O Crime perfeito é aquele que não deixa cadáveres e o pior cadáver é o sofrimento que exige justiça
Por: Marcele Soares • 2/7/2018 • Trabalho acadêmico • 1.180 Palavras (5 Páginas) • 162 Visualizações
UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA
DISCIPLINA: ESTUDOS SOBRE A VIOLÊNCIA POLÍTICA E CRIMINOLÓGICA
ALUNA: MARCELE REBELLO DE FARIAS SOARES
PROFESSOR: CARLOS HENRIQUE AGUIAR SERRA
“O crime perfeito é aquele que não deixa cadáveres e o pior cadáver é o sofrimento que exige justiça”
Vladmir Safatle
O que é este momento atual em que estamos vivendo e o que ele difere do regime ditatorial que o Brasil vivenciou e na verdade ainda vive, desde 1964?
Em primeira análise gostaria de ressaltar que a Vera Malaguti nos traz em sua fala no texto “O Alemão é mais complexo” um apanhado de questões que foram vivenciadas desde o período da ditadura, tão expressamente detalhados no texto do Vladmir Safatle “Do Uso da Violência contra o Estado Ilegal” e que, assim como não houve reparação quanto a isso, essas questões se refazem diariamente no cotidiano dos moradores das favelas. E assim como o Estado reprimiu e negou tais acontecimentos, isso é perpetuado hoje, quando além de criar uma estrutura de armamento verticalizado e chamá-la de “Unidade de Polícia Pacificadora” ainda encontra na sociedade brasileira (alienada ao extremo) apoio midiático e aplausos.
“Passemos então a analisar essa colonização das almas que fez com que passássemos da crítica da truculência e da militarização da segurança pública à sua naturalização e agora ao aplauso, adesão subjetiva à barbárie.” (MALAGUTI, p.8)
Mas os oprimidos pela força “pacificadora”? E seus mortos incontáveis e, que assim como no período de 1964 a 1984, não tiveram direito a serem enterrados, nessa necessidade desumana de “violência da imposição do desaparecimento do nome”? Com certeza isso tudo é uma questão muito complexa!
Vivenciamos atualmente uma troca de valores como nunca antes visto. Claro que o Brasil vivenciou momentos de terror, como mencionado antes, mas a sociedade lutou e morreu por acreditar que não deveria aceitar um Estado ilegal, mas hoje vemos uma massa de manobra que aplaude o extermínio de pessoas, como se elas fossem inimigas – inimigas do Estado.
Dói, sim é doloroso reviver todos os dias o que tem acontecido, quando você tem conhecimento de tais atrocidades, quando busca através não somente da história (verdadeira dos fatos) o que aconteceu e que acontece. É um exercício que usa de toda sua estrutura física e emocional. Mas muito mais doloroso é fechar os olhos para isso. Digo por experiência própria.
Traz um estranhamento constatar que o Brasil se baseou em um projeto de políticas norte-americanas, no caso o projeto Medellín, para instaurar no Rio de Janeiro essa tática de guerrilha, como se não houvesse forma mais clara de chamar a própria nação de inimiga. E não tiveram nem a presteza de depois vir a constatar que este modelo de “combate ao crime” falhou na Colômbia. Este tipo de “gestão policial e policianesca da vida cotidiana dos probres que lá habitam” nada mais é do que uma gestão de morte, um massacre a céu aberto, com direito a aparato de guerra? Mas contra quem? Pacificação para quem?
“Se as UPPs fossem um projeto de vanguarda, com certeza a governamentalidade carioca, a nível municipal e estadual, trataria de implantá-la no Leblon ou na Barra da Tijuca, onde refulge e se concentra o esplendor do capitalismo de barbárie na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.” (MALAGUTI, p. 25)
Não, não nos enganemos. É para extermínio mesmo. É para higienização, para tirar do pobre, negro, favelado seu direito de lazer, mesmo que somente em seu território, é para proibir o Funk, porque “isso não é cultura, é apologia ao tráfico”, para acabar com o mercado local e trazer para o morro um mercado mais formal, para acabar com toda “desordem urbana” ali existente. Mas e o tráfico? Não há fim para este problema, pelo menos não com as UPPs, porque este problema, se é que assim o chamam realmente, é de interesse tanto público quanto privado, há muita sujeita envolvida e que quanto mais se mexe, mais fede. Mais morrem, mais somem. E nossos jovens, seduzidos por este mundo acreditando em cifras, são só números. Que se perdem e se esquecem com o tempo.
...