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Resenha - Resistência Escrava

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Por:   •  19/10/2013  •  505 Palavras (3 Páginas)  •  525 Visualizações

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SLENNES, Robert. Na senzala, uma flor: esperanças e recordações da família escrava – Brasil, Sudeste, século XIX. Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 2000.

No sudeste brasileiro a maioria dos escravos eram utilizados eram utilizados pelos grandes latifundiários no cultivo de um único produto, monoculturas. O escravo era considerado uma “coisa” que era comprada e vendida, uma mercadoria simplesmente, e tinha apenas a única e imediata opção de fugir ou se revoltar, reagindo à opressão e a violência dos senhores que sofria. Essas relações não podem ser olhadas de maneiras simplistas e uniformes em todo o território brasileiro, mesmo o escravo sendo na mentalidade da época e juridicamente reduzido a objeto de compra e venda e a violência ser um artifício legítimo e declarado de manutenção da ordem, a resistência do negro extrapolou os limites desse conceito de revoltas e insurreições contra o senhor. A obra do historiador Robert Slennes é uma grande referência para entender como o negro resistiu à opressão que sofreu durante esse período. Também é uma contraposição ao relato de um viajante francês Charles Ribeyrolles que afirmou que os escravos eram indivíduos mergulhados num mundo de sofrimento, promiscuidade e “bestialidade”, sem condições de constituir uma família, sendo assim viviam em “ninhadas” sem nenhuma perspectiva do passado e futuro. “Nos cubículos dos negros, jamais vi uma flor: é que lá não existem esperanças nem recordações”. A permanência dessas visões parciais e limitadas sobre as condições de vida dos escravos vigoraram no meio acadêmico até a década de setenta e oitenta.

Slennes através da análise de fontes primárias, como registros de batismos e casamentos, matriculas de escravos, e inventários post-mortem apontam a existência de uniões estáveis envolvendo a maior parte significativa da população escrava permitindo assim a construção de uma identidade própria, antagônica aos interesses senhoriais, a partir da valorização das tradições africanas. A maioria dos escravos, no século XIX, eram trazidos da região oeste da África, da etnia bantu, para o Sudeste. Segundo suas tradições, linhagens familiares estruturavam-se a partir de um ancestral comum, não estando diretamente subordinadas ao lugar de origem. Apesar de possuírem religiões diferentes, eles traziam valores em comum o que aumentava laços de fraternidade entre eles, favorecendo, assim, a construção de uma família e de uma identidade.

As senzalas, moradias dos escravos, eram arquitetonicamente à prova de fugas e ao mesmo tempo reconstituíam os padrões das aldeias africanas. A ausência de janelas era um exemplo. O escravo podia construir seus próprios cômodos somente com a permissão do senhor, isso para sentir um pouco mais de “liberdade”.

A resistência escrava pode ser identificada na medida em que eram construídas essas redes de solidariedade e de identidade entre escravos, amplamente associadas a suas tradições e cultura. Movimentos ou revoltas devem ser vistos, em última instância, como resultados desse processo, uma vez que nunca são meramente “reativos” ou inconseqüentes, movidos apenas pela fome ou pela opressão. São resultados de uma reflexão e interpretação sobre sua condição, o que esteve presente no sudeste do Brasil e, com outras configurações, nas demais regiões onde existia escravidão.

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