ação". É esta localização especial que o habilita a conduzir as multidões e, sob este aspecto, ele representa o protótipo do herói.

A voz de Beckman, o líder, ao conduzir as novas ordens se confunde com a ação da multidão. Sua voz torna-se a própria ação. Mas é também , ao mesmo tempo, pela posição intermediária que ocupa, o elemento de moderação capaz de controlar a selvageria do povo, que a esta altura, já aparece representado totalmente por uma multidão que não possui mais faces identificáveis, é somente "povo", e o "povo" entregue a seu estado completo, torna-se "plebe", e junto com ela, estará sempre presente a perspectiva de violência, permanecendo, entretanto, a separação entre os líderes e o "povo", antepostos como nobres diante da plebe furiosa.

Segundo o relato, fica claro que Beckman não teria tido o intento de instalar uma nova ordem, mas, pelo contrário, restaurar a antiga. A manutenção da ordem mínima, surge como um ponto de honra a ser preservado pelos "melhores cidadãos", coisa muito diferente do que poderia fazer a "plebe".

Com o passar do tempo, começa a aparecer toda a inconstância do "povo", característica da falta das virtudes identificadas com a firmeza de propósitos e com a tenacidade próprias somente do herói. Gradualmente, a ordem começa a ser restabelecida, e com a normalidade, a rotina. É o retorno do mundo da permanência suplantado o instante fugaz da novidade revolucionária. Está demonstrada a instabilidade do povo, que parece saudar o fim da revolução com o mesmo entusiasmo com que abraçara a sua causa. A moral da história parece querer dizer que o "povo", enfim, ama a normalidade:

O início dos infortúnios de Beckman dera-se com o rompimento com o acordo tácito que mantinha as aparências "da aceitação voluntária do povo".

A revolução de Lisboa não é alteração radical das bases em que se apoiam a sociedade brasileira, a glória que destaca da revolta do Maranhão não é o fato de haver sido uma revolução, mas o heroísmo de Beckman. Sobre revoluções, Lisboa não as apoia, sua atração pelo tema restringe-se às discussões entre homens ilustrados, entre os "homens de reflexão", lugar onde ele mesmo se situa, e de onde pode encontrar a legitimidade e a justiça de uma revolução, que seria um movimento, como já se disse, voltado, unicamente, contra as injustiças e a falta de liberdade política e econômica para aqueles que identifica como cidadãos. Vai nesse sentido o liberalismo de Lisboa.

Poderia parecer absurdo, que Lisboa acabe reverenciando a revolução pela sua moderação, "respeito à vida", à "fazenda" e aos direitos dos adversários". O respeito à "fazenda", serve para diferenciar estas de outras revoltas menos nobres descritas como "simples fatos materiais", enquanto que, por outro lado, uma revolução feita de idéias poderia, facilmente, permanecer restrita aos salões da República das Letras, em perfeito isolamento dos ditames da tão temida necessidade. É ao intelecto que deve estar ligada a revolução e não à necessidade. Esta é a divisão entre "homens e reflexão" e "homens de ação", de que nos fala Michelet, e que parece fornecer os limites do mundo de Francisco Lisboa.

Bibliografia

Lisboa, J. Francisco. Crônica do Brasil colonial: apontamentos para a história do Maranhão, Petrópolis: Vozes, l976.

Michelet, Jules. O Povo, SP: Martins Fontes, l988.

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