LACERDA - Um olhar do outro
Por: Anelisa Gregoleti • 3/12/2019 • Trabalho acadêmico • 2.169 Palavras (9 Páginas) • 220 Visualizações
3.As mulheres no Brasil Colônia
3.1Breves divergências de perspectiva no estudo na mulher no Brasil colonial
Lacerda é formada em Direito, com estudos acadêmicos voltados para direito constitucional, e advoga em direitos humanos. Foi assessora, para direitos das mulheres na camara dos deputados. E Escreve o livro “Colonização dos corpos” no qual analisaremos hoje o capitulo 3 “As mulheres no Brasil Colonial”. Para complementar as referencias e explicações encontradas neste, vamos analisar o livro da grande historiadora brasileira Mary “Histórias das mulheres no Brasil”, especificamente o capítulo “A arte da sedução: sexualidade feminina na Colônia”, escrito por Emmanuel Araujo.
Antes de começar a tratar da figura representada pela mulher no período colonial é preciso mencionar brevemente divergências na abordagem do tema. Autoras como a renomada Mary Del Priore (2000 e 1993), além de Fabiano Vilaça (2008), Maria Ângela D´Incao (1997) e Rachel Soihet (1997)enfatizam a capacidade de resistência das mulheres naquele contexto, no seu “cotidiano impreciso” (Del Priore, 1993, p. 16). Não desejam pintar a imagem delas como vítimas, antes enfatizando sua capacidade de ação e mudança. Diferentemente, autores como Gilberto Freyre (1986), Caio Prado Junior (1957) e Darcy Ribeiro tratam da estrutura de dominação patriarcal e violenta contra as mulheres.
Essas duas perspectivas são importantes. O interesse pelo estudo da condição feminina da mulher do Brasil colônia recebeu menos atenção, pois a partir da década de noventa que o Brasil estimulou tal interesse, que resultou em pesquisas sobre a mulher principalmente cerca dos séculos XIX e XX.
Os estudos sobre o período colonial têm duas veias principais: a primeira, a romper com o estigma de extrema reclusão e religiosidade feminina (estereotipo de mulher rebelde); a segunda, em sempre analisar a mulher a partir da ótica da família. Como afirma Mary Del Priore uma das principais formas de resistência foi exatamente a maternidade; elas uniam-se aos seus filhos para resistir à solidão, à dor e, tantas vezes, ao abandono; dentro do seu lar, a mulher tinha um poder e uma autoridade dos quais ela raramente dispunha no mais da vida social.
A identidade feminina fazia-se a partir da maternidade, independentemente de a mulher pertencer à casa-grande, à senzala ou à palhoça bandeirista. Interessante observar que o elemento que talvez mais tenha justificado a exclusão da mulher no espaço público (a maternidade) é aquele no qual a mulher se apega como forma de resistência e de realização pessoal, além de ter sido o poder da geração o principal fator de controle sexual de algumas mulheres e de superabuso sexual de outras no Brasil colonial, como se verá mais adiante.
3.2 - Analogia entre a terra e a mulher: meios de produção e reprodução
A analogia entre o feminino e a natureza não foi inventada no Brasil. Muitos autores tratam e fazem diferentes abordagens da analogia, mas o centro das relações é a Europa(civilização) que quer dominar a América (natureza); da mesma forma como as mulheres eram vistas. Os habitantes do Novo Mundo eram vistos como selvagens desempenhava uma função particular. Ela implicava na descaracterização da humanidade social das culturas nativas, na sua redução a quase um aspecto da própria natureza. Igualmente se procedeu em relação às mulheres: o tratamento pela via da violência e a descaracterização de sua humanidade, ou de sua dignidade, ao incorporá-las como parte da natureza, ao tratar ambas da mesma forma.
Na descrição de Sérgio Buarque de Holanda, a terra era vista para “arruinar, pois Todos queriam extrair do solo excessivos benefícios sem grandes sacrifícios”, “só para a desfrutarem e a deixarem destruída”. Ora, foi rigorosamente desta forma que as mulheres foram vista
A mulher e a terra eram metáforas uma da outra não só no sentido da exploração sensorial e sexual, mas também como meios de produção e de reprodução, como propriedades, tendo as mulheres sua sexualidade abusada ou controlada conforme os imperativos da colonização. Isso foi válido não apenas em relação às índias, mas também em relação às negras, às mestiças e às brancas. O controle, os estímulos e os influxos das e às mulheres foram relacionados ao seu papel de reprodutora de braços e de transmissora de valores em função do interesse de colonização. Em função desse papel a mulher foi desgastada e devastada. Ambas, a terra e a mulher, devastadas e controladas, em função não apenas da simbologia de ligação com a natureza, mas em função do papel que desempenham na produçãos.
3.3 .Adestrar a natureza e a mulher: projeto normatizador
A metáfora entre a mulher e a terra foi mais além. A associação entre a mulher e a terra/natureza, portanto, envolvia os mistérios que o corpo feminino e que o território desconhecido invocavam; envolvia também a sensação de magia, de segredo e do desconhecido que a gestação e a menstruação sugeriam. os colonizadores “associaram a América Latina, e especialmente as mulheres latino-americanas, a epítetos verbais que evocam calor tropical, violência e paixão”. Isso se transformou, no discurso católico, em uma ligação da mulher com o mal e com o diabo.
Esta série de associações provocou e ao mesmo tempo justificou um violento projeto normatizador contra as mulheres. O processo normativo servia para que elas cumprissem seu papel de mães e esposas obedientes, difusoras do catolicismo e responsáveis pelo “povoamento ordenado da colônia. Esse processo de adestramento funcionava por meio de dois instrumentos: o discurso moralista e o discurso médico. O primeiro, atado à domesticação das mentes; o segundo, à dos corpos.
O discurso científico médico, note-se, era um saber masculino, autorizado a ser construído apenas por homens. Havia, assim, ao lado de um discurso normatizador, um discurso fomentador da maternidade, que se dava pela necessidade de colonização
3.4 Formas de organização da sexualidade
As diferenças sociais, econômicas e raciais eram fatores importantes na classificação do casamento. As mulheres das classes mais baixas não se adaptavam geralmente “às características dadas como universais ao sexo feminino: submissão, recato, delicadeza, fragilidade. Eram mulheres que trabalhavam e muito, em sua maioria não eram formalmente casadas, brigavam na rua, pronunciavam palavrões, fugindo, em grande escala, aos estereótipos atribuídos ao sexo frágil. Diferente da alta classe rural que tinha a família estável.
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