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A ANALISE DE CONTO FELIZ ANO NOVO

Por:   •  20/11/2016  •  Trabalho acadêmico  •  992 Palavras (4 Páginas)  •  601 Visualizações

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A análise do conto “Feliz Ano Novo” permite-nos perceber como é diversa a abordagem da violência nas obras fonsequianas, em especial, no conto “Feliz Ano Novo”. Ela apresenta-se no texto sob diversas formas e às vezes é até atenuada pela maneira como o autor escreve, pois em alguns trechos há um limite tênue entre o trágico e o cômico. Noutras mais frequentes, a violência é potencializada. A história dá voz ao elemento marginalizado da sociedade que mostra, por meio da violência, as disparidades sociais da modernidade e leva o leitor a refletir sobre a criminalidade e violência que dominam as grandes cidades e, principalmente, a repensar seus valores. Esta não é uma obra que apenas tem o intuito de entreter o leitor, ela pretende perturbá-lo, chocá-lo para que ele tome algum posicionamento frente à sociedade amoral na qual está inserido. Como Pereira (2000) evidencia, na obra de Fonseca, há uma espécie de convocação do leitor para que o mesmo saia da acomodação à qual está acostumado. No conto, a relação entre mocinhos e bandidos apresenta certa transitividade que é reforçada pelo fato de o enredo ser narrado pelo ponto de vista de um dos marginais e não haver uma apresentação prévia dos personagens, que são conhecidos, pelo leitor, ao longo do desenvolvimento da ação. Dessa maneira, o leitor é levado, inicialmente, a ter pena dos marginais e a vê-los como vítimas, mas depois percebe que existe um sadismo naquilo que os bandidos fazem. E isso acontece porque a visão do marginal é brutalmente exposta ao leitor. No entanto, não é um equívoco dizer que os marginais também são vítimas, vítimas da violência da desigualdade social. São vítimas que oprimem, que usam da violência para conseguir o que não têm porque lhes foi negado pelo sistema, ou seja, os meios dos quais eles se valem para conseguir o que querem são amorais. O amoralismo dos bandidos é chocante na obra. Em nenhum momento eles sentem algum tipo de remorso ou culpa. Quando estão na mansão, por exemplo, agem sem piedade, matam por simples prazer e diversão como se pode constatar quando Pereba mata a mulher simplesmente pelo fato dela não ter cedido à tentativa de estupro dele: “Engrossaram e eu tive que botar respeito. Subi. A gordinha estava na cama, as roupas rasgadas, a língua de fora. Mortinha. Pra que ficou de flozô e não deu logo? O Pereba tava atrasado. Além de fudida, mal paga. (FONSECA, 2012, p.16).” Em outro momento, Zequinha mata um homem a sangue frio só para comprovar a tese de que, pela potência da arma um indivíduo que levasse o tiro ficaria grudado na parede: “Vê como esse vai grudar. Zequinha atirou. O cara voou, os pés saíram do chão, foi bonito, como se ele tivesse dado um salto para trás. Bateu com estrondo na porta e fichou ali grudado.” (FONSECA, 2012, p.18). É perceptível que não há motivos para os crimes serem cometidos e ai é que está a crítica de Rubem Fonseca à banalização da violência e à banalização da própria vida. Para os marginais do conto, a vida do outro não vale nada. Atirar em um inocente, por exemplo, só para poder observar se, ao levar o tiro, ele ficaria grudado na parede de madeira ou não é algo “normal” na perspectiva deles. Mas a violência presente no conto não é apenas física, ela apresenta-se de várias maneiras, podendo ser psicológica (“Se vocês ficarem quietos ninguém se machuca.” (FONSECA, 2012, p.15)); sexual (“[...]ficou quieta, de olhos abertos, olhando para o teto, enquanto era executada no sofá.” (FONSECA, 2012, p.18)) e, social, pois a desigualdade na qual estamos inseridos é, por si só a maior violência, pois é ela que faz germinar os outros tipos de violência, resulta dela a existência de criminalidade. Há ainda a violência em relação ao leitor, que é “bombardeado” pelos acontecimentos ao longo do desenrolar da história. Sobre essa última, Candido (1987) declara que Rubem Fonseca “agride o leitor pela violência, não apenas dos temas, mas dos recursos técnicos – fundindo ser e ato na eficácia de uma fala magistral em primeira pessoa, propondo situações alternativas na sequência da narração, avançando as fronteiras da literatura no rumo de uma espécie de notícia crua da vida (CANDIDO, 1987, p. 211).” É possível perceber uma hostilidade do autor contra o leitor. Tal hostilidade pode ser sentida através da violência discursiva, estilo seco, frases curtas, o entrelaçamento dos discursos, o vocabulário permeado por palavras de baixo calão e vocábulos obscenos. Percebe-se que, em “Feliz Ano Novo”, existe, por parte do autor, uma luta contra o sistema, contra a opressão, pois o conto apresenta uma desconstrução da ordem social sem levantar nenhum tipo de bandeira ideológica. O leitor é quem tem que entender que o texto é uma grande crítica à opressão social; crítica à sociedade que perdeu valores morais. Rubem Fonseca está, propositalmente, convidando o leitor a repensar a desigualdade; é precisoque o leitor pare para pensar o porquê das atitudes desses marginais que agem friamente sem qualquer tipo de remorso ou piedade, questionando assim a brutalidade de um sistema que oprime e exclui os mais fracos. O estudo das obras fonsequianas é importante porque, como bem apresenta Cardoso (s/d), elas contêm “o retrato de uma violência diferenciada das obras literárias escritas, até então, no Brasil. O autor revela os primórdios de uma violência que se pulveriza em nossa sociedade nos dias de hoje, devido ao aumento das contradições sociais, sobretudo nos grandes centros urbanos do Brasil, a partir da década de 70.” Além de apresentar essa nova visão da realidade social, Fonseca leva o leitor de suas obras a pensar criticamente sobre a situação dos oprimidos, a animalização dos indivíduos em uma sociedade altamente consumista, onde o que interessa é o ter, bem como refletir sobre os atos de violência que são muitas vezes erroneamente vistos como parte natural do sistema e da natureza humana, configurandose, cada vez mais, como um evento banal.

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