O uso do filme para o ensino de Historia
Por: Felipe Couto • 16/8/2016 • Artigo • 4.344 Palavras (18 Páginas) • 472 Visualizações
Uso de filmes para o ensino de História
São diversas as ferramentas que podem ser utilizadas para melhorar a experiência da aprendizagem do aluno a respeito dos conteúdos da disciplina de História; sendo a cultura do cinema algo presente nos momentos de lazer de muitos alunos, aulas mais dinâmicas pode ser essa uma ferramenta que auxilie o professor na elaboração de e que atrai um interesse maior ao conteúdo estudado.
Segundo Bittencourt “os atuais métodos de ensino têm de se articular as para novas tecnologias que a escola possa se identificar com as novas gerações, pertencentes a cultura das mídias” (2011,Pag. 107) Embora Bittencourt não se refere diretamente ao uso de filmes nessa afirmação, vale pensar nessa mesma perspectiva.
Os alunos estão inseridos de forma intensa no mercado de consumo de filmes, séries, novelas e outras formas de mídias, em estudo feito por Maria Lucia Lopes Santos entre os anos de 2008 e 2009, 60% dos alunos entrevistados declararam assistir constantemente a filmes e vídeos em casa e outros 36% declararam que “às vezes” assistem a essas mídias. Em muitos casos os alunos não percebem que consumindo determinado tipo de filmes, está retendo conhecimento, que podem ser uteis para o conhecimento escolar, obtendo assim informações que talvez não estejam nos livros didáticos, ou então cometendo alguns erros por assistirem um filme sem base critica e cientifica.
Assim sendo, acaba se tornando um dever da escola e dos professores se articular para o uso dessas mídias, quando o ensino se da somente via escrita, ou então com os métodos tradicionais de ensino, os alunos acabam perdendo o interesse nas aulas e na busca de conhecimento. Para defender o uso do cinema como fonte alternativa de conhecimento, e de manter o interesse dos alunos nas aulas, Sylvia Alencar cita que:
“O cinema possibilita o encontro entre pessoas, amplia o mundo de cada um, mostra na tela o que é familiar e o que é desconhecido e estimula o aprender. Penso que o cinema aguça a percepção a torna mais ágil o raciocínio na medida em que, para entendermos o conteúdo de um filme, precisamos concatenar todos os recursos da linguagem fílmica utilizados no desenrolar do espetáculo e que evoluem com rapidez. (ALENCAR, 2007, p. 137).’’
As imagens acabam trazendo para os alunos uma forma diferente de visão dos personagens históricos, a leitura apesar de ser de extrema importância e a principal fonte de conhecimento histórico, em grande parte dos casos não trazem os detalhes que uma imagem pode trazer. Como exemplo, podemos usar cenas do filme britânico “A missão”, produzido no ano de 1986 e dirigido por Roland Joffé, que tem como tema histórico, a questão das guerras guaraníticas, e onde podemos observar as dificuldades que havia no convívio entre jesuítas e nativos, além da organização social, e de trabalho nessas comunidades. Levando em consideração o numero restrito de aulas do ensino de Historia que temos na educação básica, podemos atentar que dificilmente teríamos como inserir uma observação um pouco mais ampla desses aspectos somente através da leitura de textos escritos mais elaborados e detalhados.
Legalmente o uso de filmes em sala de aula é obrigatório conforme diz a lei n° 13006, sancionada pela presidente Dilma Roussef, em que incluía o parágrafo 8° no art. 26 da LDB 9394/96, tendo esse parágrafo o seguinte texto:
§ 8° A exibição de filmes de produção nacional constituirá componente curricular complementar integrado à proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais.
Porem a lei não é cumprida por todos os professores e colégios, e um dos problemas que podemos citar é a falta da cultura de produção cinematográfica que temos no Brasil, além disso, a indústria nacional em poucos casos abrange os conteúdos históricos, tendo poucos filmes com essa temática em que é possível ser trabalhado em sala de aula.
Outro fator determinante para o não cumprimento dessa lei é a falta de uma cultura do uso dessa ferramenta, por muito tempo a escola e os professores privilegiaram o uso da linguagem escrita, e os métodos tradicionais de ensino de historia; outro aspecto que contribuía para a falta de cultura do uso das ferramentas fílmicas, eram a falta de instrumentos para a exibição de filmes, as dificuldades enfrentadas eram grandes devido ao diminuto numero de televisores e aparelhos de DVD ou fita cassetes nos colégios, sendo necessários fazer reservas de horários nas salas de vídeos, e conduzir os alunos de uma classe até esses espaços, o que acabava atrasando e muito a exibição dos filmes.
Em um contexto histórico do uso dessa ferramenta podemos citar, Jonatas Serrano, primeiro defensor brasileiro do uso de filmes afirmava que “Graças ao cinematografo, as ressureições históricas já não são uma utopia”,(Ensino de Historia: fundamentos e métodos. 2011, Pag. 371) citação essa que não pode ser considerado atualmente, devido a falta de uma contestação da forma de produção das imagens, porem devemos levar em consideração que essa afirmação foi feita no início do século XX, uma época em que o cinema não tinha alcançado esse patamar comercial que vemos atualmente e nem haviam muitos estudiosos a respeito do uso do cinema como fonte histórica.
Nos anos de 1960 teve início o trabalho de historiadores a respeito do cinema, o que ficou evidenciado por Marc Ferro e Pierre Sorlin, porém, diferente do que afirmava Serrano, para estes, os filmes não ilustram, nem demonstram a realidade, e sim reconstrói a realidade através das imagens produzidas em um contexto histórico.
Estas afirmações apesar de se referirem à produção cientificam, deve ser levada em consideração ao usar os recursos fílmicos para uso didático, pois essa não é uma ferramenta feita com o intuito didático; a produção cinematográfica tem um viés comercial, sendo muitas vezes modificado o roteiro para buscar uma melhor aceitação do público e da crítica de cinema, em filmes de ficção a mudança de roteiro para melhor aceitação não tem grande importância, porem em filmes que se baseia em fatos históricos reais, a mudança de roteiro pode trazer uma visão distorcida da realidade, ou então criar uma realidade que não existiu de fato.
Marc ferro faz a análise de filmes baseado no que pra ele é filme – temas ou planos – e o que não seria filme – que seria toda produção do filme, além do público alvo, regime político, e respeito a crítica de cinema. Tendo por base o método de análise de Marc Ferro, no momento de fazer critica a um determinado filme, é importante ter um conhecimento de como foi produzido esse longa.
Pierre Sorlin diz que que é necessário pro historiador que usa o filme como fonte de estudo histórico, ir além da analise da conjuntural que Marc Ferro propõe uma analise semióloga, buscando especificar os os mecanismos da expressão cinematográfica; assim sendo é levado em conta todos os aspectos de um filme, tais como, a trilha sonora, os figurantes, os ruídos, nesse método é necessário analisar toda a equipe de produção, e não somente a direção do filme, também é importante nesse método analisar a sociedade que produziu e que consome este filme, as variáveis ideológicas, culturais e sociais.
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