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O Gênero e Memória

Por:   •  5/2/2019  •  Trabalho acadêmico  •  5.041 Palavras (21 Páginas)  •  132 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA [pic 1]

Centro de Filosofia e Ciências Humanas

Programa de Pós-Graduação em História

Disciplina: Tópico Especial Teorias e críticas feministas - PGL510124

Professora: Drª. Claudia Junqueira de Lima Costa

Aluno: Altair Bonini                                          Matrícula: 201601559

Data: 1/01/2018

Trabalho final – Ensaio

Gênero, mulheres e práticas corporais e esportivas no Brasil da década de 1950: representações e subjetividades[1]

Altair Bonini[2]

RESUMO

A partir de reportagens publicadas na revista Manchete Esportiva, realizadas com mulheres esportistas no ano de 1956, objetivamos refletir sobre o papel da imprensa esportiva relacionado à construção de gênero. Bem como, buscaremos destacar a participação feminina nos esportes, mesmo em um período, em que existiam leis que interditavam várias práticas corporais para as mulheres, que por sua vez, visavam estabelecer este campo como pertencente exclusivamente aos homens. As práticas corporais e esportivas estavam vinculadas a valores esperados socialmente e culturalmente aos homens, tais como: esforço, persistência, sacrifício, violência etc. Cabe questionar se a participação feminina serviu como lugar de entrada das mulheres para o espaço público? Ou como forma de libertação das convenções e das regras normativas de gênero, questionando a moral social? Mesmo com interdições, quais esportes as mulheres praticavam? Quais as formas de sociabilidades.

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Palavras-chave: gênero; mulheres; esporte; periódicos.

  1. Introdução

. Dessa maneira, pretende-se apresentar, neste texto, como a crítica literária feminista pode ser um dado que subsidie a escrita de uma nova história da literatura sob o signo do gênero.

2. Mulher, mulheres e gênero: desenvolvimento do campo de estudos

Após a década de 1960, os movimentos sociais de mulheres e as feministas, preocuparam-se, além de se dedicarem com as questões sociais e políticas, em elaborar questões teóricas para assim, entender e explicar melhor, como as diferenças entre homens e mulheres eram estruturadas, legitimadas e reproduzidas socialmente. Estas discussões, aos poucos passaram dos movimentos sociais para as universidades, pelas mãos de pesquisadoras e pesquisadores das mais diferentes áreas do conhecimento, principalmente das Ciências Humanas, passaram a utilizar várias categorias de análise, até então ausentes das produções cientificas. Neste contexto, desde o início as questões teóricas elaboradas por representantes dos movimentos e pesquisadoras/es estavam ligadas “[...] a luta por direitos civis, direitos humanos, enfim, igualdade e respeito” (PEDRO, 2005, p. 78).

Inicialmente a categoria mulher foi empregada, em pesquisas, como uma possibilidade para dar visibilidade para a mulher, pois “[...] era como Mulher que elas reafirmavam uma identidade, separada da de Homem (PEDRO, 2005, p. 80). Na perspectiva historiográfica, como em outras áreas, os discursos estavam centrados na figura do homem enquanto sujeito universal.  Na  história, os sujeitos privilegiados  eram os grandes homens, principalmente ligados ao Estado.

Como toda teoria é dinâmica e procura responder às questões da realidade, a categoria mulher foi contestada, principalmente por pesquisadoras e feministas norte americanas. Estas passaram a perceber que o discurso feminista vinculado a uma identidade única não contemplavam suas demandas, pois existiam “mulheres negras, índias, mestiças, pobres, trabalhadoras, muitas delas feministas, reivindicaram uma “diferença” – dentro da diferença. Ou seja, a categoria “mulher”, que constituía uma identidade diferenciada da de “homem”, não era suficiente para explicá-las.” (Pedro, 2005, p. 80). Isto fez com que a categoria “mulher” fosse repensada em torno de “mulheres”, pois não viviam de formas idênticas, suas pautas e problemas eram outras conforme o contexto, tempo, geração, etnia, classe, entre outras.

No final dos anos 1980, já haviam muitas pesquisas realizadas nas mais diversas áreas tendo como objeto de estudo as “mulheres” no plural. Entre as historiadoras brasileiras deste período podemos citar: Maria Odila da Silva Dias, Margareth Rago, Miriam Moreira Leite, Rachel Soihet, Mary Del Priore, Eni de Mesquita Sâmara, Leila Algranti, Paula Figueiredo, Joana Maria Pedro, Cristina Scheibe Wolff, entre outras. Contudo, foi justamente no bojo de uma intensa produção e grande debate teórico e político que muitas estudiosas/os passam a empregar o temo gênero.

O termo gênero foi utilizado pela primeira vez pelo psiquiatra Robert Stoller em 1968, para diferenciar do termo sexo, associado às condições biológicas. Porém, o termo ficou mais conhecido com os trabalhos da antropóloga norte-americana Gayle Rubin em 1975, também considerando a diferença entre sexo social/cultural e sexo biológico (cf. STOLLER, 1968 e RUBIN, 1975).

Como até o final do século XX, prevalecia a dualidade entre sexo, entendido como algo dado e imutável biologicamente e gênero, como uma construção cultural[3], a historiadora estadunidense Joan Scott, no artigo Gênero: uma categoria útil de análise histórica, publicado no Brasil em 1990, trouxe novas perspectivas para os estudos sobre mulheres. Cabe ressaltar, como aponta Scott, que feministas já vinham utilizando o termo, retirado da gramática, com o objetivo de evitar palavras que reforçassem o determinismo biológico. Além disso, permitia a elaboração de análises sobre a organização social das relações entre os sexos, evidenciando-as como construções culturais e históricas. (cf. PEDRO, 2005, p. 86 e SCOTT, 1990).

Assim, Joan Scott (1990) ao propor o uso do gênero como uma categoria de análise amplia teoricamente o campo. A autora explica que: “o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos, e o gênero é um primeiro modo de dar significado às relações de poder” (p. 14). Se o gênero é a constituição de diferenças sexuais, Scott demonstra que era fundamental perceber como elas são construídas e ganham significados culturais ao longo do tempo e espaço. A constituição das diferenças hierarquiza as relações entre mulheres e homens. Juntamente com estas questões, o gênero é a primeira maneira de dar significado às relações de poder, que permeia todas as relações sociais e de gênero, consequentemente nas diferenças entre masculino e feminino.

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