O Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Por: Thalya Rodrigues • 23/12/2023 • Resenha • 2.254 Palavras (10 Páginas) • 58 Visualizações
[pic 1] | Universidade Federal de Pernambuco - UFPE Centro de Filosofia e Ciências Humanas - Departamento de História Disciplina: História Contemporânea Professora: Suzana Cavani Rosas Aluna: Thainá Tavares Rêgo |
RESENHA ACERCA DO CAPÍTULO 09 DO LIVRO “HOLOCAUSTOS COLONIAIS”
Mike Davis se configura como um historiador renomado entre aqueles que possuem como interesse as temáticas acerca de ecologia e política. Partindo do exposto, cabe analisar suas devidas considerações colocadas à mesa em sua obra "Holocaustos coloniais" (2002), texto bastante complexo possuinte de várias pautas interessantes, entre as mais evidentes, se encontram a reflexão acerca do período de seca que se alastrou pelas demasiadas regiões da Ásia, China e no território brasileiro durante o século XIX e as devidas relações sócio-político-ambientais que se encontrava o território internacional. Nesse ínterim, através da leitura do capítulo posto para debate “ As origens do Terceiro Mundo”, têm-se como foco desenvolver as situações que ocorreram ao longo do XIX, como forma de analisar os acontecimentos que foram responsáveis por tal determinação a esses territórios. Sendo assim, Davis busca através dos acidentes climáticos ocorridos por meio da ENSO, analisar tais situações como forma de desmistificar o principal argumento de cunho eurocêntrico de que as secas oriundas de tais acidentes fossem o principal precursor da miséria nesses territórios.
"Clima ruim" versus "Sistema ruim"
Nesse primeiro momento, nos é apresentado as consequências divergentes do fenômeno da ENSO na planície da China em temporalidades diferentes ( em uma época pré e pós imperialista), onde, de antemão é posto em observação o evento ocorrido nos anos de 1743-4, no qual um grande período de seca fora responsável por devastar inúmeras plantações locais. No entanto, mesmo com todas as dificuldades impostas pelo clima, não houve um índice de mortalidade em massa por fome nem por doença como ocorre a partir da entrada do europeu nesse território.
É justamente pela exposição desse fator, que Davis começa a questionar as diferenças das ações tomadas no século XVIII para o século XIX que seriam responsáveis por tal feito. Dessa forma, quando analisamos o evento ocorrido nos anos de 1743, o que observa-se é o apoio que a classe camponesa recebeu de maneira imediata dos municípios antes mesmo de uma ação do Estado. Nesse momento, os silos foram responsáveis pela distribuição de rações como forma de alimentar os indivíduos que foram atingidos por tal catástrofe. Ademais, uma série de fatores poderiam explicar o motivo que levou a tais acontecimentos que vão além do sentimento de coletividade. Dessa forma, quando observamos a China durante a Era de Ouro, pode-se analisar que o Estado pode contar com um bom aparato administrativo, além da ação direta dos imperadores em determinados assuntos, sobretudo, na estabilização dos preços dos grãos, ocasionando assim, na segurança alimentar da população. Sendo assim, o que difere o locus temporal apresentado para as ocorrências do século XIX se configura justamente na honraria dos chings ao “ seu contrato social com os camponeses[1] [...]” enquanto “os europeus contemporâneos morriam aos milhões de fome e doenças relacionadas após invernos árticos e secas de verão em 1740-43[2].
No baluarte, o que difere o Estado Chinês de meados dos anos de 1740 para o século XIX, além de uma maior severidade climática do último, se encontra pautado no enfraquecimento desse Estado Chinês acoplado a entrada do estrangeiro advinda das relações imperialistas. A esse fator, podemos levar em consideração que o dito “sistema ruim’ seria aquele que viria com os ocidentais, onde a emergência no acúmulo de capital viria interagir diretamente com as formas de produção, na qual a subsistência seria transferida - sem qualquer preparação- para a produção voltado ao mercado internacional.Dessa forma, as relações em prol da coletividade passam a ter caráter individualista, escancarando assim, as problemáticas como fome, seca e o aprofundamento das relações subordinadas existentes.
"Leis de couro" versus "Leis de ferro"
Empenhado em desmistificar a visão eurocêntrica em relação aos países do oriente que são considerados como de “Terceiro Mundo”, ou seja, territórios subdesenvolvidos tidos como retrógrados, aqui neste tópico Davis traz como objetivo apresentar a Índia pré-britânica que mesmo com a repressiva advinda do sistema de castas, se faz possível perceber que as consequências oriundas dos fenômenos naturais começam a se apresentarem como mais graves apenas com a formulação de um mercado nacional. Atrelado ao exposto, o autor cita que antes desse momento o que se observava no território indiano era uma maior preocupação com as reservas alimentícias e na estabilização do preço das rações, além da afirmativa que “o Estado mongol considerava a proteção do camponês como uma obrigação essencial”[3].Dessa forma, o que temos ao contrário do que é comumente dispersado acerca de tais territórios, é que muitas vezes, como traz Watts “ as fomes [portanto] são crises sociais que representam as falhas de determinados sistemas econômicos e políticos”[4], sendo tais crises colocadas à prova principalmente com a ascensão capitalista advinda do imperialismo, onde a necessidade de suprir o mercado internacional será responsável por colocar tais territórios em pautas de miséria e fome.
Perspectivas sobre a vulnerabilidade
Nesse momento, se buscou maneiras de desconstruir o estereótipo de miséria que por muito tempo assolou as definições dos territórios que compunham a parte oriental do Globo. Para isso, Davis traz a esmo a argumentação que os períodos mais drásticos de fome nesses territórios podem ser observados a partir do século XIX, onde os camponeses são forçados violentamente a entrarem no mercado internacional. principalmente por conta das reestruturações simultâneas dos laços familiares e estatais através do novo tipo de sistema que estava sendo implementado, além da relação de dependência externa que viria a ser construída. Dessa forma, quando analisamos a inserção dos proprietários no mercado internacional, o que temos é que a incorporação desses pequenos proprietários de terra nos circuitos financeiros e de mercadorias controladas pelo estrangeiro acabou por enfraquecer a tradicional segurança alimentar que se fazia presente nesses territórios nos dando a consciência que sob a perspectiva da vulnerabilidade essa exposição se mostra muito mais factual com a ascensão do capitalismo e a entrada desses territórios no mercado internacional.
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