Memória e História em livros didáticos de História: o PNLD em perspectiva
Por: 261126 • 18/10/2017 • Artigo • 1.918 Palavras (8 Páginas) • 704 Visualizações
1 – ESTUDO DE ARTIGO
Memória e História em livros didáticos de História: o PNLD em perspectiva
As autoras, Fabiana Rodrigues de Almeida e Sonia Regina Miranda,no seu artigo, nos levam a refletir sobre a Memória, tanto na sua definição e concepção, quanto no seu papel na sociedade e na educação, sendo essencial para a percepção da continuidade da vida e da construção do saber histórico.
Logo no início, elas nos mostram que diversos autores abordam “a memória como um fenômeno político e social central no contexto histórico em que vivemos na contemporaneidade”, sendo ela a base para a compreensão dos fenômenos sociais e políticos, além de ser objeto de estudo de várias áreas, como a Psicologia, a Sociologia e a História.
Além disso,ela está totalmente ligada com nossas vidas cotidianas, pois desde o ato de falar com alguém, ver um filme, estudar,por exemplo, nos remete a lembrar de algo que guardamos por considerar importante. Atualmente a Memória tem se convertido “em uma nova mercadoria da contemporaneidade”, desde a venda de lembrancinhas de viagens à digitalização de fotos, músicas e vídeos que buscam o “não esquecimento”.
Essa nova valorização da Memória acontece em decorrência, segundo Huyssen, aos processos de aceleração do tempo que ocorreram após a Segunda Guerra Mundial, pois com o declínio da visão teológica da História que modificou a forma de nos relacionarmos com o tempo (antes visto como previsível - linear) e o trauma das grandes guerras e das crises econômicas mundiais, o futuro se abriu ao devir.
Hoje, diante do excesso de informações ao qual produzimos e temos acesso diariamente, somos compelidos a criar cada vez mais recursos de Memória e a valorizar a mesma. Assim, percebemos cada vez mais a valorização da memórias de determinados grupos sociais que antes foram silenciados ou esquecidos, como o caso do movimento negro que busca uma reinterpretação historiográfica do seu passado na História brasileira, reivindicando a consciência de uma identidade negra.
Outro movimento no nosso país que busca o apelo a memória é a Comissão da Verdade, que visa tornar pública uma parte da nossa história que permanecia “esquecida” ou silenciada, pois trata das vítimas da ditadura militar. Mas, esse movimento nãoacontece só no Brasil e sim em diversos países do mundo, onde se busca uma ressignificação do passado por movimentos sociais, como ocorre com “os conflitos do povo basco na Espanha; a afirmação
da língua catalã na Catalunha após uma longa história de censura e perseguições; a força do IRA na Grã-Bretanha e as fragmentações de poder no leste europeu; na África, como as disputas na região de Darfur; na Ásia, com os conflitos na região da Caxemira e no Sri Lanka; e na América, evidencia-se o movimento separatista do Quebec.”
Além da dimensão política, Paul Ricoeur nos mostrou que Memória atravessa a existência humana dando significado, sentido e afetividade, pois é intrínseca à condição humana sendo fundamental como a forma de nos entendermos enquanto indivíduos pertencentes a um grupo específico e em relação a outros grupos dentro do tempo e da sociedade. É através das operações de Memória que se torna possível avançar num tempo anterior ao de nossa vivência e projetar ações para o futuro.
O desafio atual do ensino de História diz respeito aos próprios desafios inseridos pela Memória no tempo presente, “uma Memória que reivindica lugares, que aquece o mercado de consumo, que elege o que deve ou não ser preservado, que luta contra as avalanches de esquecimento”. Assim, a compreensão da História tem o desafio de lidar com os procedimentos derivados das operações de Memória, que interferem diretamente na interpretação que se faz acerca das experiências passadas, definem a ação no presente e projeta o futuro. Dessa maneira, a Memória é uma condição necessária à formação da consciência histórica.
Mas, embora sejam campos de saberes distintos, História e Memória estão entrelaçadas, pois a História utiliza a Memória como fonte e a partir dela desenvolve suas operações de análise do passado. Assim, a História não prescinde da Memória, ela é capaz de investigar, através dos indícios, experiências que foram esquecidas no tempo (MIRANDA, 2007), assim como uma Memória pode se tornar legítima com ou sem a crítica da História.
Segundo as autoras, “A identidade pode ser considerada uma conquista da consciência histórica, cujo procedimento de criação de sentido se faz através da evocação da Memória na sua relação temporal de experiência do passado à expectativa de futuro”. Desta forma, o saber histórico escolar é fundamentado em uma experiência do tempo específica, cuja construção de sentido se vincula às vivências de cada indivíduo ou sociedade, gerando diferentes narrativas acerca do passado. Assim, a formação do pensamento histórico deve ser ensinado para o aluno a partir das suas próprias memórias e do grupo ao qual pertence, para que assim ele consiga dimensionar um passado anterior a sua existência de forma mais consistente.
As autoras levantam a importância de como a distinção entre os campos de saber de Memória e da História são definidos no interior dos livros didáticos, já que os mesmos tem grande importância no ensino de História em nosso país, pois o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) proporciona grande
impacto no sistema de ensino e no mercado editorial brasileiro. Afinal, lembrar do passado e escrever sobre ele não é a mesma coisa, pois a Memória é um processo ligado a construção de sentido e a identificação, enquanto a História é destinadas à análise do passado, sendo aberta às dúvidas e críticas.
Para se aprofundar neste tema, Almeida e Miranda analisaram 64 livros didáticos, referentes a coleções do 6º ao 9º ano do ano de 2011 e formularam alguns gráficos, dentre eles os seguintes:
O conceito de História é tematizado nos livros de História
Não
Sim
O Conceito de Memória é tematizado nos livros didáticos de História
Não
Sim
A partir destes gráficos, percebemos que há uma ausência significativa do conceito de Memória nestas coleções de livros didáticos.
As autoras concluem seu artigo ponderando em como há muito a ser discutido em sobre a realidade conceitual na produção de livros didáticos de História no Brasil, pois por meio da análise das obras didáticas aprovadas no PNLD 2011, foi possível constatar que “ainda há o predomínio de uma perspectiva de História totalizante e integrada, pautada em uma visão mais informativa que procedimental”. Em outras palavras, existe uma maior preocupação com a erudição dos fatos históricos do que com a formação do pensamento histórico que leve o aluno a obter uma atitude intelectual diante do mundo.
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