Resenha Como Tornar-se um Ditador
Por: Williamwsteiner • 17/3/2022 • Resenha • 4.075 Palavras (17 Páginas) • 275 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ)
Beatriz Alves de Brito DRE: 118158371
Gabriela Melo de Moraes DRE: 117208000
Gabriela Motta Carioca Santos DRE: 120045542
RESENHA
REINE PELO TERROR (temporada 1, ep. 3). “Como se tornar um tirano” [seriado].
Produção: David Ginsberg, Jake Laufer, Jonas Bell Pasht, Peter Dinklage e Jonah Bekhor.
Distribuidora: Netflix, 2021 (30min)
Instituto de História/UFRJ Disciplina – História e Política I: Os regimes autoritários no Mundo Contemporâneo: Psicologia das massas, liderança carismática e cultura da mídia (séc.
XX-XXI) Prof. Wagner Pinheiro Pereira
Rio de Janeiro 2022
A série “Como se tornar um tirano” idealizada e produzida por David Ginsberg, Jake Laufer, Jonas Bell Pasth, Peter Dinklage, e Jonah Bekhor, lançada no ano de 2021, apresenta, ao longo de seis episódios com duração de trinta minutos, a trajetória que um indivíduo precisa percorrer para se tornar um tirano. A série apresenta os principais acontecimentos que marcaram importantes governos tiranos existentes nos séculos XX e XXI, mostrando suas medidas para a formação de seus governos. Dessa forma o guia tem como objetivo apontar a trajetória que um tirano deve percorrer para alcançar seus objetivos, ou seja, a tirania.
Podemos notar ao longo da série o uso de animações e fotografias, com o propósito de apresentar os principais eventos que marcaram a construção de cada governo e suas transformações e como esses eventos se tornaram importantes marcos para a história dos séculos XX e XXI. Mas é importante também ressaltar que mesmo apresentando os principais nomes em relação a tirania, e os recortes de cada regime, uma das principais problemáticas que podemos notar ao longo da série é o fato de se manter superficial na abordagem de determinados acontecimentos, deixando de lado uma abordagem profunda sobre as origens, construções, consequências posteriores e principalmente as atrocidades de cada governo. Dessa forma, pode gerar uma falta de contextualização que pode prejudicar o entendimento do telespectador sobre o período demonstrado na série, partindo do princípio de que a análise do contexto histórico no qual a produção cinematográfica está inserida possui uma grande importância para o entendimento da própria. Mostrando assim que a série não rompe com os padrões Hollywoodianos que tem como foco entreter o público a cada episódio, algo característico da cultura midiática.
Na série, as representações dos eventos são feitas por meio de animações ou fotografias, que atraem e predem a atenção do telespectador, sendo possível notar como elas ajudam a promover as diversas imagens e representações dos governos. Os pesquisadores, Steven Mintz e Randy Roberts, acreditam que os filmes, nesse caso as produções audiovisuais em geral, ajudam a formar a própria imagem e a promover a unificação de símbolos em uma sociedade (apud PEREIRA, 2020, p.382). Dessa forma o uso das obras de forma superficial, sem a abordagem do contexto histórico, com o intuito de se tornar cativante pode ser prejudicial para aqueles que não possuem qualquer tipo de senso crítico sobre obras cinematográfica, ou qualquer outra fonte de referência bibliográfica podendo gerar um fascínio pelos símbolos apresentados.
Lançada pelo streaming Netflix, exibida também por este, a série é baseada no livro o “Manual do Ditador”, escrito pelo cientista político Bruce Bueno de Mesquita. A série apresenta uma reconstrução dos eventos utilizando documentos cinematográficos e animações, estas que foram realizadas pelo estúdio 6 Point Harness[1], fundado em 2003, nos Estados Unidos, e ganhador do Oscar, em 2020, pelo curta-metragem “Hair Love”. Com isso é possível notar que estes artifícios tem o objetivo de gerar uma melhor percepção e conexão com os acontecimentos por parte do telespectador. A série “Como se tornar um tirano” foi produzida nos Estados Unidos, e tem como título original “How to Become a Tyrant”, ela apresenta diversos produtores, incluindo Peter Dinklage, ganhador do Emmy por sua atuação na série “Game of Thrones”. Além disso, é notável a presença de diversos historiadores, jornalistas e especialistas que fazem vários comentários sobre os fatos históricos apresentados ao longo da série. Segundo os produtores da série, Jonah Bekhor e Jonas Bell Pasth, em uma entrevista para o site TV Insider[2], o documentário tem como objetivo, não encorajar as pessoas a seguir os passos dos tiranos, mas sim, chamar a atenção do público e provocar uma reflexão, pois nos dias atuais há um aumento de atitudes tirânicas.
A presente resenha tem como objetivo abordar os principais aspectos presentes no terceiro episódio da série que retrata a ditadura de Idi Amin Dada, sua ascensão, inspirações e trajetória ao longo de seu regime. Apesar da série trazer pesquisadores para embasar o conteúdo do documentário e apresentar fatos verídicos, ela não consegue abordar de forma crítica os fatos históricos apresentados, por exemplo, não há uma contextualização política sobre os motivos que levaram a Adi a assumir o poder e a falta de uma reflexão crítica sobre o surgimento dos regimes autoritários no século XX. Essa superficialidade sobre como são tratados os fatos históricos apresentados também é descrita na matéria feita pelo jornalista Joel Keller, que já teve artigos públicos no New York Times, no site sobre cultura pop DECIDER[3]. O jornalista afirma que a série apresenta boas explicações históricas e de forma acessível para o público leigo, mas não consegue fazer uma análise profunda sobre o que aborda.
O terceiro episódio tem como objetivo abordar uma questão importante: como reinar por meio do terror. Segundo a narração de Peter Dinklage, após a derrota de seu inimigo dentro dos seus governos, o futuro tirano ainda possui mais um passo para construir o seu regime, que é enfrentar a sua maior ameaça, o povo, já que este é mais difícil de controlar. O manual orienta que o futuro tirano deve conquistar o apoio do povo nos bons e maus momentos. O professor de ciências política e filosofia Waller Newell utiliza uma das principais discussões do filósofo Maquiavel, sobre ser temido ou amado, para iniciar a discussão. Ele aponta que a melhor estratégia é o terror, pois sua presença faz com que o indivíduo exerça um controle sobre as pessoas, podendo trazer benefícios, como foi supostamente o caso de Idi Amin, que fez da violência e do terror os pilares de seu regime. Dinklage afirma que ao seguir o exemplo do ditador, que teve seu reinado marcado por mais de 300 mil mortes, o futuro tirano poderá aprender a como governar pelo terror.
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