Resenha Le Goff
Por: joseph bianchi cava • 3/4/2019 • Resenha • 1.418 Palavras (6 Páginas) • 262 Visualizações
LE GOFF, Jacques. O Deus da Idade Média. Conversas com Jean-Luc Pouthier. Tradução de Marcos de Castro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
A obra O Deus da Idade Média – Conversas com Jean-Luc Pouthier, foi escrita pelo especialista em Idade Média, o historiador francês Jacques Le Goff, após uma entrevista com o Jean-Luc Pouthier. Essa obra trata como temática: a construção da ideia e do entendimento dos homens e mulheres medievais sobre Deus, além das influências que a Antiguidade Tardia e a Igreja possuem para com a idealização do Deus cristão na Idade Média.
Estruturalmente falando, o livro é dividido em seis partes, dos quais são: Introdução, prolongando-se a quatro capítulos – intitulados respectivamente com os termos “De que Deus se trata¿”, “Duas figuras maiores, o Espírito Santo e a Virgem Maria”, “A sociedade medieval e Deus” e “Deus na cultura medieval”, finalizando todos os expostos com a Conclusão. Logo nas primícias do texto, o autor Jacques Le Goff, justifica a necessidade e apresenta as premissas que constituem a sua obra como um todo, expondo nos demais capítulos argumentos consistentes e explicativos para embasar teoricamente sua tese "A imagem de Deus numa sociedade depende sem dúvida da natureza e do lugar de quem imagina Deus"p.11.
No que se diz respeito ao introito da obra, Le Goff apresenta ao leitor sua pretensão de esclarecer os fatos que possam proporcionar o entendimento da história de Deus e a sua trajetória. No qual essa premissa abranja a Idade Média, realizando interligações entre a Antiguidade e tal período, afim de compreender a concepção cristã medieval de Deus e as formas de sua representatividade dentre os leigos e os clérigos da época. Ademais, o autor ainda afirma que a concepção e o entendimento de Deus alternou-se ao longo dos contextos pelos quais se encontrava.
Desmembrando suas ideias de forma congruente, Le Goff exprime no primeiro capítulo a existência de Deus na Antiguidade Tardia, no qual representa o momento de ascensão do Deus monoteísta cristão, do status de perseguido para o de oficial, no Império Romano. Esse fato é decorrente do grande número de adeptos ao cristianismo, dos quais eram atraídos pelas promessas cristãs de salvação corporal e espiritual. O termo “salvação” seduziu até mesmo Constantino, que deparando com o declínio de seu império se converte ao Deus cristão e acaba emitindo o edito de Milão, oficializando e estatizando a sua nova religião, com o intuito de impedir a ruína romana.
Em mesma partida, a disseminação do cristianismo no Império se fomenta graças a inexistência de concorrentes a Deus, em razão do monoteísmo ter sido emplacado como oficial. Contudo, outro fator inerente é a substituição dos ídolos pagãos pelos Santos e Anjos reconhecidos pela Igreja, no qual constituem a grande comunidade celeste cristã, regida por Deus. Todavia, Le Goff salienta que a existência de outras divindades em meio as concepções do cristianismo – incluindo a existência da Santíssima Trindade, não caracteriza o mesmo como algo pagão, isso pelo fato de Deus estar acima de qualquer outra divindade criada por Ele mesmo, ou seja, havendo uma hierarquia não existente no paganismo.
Posteriormente, no segundo capítulo, Le Goff esclarece que no século XIII havia uma necessidade dentre os clérigos e teólogos para designar a função e a posição do Espírito Santo na religião e vida dos fiéis. Para que houvesse o suprimento dessa precisão, foram criados os dons do Espírito Santo e o mesmo foi introduzido em todas as coisas e no cotidiano das pessoas. Exemplificando, o Espírito era proveniente de Deus, e como estava presente em todas as atividades realizadas pelo homem, tudo era realizado por benevolência de Deus, incluindo até mesmo as ciências. Dessa forma, foi nesse período que houve grandes avanços na ciência, em razão de acreditarem que tudo que fosse criado era a partir da iniciativa de Deus.
Contudo, nesse mesmo contexto histórico, homens e mulheres começam a passar por dificuldades - provenientes do período social turbulento no qual estão inseridos, com isso a extensão da divindade se torna necessária. Todavia, Deus não perde sua soberania total, Ele apenas delega seus tais poderes para a sua criação, concebendo outras divindades. Tanto se faz pelo Espírito Santo e os Santos, mas também pela concessão da divindade da Virgem Maria. Em preceito ao abordado nessa parte, o autor salienta mais uma vez que a divindade monoteísta cristã – Deus, modificou-se por intercessão das necessidades e angústias que foram surgindo na sociedade.
Sucessivamente, no capítulo terceiro, em “A sociedade medieval e Deus”, é explanado a consolidação da Igreja, desde a Antiguidade Tardia – passando pelo declínio e o fim do Império Romano, até a Idade Média – se efetivando em meio ao sistema feudal. Este último citado ainda de maior importância, pelo fato da existência de uma hierarquia no qual a Igreja Cristã ocupava o topo, não apenas isso, Deus era a essência e toda a molduragem da constituição da sociedade feudal, ocupando o posto de senhor dos senhores feudais – daí a denominação Senhor Deus. Le Goff resume esse seu pensamento exposto, desta forma: “O regime feudal e a Igreja eram de tal forma ligados que não era possível destruir um sem pelo menos abalar o outro."p.83, no qual considerado verdade, já que todas as instituições e a vida de todas as pessoas se fundamentavam na existência de Deus e nos dogmas da Igreja.
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