Resenha: A Educação da criança Escrava
Por: Frederico Testa • 6/5/2015 • Resenha • 1.415 Palavras (6 Páginas) • 328 Visualizações
Resenha
Frederico Dorvilho Testa
FONSECA,Marcus Vinicius. A Educação da Criança Escrava nos Quadros da Escravidão do Escritor Joaquim Manoel de Macedo, Educação e Realidade, Porto Alegre, v 36, n.1, p, 231-251, jan./abr.,2011.
O artigo do pesquisador Marcus Vinícius da Fonseca, publicado na revista de grande expressão no meio acadêmico – Educação e Realidade, na categoria A1, é um excelente objeto de estudo para compreender melhor, a situação do processo de abolição da escravidão no Brasil do século XIX. O artigo busca de maneira coesa, a partir de obras como: A Escravidão no Brasil do jurista, político e historiador Perdigão Malheiros; A Lei do Ventre Livre, de 1871 e do livro Vítimas-algozes: quadros da escravidão da qual o autor analisa, tendo como objetivo, entender melhor a formação dos escravos quanto à educação.
O autor dividiu o texto em segmentos, começando pela introdução do contexto geral sobre a abolição da escravatura, passando em seguida para analise do livro Vítimas-algozes: quadros da escravidão cujo texto é dividido em três partes: Os Cativos como Vítimas e Algozes da Ordem Social Construída pelo Escravismo; Simeão – O Crioulo: os espaços e os sujeitos envolvidos na educação das crianças escravizadas e Lucinda - a mucama: os tempos e os conteúdos da educação das crianças escravizadas.
A parte introdutória é determinada pelo contexto histórico e político da época. Como em todas as medidas políticas, a abolição da escravidão não poderia ser diferente, foi um processo lento, marcado pelos interesses econômicos dos escravistas. Fonseca nos traz no início de seu trabalho, o processo gradativo que culminou na Lei do Ventre Livre. O processo teve início com a ordem do imperador D. Pedro II ao parlamento, pedindo que o mesmo tratasse da questão da escravidão. No mesmo ano o livro A Escravidão no Brasil de Perdigão Malheiros, é publicado tratando dos aspectos jurídicos da escravidão e buscando implementar a emancipação dos escravos o que mais viria a se tornas a Lei do Ventre Livre. Para Perdigão, a escravidão deveria ser gradativa, sem prejudicar os meios de produção da agricultura do qual era a principal atividade econômica do Império. Malheiros foi também o primeiro a tentar estabelecer uma conexão entre a abolição da escravidão e educação, questionando que a formação dos nascidos em cativeiros tivesse uma educação diferenciada da que ocorria de fato no interior da escravidão e condizentes com o processo de liberdade a que passariam a desfrutar. Assim, começou o debate sobre como deveria ser a formação dos cativos surgindo questionamentos como – Quem deveria lecionar para os filhos dos escravos? Juntamente a essas indagações, veio o discurso da oposição que tentava a todo custo manter a escravidão não país, um de seus aliados era o escritor José de Alencar, um dos mais radicais adversários da Lei do Ventre Livre.
E como libertar o cativo antes de educa-lo? Não senhores: é preciso esclarecer a inteligência embotada elevar a consciência humilhada para que um dia, no momento de conceder-lhe a liberdade, possamos dizer: - vós sois homens, sois cidadãos. Nós vos remimos não só do cativeiro, como da ignorância, do vício, da miséria, da animalidade, em que jazeis! ( Brasil, 1871, p. 27).
Continuando ainda na parte introdutória do artigo, FONSECA apontada outro questionamento de extrema importância para o contexto da época: - Com quem deveria ficar a criança nascida de mulheres escravas? Dessa forma, surgem duas possibilidades controversas: o cativo poderia ser criado pelo senhor, permanecendo explorado ou poderia ficar com o Estado cuja intenção era submeter o cativo a um modelo educacional voltado para discipliná-lo para o mundo do trabalho. O livro de Perdigão Malheiros trata de uma abordagem cujo objetivo era defender a emancipação das crianças nascidas de mulheres escravas, visando utilizar a educação para projetar um lugar social para os indivíduos originários do cativeiro na sociedade livre que se pretendia construir. Em contraponto a esse objetivo, surge a obra literária As Vítimas-Algozes: quadros da escravidão do escritor Joaquim Manoel de Macedo da qual tinha o foco de suas argumentações a sociedade escravista e o peso desta instituição na qualidade das relações travadas no interior da sociedade brasileira.
Mauricio Vinicius da continuidade em seu artigo, começando pela justificação da dificuldade de encontrar fontes documentadas sobre ás crianças escravas, sendo assim, os vestígios para os estudos das crianças escravas foram retirados através de testemunhos indiretos de viajantes, pintores, cronistas e escritores. Diante dessa perspectiva, torna-se ainda mais raro encontrar registros sobre as formas de educação dos cativos. Dessa forma o autor do artigo conclui com a seguinte fala: “Portanto, dentro do quadro geral de dificuldades relativas aos estudos sobre a educação de crianças escravas, o texto literário construído por Joaquim Manoel de Macedo adquire um importante significado. [...] procura construir representações dos diferentes processos de formação dos escravos, estabelecendo, inclusive, distinções de gênero que revelam a especificidade da educação de meninos e meninas nascidos no interior do cativeiro”. Macedo busca com a publicação do livro, convencer os senhores quanto à libertação das crianças nascidas de mulheres escravas, na tentativa de fazer com que os mesmos reconhecessem que estariam eliminando um problema que poderia os afetar, já que os escravos eram vítimas da escravidão, mas também eram algozes de seus senhores. É através da ótica de que os escravos poderiam se torna mais violentos e desumanos devido às atrocidades da escravidão que emergem os personagens que compõe a história da obra vítimas- algozes e os quadros da escravidão.
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