TECENDO PODERES: O USO DO JORNAL “A IMPRENSA” COMO CAMPO DE ENFRENTAMENTO E PROPAGANDA IDEOLÓGICA NA PARAÍBA (1930 -1937)

TECENDO PODERES: O USO DO JORNAL “A IMPRENSA” COMO CAMPO DE ENFRENTAMENTO E PROPAGANDA IDEOLÓGICA NA PARAÍBA (1930 -1937)

Bruna Cristina Lima Nascimento^[1]

Resumo: Um novo cenário político se instaurava no Brasil a partir do final do século XIX, com o advento da República. Nesse artigo, objetivamos problematizar como a Igreja Católica Apostólica Romana no Estado da Paraíba, enfrentou um de seus maiores desafios o Estado Laico. Ao longo dessas linhas perceberemos a influência do jornal “A Imprensa” órgão de projeção que marcou época, trazendo em suas páginas artigos que debatia os novos rumos da política nacional, sempre com opiniões apoiadas pelo discurso do catolicismo local e nacional. Partimos do pressuposto de que a imprensa é uma fonte rica documental, para o estudo e escrita da história, dessa maneira discutimos como o jornal “A Imprensa” influenciou a opinião pública da sociedade paraibana em favor da propaganda ideológica do catolicismo.

Palavras-chave: República; Jornal A Imprensa; Catolicismo paraibano.

WEAVING POWERS: THE USE OF THE NEWSPAPER "THE PRESS" AS A FIELD OF COUNSELING AND IDEOLOGICAL PROPAGANDA IN PARAÍBA (1930-1937)

Abstract: A new political scenario was established in Brazil from the end of the 19th century, with the advent of the Republic. In this article, we aim to problematize how the Roman Catholic Apostolic Church in the State of Paraíba faced one of its greatest challenges the Lay State. Along these lines we will notice the influence of the newspaper "The Press" projection agency that marked the epoch, bringing in its pages articles that debated the new directions of national politics, always with opinions supported by the discourse of local and national Catholicism. We start with the assumption that the press is a rich documentary source for the study and writing of history, in this way we discuss how the newspaper "The Press" influenced the public opinion of the Paraíban society in favor of the ideological propaganda of Catholicism.

Keywords: Republic; Newspaper The Press; Catholicism in Paraíba.

A partir de 1930 percebemos mudanças significativas no contexto político brasileiro, relembrando que a primeira república foi uma fase de proporções para o aspecto social, político e religioso do país. Podemos citar aqui algumas mudanças ocorridas a partir do início da república: a separação formal entre a Igreja e o Estado, a secularização dos cemitérios, que passaram a ser administrados pelos municípios, a instituição do ensino laico (desvinculado da educação religiosa) e do casamento civil.

Houve um processo de descentralização política, consolidado pela Constituição de 1891, de criação de uma federação, sendo que os Estados membros possuíam alto grau de autonomia. No plano eleitoral, foi instituído o voto universal. Nem tão universal assim, já que era só masculino e apenas aos alfabetizados, ou seja, uma minoria da população na época.

Como visto com a chegada da República a Igreja Católica se depara com um dos seus mais relevantes combates no qual ela teria que batalhar, uma vez que estava certa de que a República se aparelhava contra ela. Pois o progresso dominava as camadas cultas do país e os ideais republicanos era propagado com mais intensidade.

Dentre os ideais republicanos que mais causou atordoamento à Igreja foram á secularização e o laicismo que segundo Lustosa,

A constituição de fevereiro de 1891 apresentava, no seu espírito, um texto pouco aceitável para a Igreja em razão do laicismo que a permeia, de ponta a ponta, desde o prólogo (exclusão do nome de Deus) até o artigo 72 com os diversos tópicos de secularização, especialmente no que toca á instituição do ensino leigo nos estabelecimentos públicos. (LUSTOSA, 1991, p.27)

Porquanto a proposta da República consistia em um distanciamento momentâneo entre a Igreja e o Estado, que iriam a partir de então executar suas atribuições dentro de seus próprios domínios.

Para Lustosa (1991), o ano de 1930 marcaria para o catolicismo brasileiro o início do período de vitórias sucessivas, obtidas politicamente, com o apoio do Estado consciente do poder da Igreja. A Igreja saberá aproveitar a conjuntura política para colocar em pauta suas exigências e reivindicações, que serão encaminhadas através de personalidades-líderes do período.

Personagem importante nesse contexto histórico, é o Cardeal Sebastião Leme^[2], grande líder da Restauração Católica, procurando criar uma nova imagem da Igreja Católica, por uma série de iniciativas nos meios sociais. Para o líder religioso somente com a colaboração efetiva da Igreja na política serão mantidos os valores de ordem e autoridade, evitando os avanços de movimentos revolucionários. Como afirma Dias,

Olhando para o Brasil, D. Leme confirmava sua índole católica. Mas a nação católica se lhe apresentava governada por homens que não professavam a mesma fé: as leis e o governo tinham-se afastado dos princípios católicos. O laicismo tinha crescido. Os católicos, na maioria da população, haviam se tornado uma força inerente. (DIAS, 1996, p.53)

O Cardeal Dom Leme mantinha as melhores relações pessoais com Getúlio Vargas, o caudilho que a revolução de 30 trouxe ao poder, formado na política das oligarquias, procurou aliados nos grupos tradicionais e sua longevidade no poder viria a ser o fruto dos acordos entre forças tradicionais e as forças emergentes da classe dominante. Dom Leme conseguiu dele que uma série de medidas favoráveis á Igreja fossem incorporadas á constituição votada em 1934.

O conceito de restauração católica se baseava na retomada do poder da Igreja na política nacional, assim como na restruturação do catolicismo como a religião oficial do país. A compreensão desse conceito é importante para entendemos os desdobramentos socioculturais durante o período pesquisado. Afirma Azzi,

É durante o decênio 1920-1930 que se inicia essa nova etapa da Igreja no Brasil, que pode ser designada como período de Restauração Católica. Duas são as ideias que dominam os lideres do catolicismo: maior presença da Igreja, e colaboração efetiva com o governo...a necessidade de uma maior presença atuante da Igreja na sociedade: o episcopado deseja efetivamente ter um papel de liderança entre o povo brasileiro. (AZZI, 1977, p.63)